quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

O mercado faz mesmo mal à saúde

Pelo Margens de Erro tomei conhecimento deste estudo que traduz bem os custos de um sistema privado de saúde. A liberal The Economist, sempre tão confiante na bondade do mercado, apresenta-o esta semana com inusitada circunspecção. Os EUA gastam mais em cuidados de saúde (em % do PIB) do que qualquer outro país. E são, entre os países ricos, aquele onde as «mortes evitáveis» entre os homens menos caíram entre 1997 e 2003. Se a sua performance estivesse alinhada com a média ter-se-iam evitado 75000 mortes por ano. As consequências nefastas da extensão do mercado a todas as esferas da vida social não têm preço.

14 comentários:

Pedro Sá disse...

Concordo na substância, embora discorde da formulação da última frase. Porque mercado existe mesmo existindo um serviço público de cobertura universal.

Tiago Tavares disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tiago Tavares disse...

Esses resultados já circulam na internet há já algum tempo, tendo surgido imediatas dúvidas sobre a validade de um estudo que mede um conceito tão subjectivo como mortes potencialmente evitáveis.

No entanto a leitura do estudo em causa deverá elucidar quando à qualidade da metodologia deste. UM LIXO! As conclusões empíricas desse estudo esquecem toda a epidemiologia, econometria ou estatística. Desde harmonização de indicadores ou correcção de factores ambientais, este estudo falha em tudo.

Claramente um bom exemplo de como se pode mentir com números como ilustrado num artigo recente do vosso blog. Mas acima de tudo este é um exemplo de como se pode ser deixado enganado pelos números seja acreditando em tudo o que se lê (desde que se tenha um selo estudo em cima estilo as experiências de Milgram), seja por cegueira ideológica.

Os senhores da The Economist estiveram francamente mal por nem terem lido o estudo ou sequer a discussão na rede. Leiam as cartas dos próximos números dessa revista.

Rui Curado Silva disse...

Caro João,

O Jeremy Rifkin explica este resultado pelo facto de mais de 40 milhões de americanos estarem fora do sistema de saúde, sem qualquer acesso à saúde preventiva. Comparativamente, o recurso à saúde preventiva é muito menor nos EUA, encarecendo os custos, visto que só se recorre ao médico quando a doença está em estado avançado. O que explica os números da mortalidade e dos custos.

Anónimo disse...

Se as mortes inevitaveis estao relacionadas com a extensao do mercado, qual foi a extensao do mercado para aqueles mesmos paises?

João Rodrigues disse...

A questão é qual a sua extensão e papel Pedro Sá. Quando existe um serviço público de cobertura universal o mercado tenderá a atrofiar. E ainda bem.

Pois circularam na net Tiago Tavares. E depois? Se bem entendo o seu uso da palavra subjectivo, existe algum conceito que não o seja? A questão é se a medida capta algo de interessante ou não. Eu acho que capta. O estudo é claro. É essa a sua virtude. Quer introduzir factores adicionais. Força. Duvido que mude alguma coisa. Cegueira ideológica? De quem? Só se for dos que não conseguem reconhecer os resultados desastrosos do capitalismo na área da saúde.

Faz sentido Rui. Qual é o livro do Rifkin?

Os EUA são o único país rico que tem um sistem em que a provisão capitalista é preponderante. Por isso é que o estudo é tão interessante neste aspecto.

João Rodrigues disse...

Mais números num excelente blogue de economia:

http://econospeak.blogspot.com/2008/01/us-wasting-money-on-health-care.html

Anónimo disse...

João,

Não tenho direito a uma satisfação tua?

Pedro Sá disse...

João, para dizer isso parte do princípio que o serviço público de cobertura universal está fora do mercado, quando não está.

Embora de acesso muito mais fácil, o que é um facto é que existe a possibilidade de escolha para a prestação de bens. Logo, há mercado.

Rui Curado Silva disse...

O livro é "O Sonho Europeu", onde ele compara os EUA com a UE. Dedica um capítulo só às questões de seg. social e qualidade de vida.

Tiago Tavares disse...

Caro João Rodrigues:

Continua a notar-se que nem passou os olhos no suposto artigo. Mas nem por isso deixa de tirar conclusões sobre o mesmo.

Não faz mal que eu li o estudo por si comentando as falhas deste. Desafio-o a ler as minhas observações em

http://mercadodelimoes.blogspot.com/2008/01/ser-enganado-pelos-nmeros-sade-nos-eua.html

E depois de ler as minhas observações ficava bem corrigir os comentários que fez (ou pelo menos utilizar o pretenso estudo como suporte para as suas observações).

