1) emissão pública nacional de dívida a 100 anos, comprada pelo BCE, para fazer face às despesas na saúde; 2) emissão monetária pelo BCE, creditada directamente nas contas das famílias, para evitar que a quebra da procura se torne em recessão; 3) garantia dos postos de trabalho, para evitar um desemprego em massa.
Todas estas medidas estão a léguas do aprovado pelo Eurogrupo (com palmas). Esse plano apenas criará mais dívida a cada Estado, forçando mais tarde a exigência comunitária de mais austeridade.
Não se esqueça então: a austeridade não é apenas apertar cinto. A austeridade não é uma solução técnica. Porque os seus pressupostos foram todos incumpridos: crescimento, competitividade, justiça social. E no entanto ela vive: porque foram cumpridos os objectivos não declarados. Omissos.
Na verdade, a austeridade é um dispositivo imperial, de classse, que permite:
A) a transferência de rendimento dos trabalhadores para as empresas, ao impor a flexibilização do mercado do trabalho, a qual facilita o despedimento e reduz os ganhos salariais, impedindo, com isso, a subida dos salários e de uma melhor repartição no rendimento criado;
B) a transferência de activos públicos para os privados a preço de saldo, através de programas obrigatórios de privatizações;
C) a transferência do Estado para os privados de "mercados" apetitosos, como os da saúde, da segurança social, da CGD, tudo à pala de que o Estado não tem vocação para lá estar;
D) a transferência de valor dos Estados do Sul para os Estados do Norte, ao impor um controlo cambial-monetário dominado por quem controla a moeda central do sistema e que se materiza na produção continuada de défices externos a Sul, os quais se traduzem numa crescente dívida externa desses países.
E) Tornar os mais ricos, mais ricos à custa de que os mais pobres se tornem mais pobres.
A austeridade é um saque controlado por quem controlo a dívida.
E quem beneficia da austeridade não a quer perder por nada deste mundo. E tudo fará para que reine quando estava já em retrocesso. O Covid19 é o pretexto ideal para reganhar a iniciativa política perdida. E isso está escancarado no impasse criado no Eurogrupo. Todos os impasses têm pais. E não se olhe apenas para os cães de fila só porque ladram. Também eles têm uma trela silenciosa: a trela que está na mão de quem ganha com a austeridade.
6 comentários:
Todo o economista com percurso académico, comentador de temas económicos, político de qualquer cor, haveria de cumprir um tirocínio: viver seis meses do que ganhasse em produtos que levasse a feiras ou mercados, garantindo pelo menos um salário a um funcionário.
Fala-se em garantir empregos como quem fala de lavar os dentes em cada dia - uma questão de higiene pessoal!
Todo o economista com percurso académico aprendeu que as medidas pró-ciclícas agravam a crise e comprometem a recuperação.
Ok. Estamos também comprometidos porque não temos nenhum instrumento que não seja a emissão de dívida para pagar o que aí vem.
A dívida tem 4 problemas: será gigantesca, acrescentará à já gigantesca divída pré-existente, terá que ser paga, num futuro já bastante comprometido e a taxa de juro exigida pelos agiotas pode ser incomportável.
Portanto, o cenário mais evidente disto tudo é que o empresário que paga ao funcionário e o funcionário ficarem com as mãos a abanar.
Isto é, se segunda-feira, não tivermos os bancos encerrados por falta de liquidez, após as transferências de fundos que estão a ocorrer desde a declaração do estado de emergência.
E sabe uma coisa? Não são os funcionários que estão a mandar o pastel para a holanda.
O Jose prefere ser escravo ou dono de escravos?
Jose, acha que essa treta de 'os "empreendedores" é que sabem de Economia' ainda pega? Olhe que somos cada vez mais os que estamos fartos dela até aos gorgomilos.
Caro José,
Já vejo que nem comentou os dois primeiros pontos das propostas feitas pelos economistas. No tempo que corre, já é uma lança em África.
Depois desta pequena provocação, que não leve a mal, tenha em atenção que esta não é uma crise qualquer. E por isso, a garantia dos postos de trabalho é essencial sob pena de nada ficar depois de passar. Dir-se-á que, para quem anda em feiras e mercados, não é tarefa fácil. Ninguém nega. Mas estamos a falar de outro tipo de lógica de actuação pública que se distancia do funcionamento da gestão das mercearias. Trata-se de manter vínculos contratuais, quando a garantia salarial era feita pela sociedade. Qual é o vendedor em feiras e mercados que não o aceitaria?
Caro João
O princípio é que as empresas não têm que garantir emprego, têm que garantir serem viáveis.
A garantia pelo Estado dos postos de trabalho pelo lay-off simplificado, para quem tem expectativas razoáveis de poder retomar a actividade sem quebra de mercado é uma razoável medida, mas essa não vai ser uma situação dominante, e para a maior parte dos aderentes terá custos.
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