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Um
artigo do New York Times da semana passada mostra como, nos EUA, o preço da electricidade é menor nos estados com preços regulados publicamente do que nos estados com mercados de electricidade liberalizados (ver evolução no gráfico abaixo). A subida dos preços dos combustíveis, aliada ao aumento da procura de energia, resultou em excelentes oportunidades para a especulação no mercado de electricidade. Especulação esta, favorecida por estarmos perante um estratégico sector onde o nível de produção é razoavelmente constante face a um consumo muito variável.
O resultado, contrário às previsões dos fanáticos da concorrência, foi, então, o encarecimento de um dos mais «pesados» custos de produção da generalidade das empresas. A construção deste mercado resultou assim num arranjo ineficiente, penalizador da competitividade de economia, que só beneficia um punhado de empresas eléctricas retalhistas.
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Os EUA parecem não ter aprendido com os anteriores desastrosos resultados destas ficções mercantis. Já em 2000/2001, um dos Estados com mercados desregulados, a Califórnia, assistiu a consecutivos cortes de energia, devido à manipulação especulativa e fraudulenta do mercado retalhista eléctrico por parte de empresas como a Enron. A mesma Enron que, pouco tempo depois, entrou em processo de falência.
Entretanto, Portugal parece querer seguir, a passos largos, os erros dos outros, como indiciam as privatizações no sector (primeiro da EDP,
recentemente da REN) e a criação de um mercado eléctrico ibérico que ainda ninguém viu. (Obrigado a Tiago Antão pela referência do NYT).
4 comentários:
Eu penso que este caso é uma excepção em termos de "cultura regulamentista" nos EUA, isto é:
Os estados mais regulamentistas são precisamente a Califórnia, Oregon, Washington e a Nova Inglaterra (Massachusetts, NY, ...). Também são os estados com mais impostos.
Ou, dizendo de outra forma: Tirando o Texas, os estados que produzem riqueza são precisamente os que mais regulam e mais taxam. E até que ponto a riqueza do Texas está associada ao recurso natural que ainda têem (petróleo) seria uma questão a ver.
Os estados que produzem riqueza tendem também a votar democrata.
Mais ainda, praticamente toda a produção em IT dos EUA vem da Bay Area, uma zona bem esquerdola dos EUA (estamos a falar de S. Francisco e arredores). Mesmo a que vem de outras áreas (A Microsoft está em Washington) é também uma área com impostos e intervenção do estado.
Muita da regulamentação ambiental que vai fazendo caminho nos EUA começa na Califórnia.
Podíamos também falar das "questões individuais" como o casamento homosexual (Massachusetts) ou da liberalização do casamento (que começou, se a memória não me falha, na Califórnia com... Ronald Reagan como governador).
Penso que MA têm também um esquema de seguro universal com cobertura a toda a população...
Tudo isto para dizer: à verborreia neo-liberal sobre os EUA convém lembrar que os EUA são uma entidade heterogénea e que boa parte da riqueza, por acaso (ou não) é produzida naqueles estados que mais fogem ao estereotipo americano.
Estou a tirar nabos da púcara, não estudei o assunto a fundo, mas muita da informação que me chega à mão vai neste sentido, indo contra muitos dos preconceitos e estereotipos que eu próprio tinha dos EUA.
Sabe que a crise energética da Califórnia se deveu à regulação completamente desajustada da realidade, não sabe? Num ambiente de concorrência e de preços a reflectirem a realidade dos custos, a crise não teria ocorrido, não sabe?
A única coisa que me parece ("saber", não sei nada) é que há uma forte correlação nos EUA entre regulação, taxação e riqueza. Regra geral, por estado, quanto mais regulador, mais rico.
Provavelmente, o estado mais regulator friendly (MA) é também aquele que tem melhores indices de literacia, menos pobreza, etc... Para não falar em excelência académica.
-sarcasmo-
Mas, claro, mais literacia e menos pobreza são coisas sem importância... donde, porquê olhar para estes indicadores?
A lógica está errada, porque na Europa os mercados da electricidade são fortemente regulamentados.
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