Na semana passada os índices bolsistas caíram a pique, devido à incerteza sobre os impactos da crise sanitária e sobre a respostas das autoridades. Em ocasiões destas é de esperar que os investidores fujam para activos mais seguros, como os títulos do tesouro americano ou alemães. No entanto, as taxas de juro destes títulos também subiram (ainda que não tanto como a dos países do sul da zona euro, por exemplo), o que significa que os investidores estavam a tentar ver-se livres desses títulos também. Como explicá-lo?
A questão é suscitada por Gillian Tett no Financial Times de hoje. Uma das sugestões avançadas é inquietante. Muitos investidores institucionais (e.g., fundos de pensões) têm estado a gerir as suas carteiras com muito pouca margem de segurança. Num momento em que os preços estão a cair, precisam de vender mais activos para cumprir os seus compromissos (e.g., pagar as pensões que devem). Por isso, vêem-se forçados a vender títulos que são relativamente seguros a preço de desconto.
Esta história diz-nos duas coisas. Primeiro, confirma as intuições de Keynes sobre os efeitos do pânico na fuga para a liquidez, validando a importância de uma intervenção atempada dos bancos centrais. Segundo, sugere que todas as promessas de regulação e supervisão apertada dos mercados financeiros servem de pouco em alturas de crise aguda. E não vale a pena continuar a dizer que estas coisas só acontecem uma vez em cada século. Mesmo em tempos "normais" a rédea dos mercados financeiros precisa de ser muito mais apertada.
A questão é suscitada por Gillian Tett no Financial Times de hoje. Uma das sugestões avançadas é inquietante. Muitos investidores institucionais (e.g., fundos de pensões) têm estado a gerir as suas carteiras com muito pouca margem de segurança. Num momento em que os preços estão a cair, precisam de vender mais activos para cumprir os seus compromissos (e.g., pagar as pensões que devem). Por isso, vêem-se forçados a vender títulos que são relativamente seguros a preço de desconto.
Esta história diz-nos duas coisas. Primeiro, confirma as intuições de Keynes sobre os efeitos do pânico na fuga para a liquidez, validando a importância de uma intervenção atempada dos bancos centrais. Segundo, sugere que todas as promessas de regulação e supervisão apertada dos mercados financeiros servem de pouco em alturas de crise aguda. E não vale a pena continuar a dizer que estas coisas só acontecem uma vez em cada século. Mesmo em tempos "normais" a rédea dos mercados financeiros precisa de ser muito mais apertada.
4 comentários:
Eu acho que antes que o Ricardo e outros digam que precisamos de mais regulamentação, Ricardo e outros deviam responder a estas perguntas:
Porque razão temos nós mercados financeiros?
O que a sociedade ganha com os mercados financeiros (porque parece que tem perdido bastante...)?
São os mercados financeiros necessários para a actividade económica que realmente interessa, a actividade económica com a qual a população em geral progride?
Precisamos nós que a Goldman Sachs exista?
Sem dogmas, eu gostava mesmo que respondessem a estas questões, e acho que a larga maioria da população que não participa nos mercados financeiros precisa de ver questões deste teor esclarecidas!
A regulação é responsabilidade e tarefa de políticos.
Enquanto a política - toda ela, da esquerda à direita - se fundar em índices de crescimento, venham eles de onde vieram, a regulação será um entrave a evitar, salvo desastres confirmados, e a contragosto.
Nem o desastre ecológico e a crescente mobilização que dele resulta, afectou seriamente o discurso político do 'tudo a todos'.
Se os "investimentos", (ou seria melhor chamar-lhes o nome correcto = especulação) são muito alavancados sob a forma de derivados, as recentes quedas em bolsa têm efeitos multiplicadores que passam despercebidos. Só quando os fundos reportarem as perdas se vai perceber a extensão do capital incinerado. A valorização do dólar parece significar uma preferência mundial por liquidez fácilmente transmissível por meios electrónicos.
Excertos de blogpost de Jonathan Cook:
"Such leaders will claim they are powerless to intervene or to ameliorate the crisis. Confronted with the contradictions inherent in their worldview, they will suddenly become fatalists, abandoning their belief in the efficacy and righteousness of the free market. They will say the virus was too contagious to contain, too robust for health services to cope, too lethal to save lives. They will evade all blame for the decades of health cuts and privatisations that made those services inefficient, inadequate, cumbersome and inflexible."
...//...
"Those who defend our system, even as its internal logic collapses in the face of coronavirus and a climate emergency, will tell us how lucky we are to live in free societies where some – Amazon executives, home delivery services, pharmacies, toilet-paper manufacturers – can still make a quick buck from our panic and fear. As long as someone is exploiting us, as long as someone is growing fat and rich, we will be told the system works – and works better than anything else imaginable."
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"This lesson is not about authoritarian versus “free” societies. This is about societies that treasure the common wealth, that value the common good, above private greed and profit, above protecting the privileges of a wealth-elite."
https://www.jonathan-cook.net/blog/2020-03-17/lesson-coronavirus-teach-world/
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