Há dez anos, os "liberais" de então também tinham muita pressa em reformar o Estado…
Jornal Público 25/1/2012 |
Aliás, dez anos antes disso, em 2001, também os "liberais" de então,
com Durão Barroso à frente, também tinham muita pressa em reformar o
Estado e até prometeram algo irracional: uma auditoria às contas públicas! Passos Coelho prometeu coisas igualmente irrazoáveis e interesseiras como são hoje as propostas dos jovens liberais que pensam como os velhos liberais (ver aqui um resumo).
Mas nem Durão Barroso fez alguma coisa em 2002, nem Passos Coelho ou Paulo Portas o fizeram em 2012. Paulo Portas - regressado da sua irrevogável demissão de Julho de 2012 - apresentou em 2013 uma infantil página A4 para reformar o Estado que ninguém, nem mesmo Passos Coelho, levou a sério. Mas entretanto, tinham cortado nos apoios sociais, cortado nos vencimentos, cortado no pessoal, cortado no investimento público, cortado nos serviços públicos da Saúde, na Educação, na Protecção Social. Cegamente.
Mas não foram capazes de fazer alguma reforma estrutural como tinham prometido.
Pior: perceberam da pior maneira que pretender "reformar" o Estado se traduz em cortes de benefícios e serviços públicos de que a maioria dos portugueses beneficia (autêntico rendimento indirecto e cimento social) e que a sua aplicação gera recessão, desemprego e... protestos! O PSD levou dez anos a erguer-se desse tombo e o CDS não está em muito boa forma!
Agora, o velho PSD liberal já nem fala de cortes. Os jovens liberais da IL e os velhos liberais do PSD querem antes colocar o Estado a pagar aos privados para cobrir as falhas do Estado que os velhos liberais (e alguns socialistas liberais) ajudaram a criar durante 30 anos. Já não querem cortar vencimentos: querem que seja o Estado a subsidiar os baixos salários, cortando nos impostos - ou seja, colocando a população a financiar sobretudo as poucas grandes empresas (que possuem 28% do total dos trabalhadores) - enquanto vendem à mesma população que deveremos dar uma borla fiscal de centenas de milhares de euros a cada CEO de multinacionais e grandes empresas e no IRC pago pelas grandes empresas. Mas mesmo assim não vai funcionar.
Porque não há como o Estado para realizar a igualdade de oportunidades, supostamente tão querida dos liberais. E depois, não é possível - aos olhos de quem quer ter contas à la Frankfurt - ter gastos públicos duplicados: pagar a privados e, ao mesmo tempo, manter a capacidade instalada do Estado. E alguma coisa terá de ser cortada. E será o investimento público e os gastos públicos em pessoal (ou seja, serviços públicos). E assim voltam aos cortes que se esquivaram a dizer que queriam.
Só que antes de vivido esse pesadelo, eleitoralmente a promessa funciona.
Funciona como o anúncio de uma revolução redentora que tudo vai resolver. A má vida dos mesmos dois milhões de pobres que assim se mantêm durante décadas, os atrasos seculares, as dívidas externas, o atraso sectorial nacional, uma burguesia nacional sem visão soberana e independentista. Só que é tudo mentira. Mas depois, já é tarde, estaremos todos muito pior e tudo levará muito tempo a recuperar. Quase dez anos! É um desperdício de tempo, energia e recursos. É um falhanço como país. É um crime social. E que não se apaga apesar de todos os sorrisos divertidos e graçolas na publicidade que possam hoje esboçar.
O "liberalismo" já provou várias vezes em Portugal: não funciona como prometem. Funciona apenas para transferir dinheiro da maioria da população para uma minoria. E, por isso, não faz falta a Portugal.
2 comentários:
O Paulo Portas deixou a Reforma do Estado a meio.
A direita em Portugal despreza o povo, é de elite,existem pra espremerem os mais desfavorecidos em proveito próprio
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