quarta-feira, 18 de março de 2020

Racismo contra os pobres


Hoje, no Parlamento, o deputado tido como sendo da extrema-direita teve a brilhante capacidade de, em menos, dois minutos se contradizer.

Gritou que o Governo português demorou a fechar fronteiras e a proteger a sua população do vírus que veio de fora. "Sim, eram preciso fronteiras, eram precisas medidas que tivessem acautelado que não chegaríamos aqui hoje". E teve razão. Mas logo a seguir gritou ainda mais virulento que era inadmissível que outros países - atrasados - fechassem fronteiras. "Não podemos estar ajoelhados aos outros países e não podemos ter países do Terceiro Mundo a fecharem-nos as fronteiras,  a dizer que vão dificultar o regresso dos nossos nacionais e nós agirmos como se nada fosse. É tempo de ser Portugal e Portugal não envergonha os seus cidadãos!".

A soberba racista e egoísta virada contra os pobres do Mundo é incomensuravelmente desmesurada quando nos apercebemos pelo gráfico que - até ao momento - os ditos países do Terceiro Mundo (África, América Latina por exemplo) são aquelas que mal foram beliscadas pelo vírus e que tudo tinham a beneficiar desse fecho de fronteiras. Mas nem isso os vai proteger, porque o vírus já lá chegou e esses países arriscam-se a ser - pela ausências de estruturas - as zonas do planeta com maiores percentagens da população atingida.

Até hoje havia 584 casos em África contra 93 mil na Ásia, 83,9 mil na Europa, cerca de 19,7 mil no Médio Oriente, cerca de 8,2 mil na América do Norte e 596 na Oceania.

E isso deveria merecer dos países mais ricos um olhar solidário, antes que daqui a duas semanas os vejamos a morrer em multidão. 

4 comentários:

Jose disse...

Uma forte contradição, esta de não querer que um seu familiar seja tratado ao 19 no Mali!
Racista, segurament!

Jaime Santos disse...

Vamos lá a ver se eu percebo... O Governo Português deveria ter fechado as fronteiras e recusado a entrada no território nacional a todos os estrangeiros e colocado os cidadãos portugueses que regressavam ao País (que foram quem involuntariamente trouxe o vírus, pelos vistos) de quarentena obrigatória?

Todos eles, presumo, já que muito provavelmente não existia ainda capacidade de os testar a todos, e mesmo que existisse, os testes não são infalíveis...

É isto que pretendem dizer os nacionalistas de Esquerda e de Direita, não é?

Cabe aliás lembrar que muitos emigrantes regressam ainda de diversos países na Europa dispensados pelos seus patrões em face da crise sanitária. Podem perfeitamente trazer com eles o vírus desses locais...

Seja ao menos honesto e defenda que estas pessoas devem ser todas mandadas para centros de detenção durante duas semanas... Vale lá, não custa nada...

Esqueça, João Ramos de Almeida, nenhum País se pode aferrolhar a sete chaves. Nenhum País decente, quer dizer... E mesmo os que não o eram não conseguiram, vide a pandemia de 1957...

Anónimo disse...

Qual detenção qual carapuça! A sua fixação anti-goulag é completamente despropositada e estúpida neste contexto.

Nesta altura do campeonato o Sr Jaime Santos já deveria ter percebido os fundamentos da contenção de uma epidemia altamente contagiosa como esta. E não diga que os chineses não preveniram das caracteristicas do virus porque depois de terem aprendido por dura experiência as autoridades chinesas foram exemplares na divulgação dos dados que foram obtendo.

Parece-me óbvio que sendo uma das condições de contenção da pandemia a quarentena, todas as deslocações devem ser reduzidas ao mínimo possível. Logo, os portugueses deveriam ter ficado onde estavam e ser assistidos pelas autoridades do pais onde se encontravam. Não é para isso que servem os tratados?

Mas, havendo deslocação, as autoridades sanitárias portuguesas deveriam ter fornecido equipamento de protecção à entrada e começado a monitorizar para onde iam e com quem contactavam esses emigrantes para sua própria protecção e dos seus familiares e amigos. Controles de temperatura também ajudam a detectar casos de sintomatologia mais leve ou no início do ciclo de infecção.

Na idade média a peste progredia em vagas que seguiam as deslocações dos infectados. Neste mundo globalizado em que as deslocações são fáceis, baratas e longas ou aprendemos a controlar pandemias como esta ou teremos mais tarde ou mais cedo problemas ainda mais graves do que este.

Como diz Nassim Taleb:

"Il y a bientôt treize ans, quand j’ai écrit « Le Cygne noir », j’ai constaté que la fin de l’isolement et l’explosion des canaux d’information entrainent une concentration de la richesse et du pouvoir. Cette absence d’isolement est effrayante dans le cas des maladies transmissibles, parce qu’elles peuvent se diffuser beaucoup plus rapidement. Mais l’incertitude liée à la virulence d’une épidémie majeure permet de prendre plus facilement les décisions qui s’imposent, paradoxalement. Etre alarmé par le risque de pandémie n’est pas problématique !"

E prossegue:

"J’ai coécrit un article, avec Joseph Norman et Yaneer BarYam, à la demande d’un responsable de la Maison Blanche, pour expliquer la chose suivante : Les médecins sont très bons pour comprendre à l’échelle d’un individu ou d’un petit groupe, mais ne comprennent pas ce qui se passe à l’échelle d’un grand groupe. Nous avons donc préconisé de mettre une quarantaine pour les personnes ayant voyagé en Chine dans les quatorze jours précédents. Ce qu’ils ont fait quelques heures après avoir lu l’article ! Au moment où nous l’avons écrit, le 26 janvier dernier, il y avait mille cas confirmés officiellement ; à l’heure où j vous parle, trois semaines plus tard, le chiffre est officiellement de 64000; Il ne faut jamais sous-estimer les effets multiplicatifs : et surtout, il faut éviter les comparaisons bidon en déclarant, par exemple, que plus de gens sont morts dans des accidents d’auto. Les accidents d’auto ne sont pas multiplicatifs."

Todo o artigo aqui:

https://www.les-crises.fr/nassim-nicholas-taleb-sans-paranoia-pas-de-survie/

Figueiredo disse...

E aqui temos outro caso de racismo, desta vez contra portugueses de etnia Cigana por parte do regime de Espanha:

- La policía escolta hasta Portugal a una caravana de nómadas que intentaba acampar en Badajoz
https://www.hoy.es/badajoz/policia-escolta-portugal-20200318194402-nt.html