quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

O meio e a mensagem plurais


Quando vejo um telejornal é o jornal da tarde da RTP1. Toda uma tradição sóbria de bom jornalismo televisivo, que tende a contrastar com os canais privados e com os Rodrigues dos Santos desta enviesada vida política. Serviço público, no fundo.

Ontem, a notícia sobre a tomada de posição política foi objectiva, dando a palavra a Ricardo Paes Mamede e sublinhando alguns dos pontos centrais da mensagem, incluindo as reações que gerou.

Realmente, Jerónimo de Sousa tem razão, dado que qualquer convergência entre as esquerdas parlamentares tem de partir de um caderno de encargos substantivo, tal como lá está indicado, creio, ainda que de forma necessariamente breve: da superação da herança da troika nas relações laborais à defesa do SNS que é serviço e não sistema ou à provisão pública de habitação, sem esquecer os constrangimentos europeus por superar e que tornam a mudança muito mais difícil.

5 comentários:

Anónimo disse...

Ficou claro que Costa queria eleições,no programa eleitoral do PS ,prometem a revogação das leis laborais,aumento do SMN para 900 euros(durante a legislatura) e semana de trabalho de 4 dias,Costa não aceitou as propostas das esquerdas e agora promete mais do que pcp,pev e bloco pediam para que o orçamento fosse aprovado.

Anónimo disse...

As próximas eleições legislativas, inicialmente previstas para o Outono de 2023, foram antecipadas para 30/1/2022 por vontade de quem hoje manda em Portugal (na política, nos negócios, nos media), com o GRANDE OBJECTIVO de tentar acabar com a influência que os chamados "partidos radicais de esquerda" tiveram na governação recente, sobretudo entre 2015 e 2019, mesmo sem terem tido responsabilidades governativas. Depois de reprovada na generalidade a sua proposta inicial de OE2022 - elaborada praticamente sem cedências aos parceiros de esquerda -, António Costa podia e devia ter apresentado nova proposta orçamental à AR eleita em 2019; contudo, fiel ao GRANDE OBJECTIVO, optou pela dissolução da AR - no âmbito dos poderes de Marcelo, também fiel ao GRANDE OBJECTIVO - e pela vitimização perante a "irresponsabilidade" dos parceiros de esquerda.

Sucede que o que conta para a formação de um Governo, a seguir a eleições legislativas, é a emergência de uma maioria de deputados que a viabilize na Assembleia da República. Foi assim que, logo após as legislativas de 2015 - em que o PSD foi o partido com mais deputados eleitos -, o PS acabou por ficar com o cargo de primeiro-ministro: https://www.publico.pt/2015/10/10/politica/noticia/jeronimo-de-sousa-diz-que-ps-so-nao-forma-governo-se-nao-quiser-1710730

É por isso que é um disparate encarar as próximas legislativas como um escolha para o cargo de primeiro-ministro, em que os candidatos seriam os líderes do PS e do PSD, Costa e Rio. Uma espécie de escolha entre duas formas de "navegação à vista", uma "costeira" e outra "fluvial", ambas procurando respeitar rigorosamente - com o zelo típico do "bom aluno" - os limites estabelecidos pelo colete-de-forças das regras e compromissos "europeus".

A presente campanha do PS, mediaticamente insuflada, pretende sobretudo dissuadir os eleitores de esquerda de votar no BE e no PCP-PEV: o "voto útil" seria o voto em Costa, mesmo que apenas para evitar a vitória de Rio. Contudo, há aqui dois problemas:

1. É provável que uma percentagem significativa dos eleitores de esquerda que desistirem de votar no BE e no PCP-PEV acabe por também não votar no PS, optando antes pela abstenção, como forma cómoda de protesto perante a "falta de convergência à esquerda";

2. É provável que uma percentagem significativa dos eleitores de direita que ultimamente têm estado virados para o voto no CDS, na IL e mesmo no Chega - ou para a abstenção, em nome da
"falta de convergência à direita" - acabe por optar pelo "voto útil" em Rio.

É possível que Rio acabe por ganhar a Costa, tal como Passos Coelho ganhou a Costa em 2015, mas de novo com a direita (mesmo alargada ao Chega e ao ambíguo PAN) sem maioria absoluta na AR. Estará o PS, nesse caso, à altura das circunstâncias?

A. Correia

Tavisto disse...

Estamos numa curva da estrada bem apertada. Costa já disse que só pega no volante se não houver curva. A porra toda é que a curva está lá.

Anónimo disse...

Entretanto, Jerónimo de Sousa desvaloriza "não" de Costa a nova "geringonça":

https://www.youtube.com/watch?v=LkWtl_IsxRI

Vale a pena ouvir tudo com atenção.

A. Correia

Rogério G.V. Pereira disse...

Hoje,depois de um irrecusável convite, tive uma longa conversa com oficiais da armada que tiveram intervenção activa no 25 de Abril. Gente não filiada, que me escolheram para ser mensageiro de mensagem diversa e a fazer dela entrega a quem vivamente interessa. Sem entrar em detalhe, para além de me manifestarem séria preocupação pelo "rumo que a barca leva", falaram-me insistentemente na necessidade de fazer integrar na campanha um termo necessário: "O voto útil"

Falei-lhes neste blog