terça-feira, 22 de janeiro de 2008
'A catástrofe eminente e os meios de a conjurar'
Os sinais de recessão avolumam-se e o «pânico» generaliza-se entre os especuladores. A crise financeira, que marca o fim de um longo período de euforia, está associada à ruptura das convenções que tinham sustentado as dinâmicas colectivas de crescimento dos preços dos activos que agora se revelam insustentáveis. Isto faz com que, na ausência de referências que polarizem a suas expectativas, os agentes entrem num período de desconfiança absoluta em relação à pertinência das dinâmicas financeiras anteriores e com que surjam, de novo, as lógicas autoreferenciais e miméticas típicas dos mercados financeiros. Só que agora num sentido descendente. Numa situação de ruptura da convenções, em que as forças da desconfiança emergem, o comportamento mais «razoável» é procurar «sair» do mercado o mais rapidamente possível, o que se traduz na generalização da chamada «fuga para a qualidade», isto é numa fuga para activos que são considerados absolutamente seguros. Aqui entram os títulos da dívida pública, «a espinha dorsal dos mercados financeiros», segundo o FMI. Aqui entra a Reserva Federal (Ben Bernanke é supostamente um dos mais reputados investigadores da «grande depressão») que com um corte abrupto e inesperado das taxas de juro procura criar novos «pontos focais» que evitem a emergência da crise aguda como nova convenção do «mercado». Paradoxalmente pode ter o efeito contrário no curto prazo. Já imaginaram o que aconteceria se não existisse dívida pública ou o que, o agora famoso, Hyman Minsky chamou «Big Government» e «Big Bank»? Temo é que não sejam grandes o suficiente. . .
Nota. Abram a Teoria Geral de Keynes no capítulo 12. Acho que está lá o essencial sobre a «psicologia» dos mercados financeiros e algumas boas ideias para começar a tornar, a prazo, o destino das economias menos dependente das suas alternâncias de euforia e pânico: «A criação de um elevado imposto sobre as transferências para todas as transacções talvez fosse a mais salutar das medidas capazes de atenuar, nos Estados Unidos, o predomínio da especulação sobre a empresa».
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17 comentários:
Se calhar está na hora de ressuscitar a discussão em torno do "defunto" imposto Tobin...
Pois está...
Isto é que é vontade que haja uma catástrofe financeira...
Eu sou uns dos investidores que ganha com o desequilíbrio dos mercados financeiros. Um investidor que só pensa no curto prazo é um mal investidor, sendo um mal investidor deve deixar este ramo porque anda a provocar imperfeições no mercado. Mesmo que este não saia por livre e espontânea vontade ou mercado acaba por o eliminar ou obriga o á reciclar as suas competências. Toda esta onda de pânico é causada pelos os mesmos provocando um pânico generalizado e irracional. Porque estes raramente desconhecem que os mercados a longo prazo tende para o equilíbrio valoriza os activos. O artigo esta bem escrito e bem fundamentado, e deixo aqui um conselho, invistam cerca de 25 a 30% em activos de curto prazo e pensem bem na reforma.
Não creio que seja "vontade" de catástrofe, Pedro Sá. Uma bolsa de valores é útil se os preços estiverem correctos e não necessariamente altos. O Crash não será mais do que o reajuste dos preços à realidade.
E o que se preconiza são mecanismos para minorar a tendência dos especuladores dominarem os empreendedores.
Penso eu de que.
Joao Rodes, estas a escrever em Greenspeak, nao ha discurso de financa sem palavroes?
Isto não tem que ver com vontades Pedro Sá (pelos menos não com as minhas). Tem que ver com análise e com remédios. E com ideologia. Que fazer? Seria se calhar melhor confiar na racionalidade dos agentes do mercado e na mão invisível. Lamento, mas não sou uma pessoa de fé.
Obrigado Gondim. Gostava que me indicasse qual o valor de eq. de longo prazo. Este dependeria do valor actualizado do fluxo de rendimentos futuros do activo em causa. E não há nada de mais gloriosamente incerto do que estes.
Claro L. Rodrigues. Mas creio que a bolsa serve para pouco. O seu contributo para o financiamento das empresas é reduzido (em muitos países é mesmo negativo).
Tens toda a razão A. Cabral. Vou tentar fazer melhor. Fui à minha tese de mestrado. É o que dá...
Eu penso que a bolsa é importante sobretudo pelo impacto que detém ao nivel da realidade financeira actual. Poderá não ser um instrumento perfeito mas acaba por ser útil fornecendo aos agentes fontes de financiamento/recursos adicionais. Como em tudo existem limitações nomeadamente no que respeita à carga especulativa que os mercados financeiros encerram em si, mas essa é quanto a mim uma característica da Economia no seu global. Esta depende amplamente das expectativas dos agentes e sua evolução o que, neste caso concreto, acaba por ter a sua influencia para a situação financeira global actual. Basicamente os Bancos esticaram a corda, os ganhos eram muitos, o mercado sempre a subir (a bolha - como lhe chamam - a aumentar), os spreads a diminuir, os agentes a investir (movidos pela euforia geral), a procura de por exemplo hedge funds (aposto que uma parte considerável dos investidores não saberão sequer em que consistem nem quais os riscos que lhe estão associados) completamente em alta e agora é tempo de correcção. Juntando a isto o efeito dos media, agora ainda mais poderoso face às novas tecnologias e novos meios de difusão, nomeadamente influenciando as expectativas dos agentes e os níveis de confiança, a falta de informação e o desconhecimento de muitos dos agentes e claro a crise do mercado imobiliário de alto risco obtemos a conjuntura actual. Em termos de desenvolvimentos futuros confesso que futurologia não é o meu forte mas é certo que o ciclo inverterá a sua tendência mais tarde ou mais cedo. Pelo menos empiricamente é o que se tem verificado até então e tendo em conta os desenvolvimentos actuais nomeadamente ao nível da actuação da FED e das próprias declarações dos grandes patrões da banca (completamente idolatrados pelos media) parece desenhar-se uma tentativa para reequilibrar as expectativas e confiança dos agentes o que se traduzirá num restabelecimento da tendência de crescimento pelo menos até ao próximo crash.