Para bem da imparcialidade que deve pautar a Estatística.

João Rodrigues disse...

Caro Carmélio,
Desculpe, mas estava a pensar na sua observação quando escrevi: «Os EUA são o único país rico que tem um sistem em que a provisão capitalista é preponderante. Por isso é que o estudo é tão interessante neste aspecto».

Obrigado pela referência Rui.

Caro Tiago Tavares,
Vejo que as suas preferências políticas toldam a sua análise da relação entre doença e ambiente. É um fartote de asserções não comprovadas, de casos selectivamente escolhidos para toldar o essencial: a performance dos EUA é a pior de um conjunto de países. Além disso exibe uma visão estreita do que é um sistema de saúde (papel da medicina preventiva). E vejo que tem também um curso de medicina. Haja seriedade. E essa da estatistica imparcial só se for para rir. De qualquer forma vejo que está bem suportado pelos blogues de direita que insistem em «desmascarar» todos os estudos que vão mostrando os problemas do sistema norte-americano...
Eu prefiro confiar nos dados das nações unidas.

Tiago Tavares disse...

A medicina preventiva engloba factores que estão dentro da esfera do sistema de saúde de um país (contribuições públicas e privadas) por exemplo subsidiação de medicamentos que implicará um maior consumo destes e redução de taxas de mortalidade. Mas a prevenção da mortalidade também pode ser imputada por outros factores como por exemplo educação em hábitos saudáveis da população, qualidade do ar das cidades, etc. Os autores do estudo não captam esta diferença quando medem a mortalidade logo não podem fazer inferências sobre a qualidade dos sistemas de saúde nacionais (como alias está bem explícito no meu artigo sobre o assunto).

É livre de se rir se lhe dizem que a estatística deve ser imparcial. Para mim esta é uma disciplina centenária onde muitos indivíduos brilhantes dedicaram toda a sua vida a estudar a sua metodologia. Esta não deve ser subjugada sob critérios parciais. A estatística é caracterizada no entanto por incerteza (talvez tenha feito aqui a confusão com parcialidade).

E vejo mais uma vez que os seus argumentos são como o referido estudo. Desprovidos de conteúdo. Acrescentam no entanto atribuições estereotipadas que em nada contribuem para a discussão (nem sou de direita nem de esquerda), ou sarcasmos desnecessários (não preciso de nenhum curso de medicina para identificar incoerências estatísticas).

Para terminar não me interessa sinceramente se um blog é de esquerda ou de direita. Ideologia para mim é um desperdício de tempo que seriamente condiciona a racionalidade e acima de tudo a livre consciência de cada um. Interessam-me muito mais blogs de ciência económica.

Quando quiser podemos discutir os índices de desenvolvimento e pobreza das ONU (que eu considero bons mas que não medem a qualidade de um sistema de saúde). E noutra altura noutro blog argumentarei porque é que considero o sistema de saúde norte-americano pouco eficiente e porque é que considero que os serviços de saúde devem ser providenciados na sua maior parte pelo Estado. Uma coisa é certa: não utilizarei este estudo para fundamentar os meus argumentos.

com consideração,
Tiago Tavares

Anónimo disse...

Entendo que esses estudos sao sobre populaçoes,paises ou grupos de pessoas, mas como testemunho pessoal nao me queixo nada do sistema de saude dos Estados Unidos; até pelo contrário, julgo que é das melhores coisinhas que encontro por cá.
Eu costumo caracterizar os states como "há do melhor e do pior": tanto temos os ginásios e parques cheios de gente e uma maquineta para avaliar a tensao arterial em cada canto duma rua como temos os Mc'Donalds e Burgers Kings cheios de gente. Tanto temos pessoas vindas de todo o mundo tratarem-se cá, como temos outros a morrer com pneumonias no canto das ruas, mesmo ao lado das tais maquinetas.
Acrescento que emigrei por motivos de saude dum familiar. Quando fui simplesmente escurraçado dum hospital no meu pais, aqui fui tratado como um rei, sem ser cidadao, sem ter trabalho ou seguro de saude.
A imagem que passa (para quem quer ser anti-americano,) nao é o que se passa dentro dos hospitais.
Quanto a ideologias, nao sou de esquerda..................................considero-me de extrema-esquerda, mesmo radical, mas a verdade é preciso ser dita.