terça-feira, 8 de janeiro de 2008
Névoa, amnésia e miopia
As consequências nefastas da globalização financeira são hoje reconhecidas por quase todos. Até o Papa Bento XVI, que tudo fez para promover a Opus, já fala numa «névoa que cega as nações». Boa metáfora. A crise e a instabilidade recorrentes introduzem de novo o tema da incerteza irredutível e não-mensurável que fura os esquemas dos economistas apostados em meter o futuro em modelos estatísticos. Nos assuntos humanos o futuro está sempre em aberto. E, no entanto, se a incerteza é inevitável, também é verdade que ela pode ser nutrida por certos arranjos económicos. È o caso dos mercados financeiros liberalizados dopados a crédito e onde a especulação se desenvolve sem freios. A. Cabral é por isso certeiro quando diz que «o mercado é a engenharia social da amnésia e da miopia, até quando pretende prever o futuro». O que nós precisamos, depois de décadas de construção deliberada de mercados, é de uma nova engenharia social que introduza memória e alguma racionalidade global ao sistema. Que tal começar por uma agência europeia de supervisão e regulação financeiras?
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2 comentários:
“Our knowledge of the way things work, in society or in nature, comes trailing clouds of vagueness” (Kenneth Arrow).
A “névoa que cega as nações” é a mesma que impede o economista de apanhar a nota de 50 euros que viu na rua, pela razão simples de que a nota de 50 euros não pode estar ali sem ter sido apanhada por quem já a viu. É a névoa com que este vagabundo de Caspar David Friedrich viu o futuro e o risco.
Para melhor compreender esta névoa, aqui vai uma sugestão para leitura: Ron Dembo & Andrew Freeman, “Seeing Tomorrow: Rewritng the Rules of Risk” (New York, New York: 1998) John Wiley & Sons, Inc.
Obrigado. F
"Névoa, amnésia e miopia deve sofrer o papa Bento XVI. Já não vou recorrer à história mas, na sua declaração identifica e bem quais as razões do declínio da sociedade ocidental (modelo neoliberal a que mais cumunmente designamos por globalização) e que a predação dos estados e dos interesses levam a guerras pelo controlo dos mercados, das matérias primas, etc, etc, etc. Mas depois é com grande regozijo e orgulho que acolhe na familia católica um dos ponta de lança, pela hemonização deste modelo a nível planetário, falamos de Tony Blair.
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