A questão é que as bolsas representam o valor das acções das empresas nelas cotadas. Que evidentemente dependem da lei da oferta e da procura. Ou haviam de depender de quê então ?
Para além disso, a criação de um elevado imposto sobre as transacções financeiras constituiria um entrave enorme para a existência de pequenos accionistas, antes de mais, e também para a evolução empresarial através do investimento aqui e ali.
Não percebeu Pedro Sá. A questão é se essa oferta e procura conseguem convergir para os famosos «fundamentais». Ou se tê tendência sistemática para «extremos de euforia e de desepero» (Soros).
Pois constituiria. É esse o objectivo. Diminuir a especulação. Não sei se sabe, mas as bolsas não contribuem para o investimento na criação de capacidade produtiva adicional. Sugam é recursos das empresas obcecadas em satisfazer accionistas que querem cotações em alta permanente. Isto distorce as prioridades da gestão.
Joao Rodrigues, a equação nao te dou mas dou te umas hipoteses para escreveres que é a seguinte: fórmula de Black & Scholes e Entropia.Mistura, testa e aplica e vais ver o que dá.
Boa sorte.
Onde se lê tê deve ler-se têm.
A futurologia não é o forte de ninguém Gonçalo. Quanto muito podemos tentar identifcar padrões gerais de evolução. Mais nada. Quanto ao financiamento tenho, como já disse dúvidas. Fundadas em evidência. As bolsas são mecanismos de redistribuição de direitos de propriedade e de reafectação de fluxos de rendimento. Servem para pouco no que diz respeito a financiamento. Este é interno às empresas ou vem da banca. No essencial.
Gondim, O Black&Scholes já provaram as suas capacidades de gestão com o LTCM. Deve ser da entropia.
Será que especulação e mercados não andaram de mãos dadas? o limiar de um especulador e um investidor acaba por ser mtas vezes ténue, não concordas João? No fundo quem joga na bolsa pretende fazer dinheiro aqui a diferença estará de certa forma relacionada com os meios para atingir os fins, que acabam por ser, no limite, semelhantes!
A LTCM é um instrumento de politica monetária eficaz mas com algumas limitações. Como quase todos instrumentos. Lembro de conferência que relacionava a curva de curva de Philips com os modelos de crescimento económico de Harrold-Domar para provar que realmente o equilíbrio macroeconómico é mesmo investimento é igual a poupança. E que as expectativas de investimento estavam fortemente correlacionadas com a taxa de emprego de uma economia. Sabemos que a taxa de (des) emprego anda de mãos dadas com a taxa de inflação. Até aqui nada de novo. Ao decorrer da conferência aparece um académico com cara de louco, confesso, que apresentou uma teoria bastante interessante sobre entropia. Quando este humilde senhor apresentou o seu trabalho para o publico, poucos foram que lhe deram a devida atenção. Talvez porque o senhor era um catedrático de física e o publico era praticamente ou todos gestores e economistas.
Os modelos comportamentais da física clássica são idênticos aos modelos da economia. Basta fazer uma série de cálculos para tiramos as provas dos nove. Há poucos economistas/gestores que sabem que o resido dos modelos econométricos vem precisamente da física. O resíduo da física sobre um campo magnético tem o comportamento bastante semelhante ao de um modelo econométrico. Os modelos têm limitações e imperfeições quando aplicados a nossa realidade, mas a imaginação humana não tem limites. Se o nosso modelo não encaixa na nossa realidade, afinamos as nossas variáveis. Mas sobre este tema não te posso ajudar, porque eu tenho algumas dúvidas sobre tudo que é modelo de previsão. Penso que nunca teremos um modelo perfeito, o melhor que podemos fazer e tentar e tentar.
Cumprimentos João.
Isso é que é preconceito contra a especulação...depois havia de se ver a economia a estagnar por não haver investimentos ! Sem capital não há evolução empresarial e tecnológica !
Mas de facto o desprezo com que trata todos os que desejam ser pequenos accionistas é lamentável.
Quando alguém afirma o seguinte: "No fundo quem joga na bolsa..." fica explicado porque é que muitas vezes o pânico no mercado é irracional.
A meu ver a bolsa não serve para "apostar" mas sim para investir.
Um pequeno apontamento "não-técnico" mas que julgo ser de extrema importância para perceber o que se passa actualmente...
A catástrofe é eminente ou iminente?
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