domingo, 2 de outubro de 2011

Recapitalização da banca I - as razões para a resistência dos banqueiros

O Memorando de entendimento do governo português com a troika prevê uma tranche do empréstimo especificamente destinada à recapitalização dos bancos portugueses. Os bancos portugueses já há muito que não se conseguem financiar junto dos mercados de capitais. Só não entraram em colapso graças ao financiamento ilimitado de curto prazo e a baixa taxa de juro que têm junto do BCE. Os doze mil milhões previstos servem como último recurso caso os bancos não consigam eles próprios, através de aumentos de capitais próprios e venda de activos, conseguir rácios de capital próprio suficientemente confortáveis para fazer frente a esta recessão e às prováveis reestruturações de dívida pública que aí vêm. A razão por detrás destas exigências está na (vã) esperança de que, se os bancos apresentarem balanços mais robustos, os mercados de capitais tornarão a estar acessíveis.

Os bancos nacionais têm portanto tentado amortizar os seus passivos através da venda de activos, diminuindo o tamanho dos seus balanços. Este processo, para além dos óbvios feitos negativos que tem numa economia em contracção, reduz a rentabilidade para os accionistas. Por outro lado, a banca não quer recorrer a estes fundos já que tal implicaria a entrada do Estado como accionista (embora o Memorando preveja que seja um accionista silencioso). Os seus decrescentes lucros teriam que ser divididos com o Estado, reduzindo ainda mais a sua rentabilidade. Daí a resistência frontal do sector financeiro nacional aos ambiciosos objectivos da troika.

3 comentários:

Anónimo disse...

Nuno

Podes indicar por favor em que parte do memorando se encontra prevista a participação do estado na banca (ou na partilha dos dividendos)?

Obrigado

António Fonseca.

Nuno Teles disse...

Caro António Fonseca,

Aqui vai:

2.4. In the event that banks cannot reach the targets on time, ensuring higher capital
standards might temporarily require public provision of equity for the private banks. To that
effect, the authorities will augment the bank solvency support facility, in line with EU state
aid rules, with resources of up to EUR 12 billion provided under the programme, that takes
into account the importance of the new capital requirements and which will be designed in a
way that preserves the control of the management of the banks by their non-state owners
during an initial phase and allow them the option of buying back the government’s stake.

Entretanto respondendo à sua outra questão: eu nenhum lugar eu escrevo que se deve promover o crédito ao consumo.

Nuno

Nuno teles disse...

Caro António Fonseca,

enganei-me na segunda resposta. era dirigida a outro comentador. as minhas desculpas.

Nuno