terça-feira, 11 de outubro de 2011
O Banco "mau"
A banca nacional procura a todo o custo empurrar os seus problemas com a barriga. A última proposta é a de um "banco mau" público. Este banco, capitalizado com o empréstimo da troika, compraria todas as dívidas públicas detidas pelos bancos nacionais, obviamente vendidas ao preço inscrito nos seus balanços. Os bancos ficariam com os seus balanços mais pequenos e receberiam uma injecção de liquidez sem alterar a sua estrutura accionista. Resumindo, a banca quer que o Estado a proteja das suas decisões de aquisição de dívida pública.
Esta parece a típica resposta de quem quer que algo mude para tudo ficar na mesma. Os balanços da banca até podiam ficar mais limpos, mas o problema de solvabilidade da banca nacional não se resume às dívidas do estado português. Num contexto de profunda recessão é natural que o incumprimento do crédito privado (bastante maior do que o público) aumente. Isto para não falar dos efeitos de contágio à banca portuguesa do inevitável processo de reestruturação da dívida grega. Provavelmente, a banca estará à espera que a UE venha em seu socorro quando tal acontecer. Assim, este "banco mau" é uma má ideia, porque é o tipo de medida de curto prazo que não resolve a situação dos bancos e condena a economia, já que não temos qualquer garantia sobre os usos destas injecções de liquidez. O historial de concessão de crédito da banca portuguesa não abona muito em seu favor. De qualquer forma, não me parece que a troika alinhe nesta proposta. Os 12 mil milhões são disponibilizados para a recapitalização de toda banca. Não seria esse o caso neste cenário.
Todavia, um "banco mau" até pode ser uma boa ideia. O exemplo da crise bancária sueca do início dos anos noventa fornece-nos algumas pistas. O Estado sueco, sob governo conservador por sinal, criou um "banco mau", englobando aí todos os activos "tóxicos", mas, como contrapartida, nacionalizou boa parte da banca. Não foram os bancos, mas sim o Estado, a decidir o que fazer dos seus balanços, promovendo assim outro comportamento do sector. A Suécia conseguiu sair rapidamente da crise e os seus "activos tóxicos" nem sequer foram fonte de grandes perdas, graças à melhoria da capacidade de pagamento que uma economia adquire em tempos de crescimento económico.
Nós não somos a Suécia. Temos menos instrumentos de intervenção (a começar pela política monetária), os nossos problemas são bem mais sistémicos, não se resumindo a um problema bancário, e a economia mundial não parece vir a crescer muito nos próximos tempos. No entanto, a lição sueca é clara: com a banca privada neste regime liberal é preciso agir rapidamente e de forma determinada se se quer minorar os custos.
Há mais de três anos atrás, aquando da crise financeira nos EUA, escrevi este post, comparando o caso Sueco com o Japonês. Queremos ser mais parecidos com os primeiros ou com os segundos?
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4 comentários:
Nuno:
Cruzes canhoto, você que tirar esqueletos dos armários.
Os homens têm o PREC bem fresquinho na (má) memória (deles).
Rédea solta é que os engorda.
E depois, isso criaria um problema adicional: que gestores (não capachos dos banqueiros) nomearia o Estado para gerir os bancos nacionalizados? Um berbicacho.
Veja lá em que se (nos) mete quando aventa hipóteses (mesmo que «irrealistas»).
Porquê que vocês não fazem um artigo sobre um social democrata a sério chamado Arnaud Montebourg e o seu livro " Votez pour la démondialisation! ".
http://fr.reuters.com/article/topNews/idFRPAE79A06220111011
Caro Nuno,
Fiz link e agradeço.
Um abraço.
Que tal nacionalizar todos os bancos portugueses?
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