quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Edwards II

Fiquei impressionado com a lista de economistas apoiantes de John Edwards nas primárias norte-americanas. No entanto, não é surpreendente. Dos três principais candidatos democratas, Edwards é, sem dúvida, o mais progressista. Deixo três bons motivos para o preferir face a Obama e Clinton:

1- Edwards é o único candidato a apresentar um plano para erradicar a pobreza nos Estados Unidos. Aumentos substanciais do salário mínimo federal e uma legislação laboral mais protectora dos direitos dos trabalhadores fazem parte do pacote.

2- Edwards é, de longe, o candidato com o mais claro calendário de retirada de tropas do Iraque: nove a dez meses, incluindo os famosos "instrutores" que Clinton e Obama querem manter.

3- Edwards apresenta um programa para a saúde que garante cobertura universal. Ao contrário da proposta de Obama, a protecção é obrigatória para todos.



As primárias democratas são o período onde o discurso político do partido mais se inclina para a esquerda. Contudo, ou por isso mesmo, não tenhamos ilusões. O exemplo de Howard Dean, em 2004, mostrou como campanhas bem financiadas conseguem derrotar prometedoras mobilizações populares. Soma-se a isto uma completa pulverização e desorientação da esquerda norte-americana, dentro e fora do partido democrata, como o recente apoio de Kucinich (o mais "esquerdista" dos candidatos democratas) a Obama, no Iowa, bem ilustra. Assim, se olharmos para o programa da provável candidata democrata (Hillary Clinton) encontraremos pouco mais do que o Clintonomics dos anos noventa. Um período marcado pelo desmantelamento do frágil Estado Social norte-americano e pela liberalização financeira cujas trágicas consequências todos sentimos hoje.

6 comentários:

A. Cabral disse...

Isto e' a Rainbow Coalition take two. Sao a nata da heterodoxia economica, nao falta la ninguem das feministas radicais aos pos-keynesianos...

L. Rodrigues disse...

Edwards seria provavelmente melhor presidente para os americanos. TEnho um amigo que prefere um dos outros dois, na falta de um presidente republicano. O racional dele é que aceleraria a queda do império.
Já estive mais longe de pensar o mesmo...

Anónimo disse...

Só por uma questão de rigôr na linguagem, gostava de perceber o que é que o impressionou nesta lista de economistas?

Obrigado. F

Nuno Teles disse...

Caro F.,

As razões estão são as apontadas pelo a.cabral no comentário acima. As diferentes heterodoxias estão representadas nesta lista com alguns dos seus nomes mais sonantes. Desde os pós-keynesianos Paul Davidson, Jan Kregel e Randall Wray aos economistas políticos que cruzam keynes com marx como o Bob Pollin ou o Martin Wolfson (pouco conhecido, tem um livro fabuloso sobre crises financeiras).

Já agora, talvez a.cabral nos possa iluminar sobre o que aconteceu durante a rainbow coalition de Jesse Jackson.

Anónimo disse...

Caro N Teles,

É sem dúvida uma lista que impressiona. Pelo que chama de “hetero-doxia”. Que à medida que a idade avança, é uma palavra cujo significado mais se desfaz. Porque a memória acumulada só serve para deitar abaixo as fronteiras da “orto-doxia”.

Por isso, esta lista não me impressiona. Deixa-me antes curioso. Porque gostaria de ver Dee McCloskey na mesma mesa com Paul Davidson ou Jan Kregel. Gostaria de ver Gerry Epstein na mesma mesa com Jim Galbraith. Gostaria de ver Manuel Castells na mesma mesa com Ed Wolff. Gostaria de ver um fundador do Cato Institute (e colaborador da Heritage Foundation) a falar sobre as virtudes iner-entes do mercado com um pós-fabiano. Gostaria de ver o ex-economista chefe do Congressional Budget Office a justificar a posição que tomou aquando duma audição em que o outro era testemunha. Gostaria de ver o sociólogo da comunicação a falar com o homem que se vê como o último reduto da revolução tecnológica.

Mas aí está. Espero que se tenham juntado todos para assinar a petição. Deve ter sido engraçado. Tenho só pena de não ter estado lá. Para os rever. Porque nestas coisas só falo dos que são amigos.

Caro N Teles, a diferença de idades impressiona-nos com coisas diferentes. Eu só tinha curiosidade em saber o que o tinha impressionado.

Obrigado. F

Anónimo disse...

"Desde os pós-keynesianos Paul Davidson, Jan Kregel e Randall Wray aos economistas políticos que cruzam keynes com marx como o Bob Pollin ou o Martin Wolfson (pouco conhecido, tem um livro fabuloso sobre crises financeiras)."fdx...q masturbação mental...