sábado, 5 de janeiro de 2008
Uma jornalista muito atenta
«Reconfortar os que vivem na aflição e afligir os que vivem no conforto» (a função do jornalismo de contra-poder tal como, segundo Serge Halimi, os jornalistas norte-americanos o entendiam há muito tempo atrás). São José Almeida, a mais atenta jornalista portuguesa com coluna de opinião, faz todas as semanas jus a essa bela fórmula: «É extraordinário que se chegue a uma situação de desigualdade social em Portugal tão gritante - segundo a Mercer Consulting, os presidentes das empresas portuguesas ganham em média 21,7 mil euros por mês, um valor 30 vezes superior ao rendimento salarial médio mensal dos trabalhadores por conta de outrem, que é de 720 euros - que leve o próprio Presidente da República a rebelar-se contra o escândalo do que aufere a nova aristocracia, a casta que gere a sociedade e a economia no actual estádio de desenvolvimento do capitalismo (. . .) Mas de impostos sobre os lucros das seguradoras e dos bancos não falou Cavaco Silva na sua mensagem de Ano Novo. Provavelmente, porque isso, sim, seria uma ideia de esquerda, um mar que o Presidente da República não navega». Para além da taxação, é preciso reforçar os enfraquecidos contra-poderes laborais dentro das empresas. Para quebrar a aliança gestores-accionistas e a ideologia da Corporate Governance que também contribuiram para a emergência destes padrões ineficientes e imorais. Mas para isso são precisos movimentos que sacudam o torpor liberal que faz com que o «socialismo moderno» aceite hoje sem pestanejar este escândalo. Movimentos que dêem consistência e coluna vertebral ao que alguns chamam, com evidente condescendência de classe, o «descontentamento da rua». Pode ser que a «rua» ainda lhes pregue um susto valente. Haja movimento. Porque não faltam boas razões.
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8 comentários:
descobri este blog num excelente artigo no "Publico" sobre a deriva neoliberal da economia e do Tratado de Lisboa.
indispensável.
«Reconfortar os que vivem na aflição e afligir os que vivem no conforto» (a função do jornalismo...)
O problema é que o jornalismo, como pertença dos que vivem no conforto, serve apenas para atormentar, ainda mais, os que vivem na aflição. A «Rua» pode começar precisamente por estes: os jornalistas venais que impingem diariamente os seus recados, do alto das suas cátedras privadas.
Obrigado herético. E pelo seu blogue.
Pois é Diogo. O que nós precisamos de perceber melhor são os mecanismos que geram estes processos. E aqui nem sequer é necessário recorrer tanto a teorias da conspiração. Basta boa teoria social.
Miserabilismo pura e simples. Até porque não é o que ganham os administradores e gestores que afecta os salários dos trabalhadores.
Estar a criticar salários altos é coisa de gente invejosa. Aliás, é salazarismo puro e simples: "não queiram ter mais porque há quem tenha menos".
Veja a evidência acumulada Pedro Sá. Claro que afecta. Via motivação. Não é inveja, é o sentimento de flagrante injustiça.
Esse argumento é facilmente rebatível. Basta dizer que é motivante querer lá chegar.
Para além disso no estado actual de coisas os ordenados mais escandalosamente baixos em Portugal, em bom rigor, são os de certos técnicos superiores se a trabalhar por conta de outrem. É bem mais injusto um engenheiro ganhar €1500 limpos que um administrativo tirar € 600, p.ex.
"São José Almeida, a mais atenta jornalista portuguesa com coluna de opinião, faz todas as semanas jus a essa bela fórmula"
QUem ????São José Almeida??eu cada vez q leio o Público ao Sábado pergunto-me é porque é aquela senhora continua a ter uma coluna...
desta vez concordo com o pedro sá: o cavaco é salazarismo puro e simples. sem a estatura intelectual do outro.
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