A privatização da REN (Rede Eléctrica Nacional) está a tornar-se um exemplo paradigmático da má gestão da coisa pública em Portugal. Primeiro, decidiram privatizar parcialmente um monopólio natural: num sector estratégico, onde a concorrência é quase impossível, os novos accionistas têm os lucros, ou melhor, as rendas garantidas. Depois, avaliaram a empresa a preço de saldo: desde a Oferta Pública de Venda (há poucos meses) as acções da REN valorizaram-se quase 30%. Finalmente, ficámos hoje a saber que o Estado vendeu, seis meses antes à OPV, acções da REN a uma outra empresa pública, a Parpública, a um preço superior ao posteriormente cobrado aos privados.
É difícil compreender esta sucessão de erros sem recorrer a teorias da conspiração. Contudo, existem duas razões que ajudam a explicar o inexplicável. A primeira é a obsessão deste Governo com as contas públicas. Na ânsia de cumprir as metas fixadas pelo pacto de estabilidade, vendem-se desesperadamente os anéis e os dedos. O que importa é garantir anúncios consecutivos do cumprimento da meta orçamental. A segunda razão é a ausência de uma real política económica deste Governo. Esta ficou reduzida à decisão entre a OTA e Alcochete e às entregas de computadores portáteis a professores e estudantes. As empresas públicas não são, por isso, entendidas como instrumentos estratégicos para a dinamização económica, mas sim como meros activos financeiros.
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