quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

Baixar os impostos à espera que chova?

A direita elegeu como um dos temas centrais desta campanha a redução dos impostos, sobretudo para as empresas. Apesar das diferenças, PSD, IL e CDS defendem uma descida significativa do IRC (no caso do PSD, dos atuais 21% para 17%). Os três partidos dizem que a redução de impostos para as empresas será mais do que compensada pelo crescimento económico resultante. Foi o que o partido Republicano prometeu nos EUA, em 2017, quando aprovou a redução da taxa de imposto empresarial de 35% para 21%. O raciocínio dos defensores desta medida é o de que a redução dos impostos aumenta os fundos disponíveis para as empresas reinvestirem na sua atividade. A economia beneficiaria, por isso, de um reforço do investimento privado, da capacidade produtiva e dos salários. Só que a realidade foi bastante diferente.


Nos EUA, o crescimento prometido não se verificou nos anos seguintes e o investimento privado não acelerou especialmente. De acordo com as contas do Economic Policy Institute, os salários também não beneficiaram desta medida. O verdadeiro impacto foi para as empresas, que passaram a pagar menos impostos apesar de os seus lucros terem aumentado. Ao mesmo tempo, as receitas fiscais do Estado diminuíram e ficaram aquém do que se projetava antes do corte de impostos. Conclusão: os grandes beneficiados desta medida parecem ter sido os acionistas, cujos rendimentos aumentaram por via da valorização bolsista das empresas.


De uma forma geral, ao contrário do que a direita costuma argumentar, a evidência empírica não nos diz que haja uma relação entre cortes de impostos para as empresas e maior crescimento económico. Em junho do ano passado, os economistas Sebastian Gechert e Philipp Heimberger publicaram o estudo "Os cortes de impostos para as empresas estimulam o crescimento económico?", em que analisam a literatura relevante e mostram que os economistas não têm encontrado dados que suportem esta relação.

O estudo apoia a ideia de que o investimento privado não é apenas influenciado pela taxa de imposto paga e depende fundamentalmente de outros fatores, como a fase do ciclo económico e as expetativas dos investidores em relação à procura pelos seus produtos. E isso tem uma implicação importante: o Estado não precisa de cortar impostos redistributivos para dinamizar a economia e o emprego. Em vez disso, pode fazê-lo através de políticas de rendimentos e do reforço do investimento público.

5 comentários:

Jose disse...

Em 2018, pelos dados do Instituto Nacional de Estatística, “A proporção de sociedades com capital próprio negativo situou-se em 26,0%”; “40,0% das sociedades registaram resultados líquidos negativos”.

Se cuidassem de saber do que se trata semelhante desastre e onde estamos agora...

Anónimo disse...

Reduzir ou aumentar (todos os) impostos é tema controverso, importante, mas apenas parte do problema.
Importa, para complementar, analizar o como o governo irá orçamentar, redestribuir o coletado.
Em Portugal o desequilibrio das contas públicas continua a aumentar. Essa é a questão.
Neste momento o cidadão tem aberta a opção de escolher entre as duas tendências do como "taxar e redestribuir".

Anónimo disse...

Muito bem!

José Cruz disse...

A análise apresentada adaptada à realidade portuguesa, significa a capitalização das empresas através de créditos fiscais imediatos,obtidos pela redução do IRC em anos consecutivos, compensando em parte,ps balanços deficitários da actividade nos dois anos de pandemia.Esse crédito não garante qualquer aumento da actividade, do investimento e de aumento da produção e do emprego e muito menos dos rendimentos do trabalho, como o adiamento da prometida redução do IRS para 2025 e 2026,proposto pelo PSD,aí está para confirmar.

Anónimo disse...

Apoios sociais? Não há dinheiro.
Aumentar salários? Não há dinheiro.
Baixar as propinas? Não há dinheiro.
Contratar mais médicos? Não há dinheiro.
Baixar os impostos aos ricos? Aí já há todo o dinheiro do mundo.