Jornal Público, 24/1/2012 |
Quando se inicia uma recessão - seja porque é importada ("FMI alerta para o risco de recessão à escala mundial"), seja quando um Governo acha que tem de praticar austeridade para promover a poupança ou porque há "despesa pública a mais" que os "os contribuintes não podem pagar mais" - lembre-se que depois há consequências. E que custa muito mais retomar o ponto de partida.
Aos olhos de qualquer pessoa sensata, não fazia então sentido estar a cortar na despesa pública quando se avolumava uma recessão. Só ia provocar mais recessão em cima de recessão, mais desemprego, menos salários. Já se sabe isto desde a Grande Depressão de 1929 e até antes se calhar. Mas aos olhos dos jovens turcos, nada fez mais sentido do que a sua cartilha que traziam no bolso.
Porque a cartilha tem um objectivo que nunca é dito nem plasmado nos programas eleitorais: quanto menos despesa pública, mais há mercado para os operadores privados puderem usufruir dele. Nada como um Estado desarticulado para que, o que antes eram direitos, passem a ser serviços. E então se as receitas fiscais puderem contribuir para essa despesa dos contribuintes/cidadãos, ouro sobre azul.
Não é um programa económico/social: é um projecto de investimento. Mas não é seu.
E é então que se parte a moldura dourada desse grande "programa" - o anúncio de que se vai resolver os problemas estruturais do país que o impedem de crescer (sim, também de falou nisso em 2011/12). O grande instrumento dessa política de Passos Coelho era baixar a TSU e substituir essa "carga fiscal sobre as empresas" pagando-a com a receita de IVA. Mas o problema é que, afinal, as contas de Eduardo Catroga - seu adviser - estavam mal feitas ou não tinham sido feitas. E Passos Coelho descobriu que, afinal, não podia pagar o que prometera porque isso lhe dava cabo do objectivo que abraçara de descer rapidamente o défice orçamental...
Obriguem sempre a direita a dizer antes como fará as coisas. E não aceitem generalidades como resposta.
Passos Coelho também prometeu que as alterações na legislação laboral de 2012 iriam fazer o emprego crescer no ano seguinte. Porquê? Porque as alterações iriam libertar as empresas. Afinal, o desemprego explodiu porque as alterações desequilibraram ainda mais a já de si desequilibrada relação entre trabalhadores e patronato. Reduziu-se ainda mais a procura. E o desemprego impediu os salários de crescer. Hoje, até a direita acha que os salários médios têm de subir.
Rui Rio já aprendeu: promete que a economia vai crescer porque sim (!), mesmo quando todas as experiências provam que baixar impostos não promove crescimento económico, mas défices orçamentais. Mas - falhanço virtuoso! - mais défices justificam cortes na despesa pública. E cortes justificam mais mercado para o sector privado... que já beneficiou entretanto com a descida dos impostos realizada logo a curto prazo.
Tudo tem uma lógica, mas não é a anunciada. E depois dirão que foram mal entendidos. Veja-se o caso de Cavaco Silva:
E tudo se repete. Até havia, também, mais uma crise em que os Estados Unidos prometem
defender alguém, atacando primeiro... Há dez anos era o Irão, hoje é a
Rússia.
Cá é com cada vez mais arrogantes e mais ignorantes/superficiais actores. Por que é que a direita, dos seus think thanks políticos, os escolhe sempre assim?
1 comentário:
E tal como nessa altura a esquerda vai entregar de bandeja o poder de decisão à direita…Ah, haverá maior prazer do que ter razão e não a materializar?
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