quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Os imigrantes, esses malandros que não nos deixam definhar ainda mais

Como seria de esperar, a extrema-direita do Chega de Ventura e do Ergue-te de Pinto Coelho defende restrições à imigração nos seus programas eleitorais, seja pela seleção dos imigrantes que tenham «determinada formação, como médicos e enfermeiros», seja pelo «repatriamento de ilegais» ou dos «que façam dos apoios sociais modo de vida».

Em matéria de apoios sociais, já se assinalou aqui que os imigrantes são (sempre foram, aliás) contribuintes líquidos da Segurança Social e da sua sustentabilidade, dado que descontam muito mais do que recebem (em 2020, a diferença foi de cerca de 800M€), tornando infundada a ideia, que apenas visa instigar o ódio, de que os imigrantes «só vêm beneficiar do sistema económico e de Segurança Social», como chegou a dizer Ventura, para agradar a Marine Le Pen.

Este contributo está de resto associado a um outro: os imigrantes têm impedido que o declínio demográfico e o envelhecimento sejam mais acentuados. Quando se compara a evolução da população residente por nacionalidade, percebe-se a sua importância para conter as perdas demográficas e favorecer a renovação geracional, num país que terá, cada vez mais, que encontrar resposta para as questões económicas e sociais colocadas pelo envelhecimento.


Curiosamente, nos seus programas, a extrema-direita também defende a «reocupação» e «repovoamento» do território, ignorando que a imigração tem atenuado as crescentes disparidades regionais, com benefícios económicos e sociais, para lá dos demográficos. De facto, quando se analisa, por nacionalidade, a variação da população por regiões nos últimos 20 anos, esse efeito de mitigação, resultante da presença de estrangeiros no nosso país, torna-se evidente.


Sem a presença de imigrantes, as NUT do Baixo Alentejo e Terras de Trás-os-Montes, por exemplo, teriam tido variações negativas da população residente bem mais acentuadas, sendo que os valores de quebra são sempre menores, nas restantes NUT do interior norte e sul, quando se compara a variação da população total com a variação da população com nacionalidade portuguesa. Tal como é a imigração que permite que o Algarve, Área Metropolitana de Lisboa, Oeste e Cávado, atinjam maiores aumentos da sua população residente, no mesmo período. Aliás, sem imigrantes, a Área Metropolitana do Porto teria registado uma diminuição da sua população entre 2001 e 2021.

Só um populismo demagógico e fascizante justifica, pois, a aversão da extrema-direita (com que a direita não-extrema admite chegar a entendimento) aos imigrantes. Nem sequer a memória do apregoado Estado Novo, em que os portugueses emigraram massivamente para outras paragens, refreia a converseta e a falta de escrúpulos. De resto, é relembrar o recente artigo de Carvalho da Silva no JN, que alerta para a importância de, cada vez mais, serem asseguradas condições dignas de trabalho e acolhimento, para que a imigração não se transforme num instrumento «de desvalorização salarial de todos os trabalhadores».

3 comentários:

Jaime Santos disse...

A Extrema-Direita, que se declara a favor da Europa Cristã também esquece, convenientemente, que o acolhimento do refugiado e do imigrante faz parte da ética cristã, como não se cansa de assinalar o Papa Francisco. Não é sem razão que a parábola do Bom Samaritano é dos textos mais conhecidos e amados dos Evangelhos.

Isto para além de não se cansar de caluniar quem é diferente, afinal Ventura acabou condenado pelo Supremo por insultar uma família de origem africana, uma criança incluída.

Sempre gostaria de ver o que aconteceria a Portugal se de repente os Países onde reside grande parte da nossa diáspora decidissem fazer aos nossos emigrantes o que se propõe fazer a Extrema-Direita.

Quanto à Esquerda, tem um imenso potencial de crescimento entre aqueles que nos procuram e que poderão depois tornar-se Portugueses. E cabe-lhe igualmente, como bem assinala, referindo a posição de Carvalho da Silva, a luta por condições dignas de trabalho para todos, imigrantes incluídos, o que pode permitir que a população autóctone não os veja como uma ameaça que comprime salários, embora seja também verdade que a chegada de mão de obra para realizar certos trabalhos árduos e penosos é tipicamente sinal que a população local dispõe de formação para não ter que os fazer... E isso é um sinal de desenvolvimento.

Anónimo disse...

Mas a imigração é isso mesmo - um instrumento de desvalorização salarial de todos os trabalhadores - e a esquerda anda a fingir que o que está em causa é a multiculturalidade ou o saber estar no mundo global etc, etc... Há ainda outra esquerda que olha pelo prisma das contribuições, ou seja, uma lógica puramente instrumentalista, isto é mais que miséria intelectual é uma autêntica vergonha.

Anónimo disse...

"Ergue-te" parece uma marca alternativa de Viagra. E o que a direita e extrema-direita querem é que os imigrantes tenham condições precárias para os poderem explorar. E um imigrante com direitos não será explorado (pelo menos não mais que os nacionais). Ou alguém acha que os portugueses vão para França ganhar menos que o salário mínimo? Deixem os imigrantes ficar e deportem os fascistas que esses sim estão cá a mais. E se nenhum país os aceitar, que seja para uma ilha deserta.