segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Valentes asneiras

Vasco Pulido Valente (VPV) não percebe, nem quer perceber, o artigo que cinco economistas críticos escreveram no Público. Só alguém que desconheça totalmente a história das ideias económicas é que pode escrever coisas destas: «toda a economia é profundamente insensível e vive de abstracções sem prova empírica e deduções lógico-matemáticas» (Público 5/12/2008). Ficamos a saber que VPV ignora, por exemplo, a economia política institucionalista ou a economia pós-keynesiana. VPV desconhece que estas tradições, como os autores do artigo que «critica» assinalam, levam a cabo um trabalho académico em que o económico é indissociável do político, do moral e do institucional.

Neste blogue não nos temos cansado de divulgar abordagens, fora daquilo que na cabeça de VPV passa por teoria económica, que identificam os mecanismos, estruturas e processos que geraram a crise com que estamos confrontados. Essas mesmas teorias estão em boa posição para prescrever soluções para a crise. Aliás, alguma da política económica conjuntural de combate à crise tem sido inspirada, de forma mais ou menos explicita, por elas.

Estranha-se que VPV, investigador-coordenador de um laboratório associado do Estado na área das ciências sociais, considere que a economia não é «ciência» porque caso o fosse «não haveria agora crise (ou haveria uma crise com um remédio prescrito e infalível)». A prescrição de remédios infalíveis é um objectivo destituído de sentido no mundo dos assuntos humanos. Aliás, a falibilidade das ciências, sociais e naturais, é hoje um dado adquirido. Existem, no entanto, critérios que permitem distinguir a boa da má ciência, a boa da má teoria. Esta distinção é importante porque os remédios, que apesar de tudo são prescritos, procuram apoiar-se em argumentos considerados razoáveis à luz do conhecimento, sempre falível, vigente. É por isso fundamental que se submeta ao escrutínio, científico e público, as correntes teóricas que são mobilizadas para justificar e conceber os remédios para problemas comuns. É isto que propõem os autores do artigo em questão. Teorias desajustadas da realidade não são boas teorias prescritivas.

É surpreendente que um intelectual público e cientista social exiba um desdém tão vincado pela ciência e pela realidade. O mundo social não tem remédio para VPV. Qual é então o papel que o investigador-coordenador VPV concebe para o cientista social?

9 comentários:

A. Moura Pinto disse...

Eu, no que respeita a VPV, integro o grupo, admito que enorme, que reage assim: “VPV é contra? Então sou a favor” ou “VPV não quer? Então eu compro.”
Os 5 economistas, parece-me, não são cronistas ou colaboradores do Público. VPV é-o, com frequência acima, provavelmente, da sua disponibilidade. Por isso, o truque de ser contra o que alguém defende, é sempre mais fácil de explorar. Nem que tenha que se vender a alma ou a seriedade intelectual ao diabo.
VPV sabe que depois tudo se esquece. Só que ele não se esquecerá de apresentar o recibo.
Eu comentei o artigo aqui:

http://azereiro.blogspot.com/2008/12/lendo-os-outros.html

No que agora comento, apenas um reparo. Aceito os argumentos de quem não considera a economia ( e não apenas a economia) uma ciência, nos mesmo termos ou com as mesmas exigências com se chama ciência à física, por exemplo. E a minha escola foi o então ISCEF.

Mas compreendo o desabafo quanto ao texto do inenarrável VPV.
Quando sai da história, melhor é ignorá-lo.

Luís Oliveira Martins disse...

Como economista (político), não pude deixar de ficar perplexo com várias afirmações de VPV, onde o autor revela desconhecer o pluralismo que existe dentro da Ciência Económica. Infelizmente, não é o único "cientista social" da nossa praça a fazer afirmações sobre temas económicos completamente destituídas de senso.

Anónimo disse...

NUM APARTE, GOSTAVA DE VOS CHAMAR A ATENCAO PARA ESTA NO DIARIO ECONOOMICO DE HOJE:

Em reacção aos números do INE 2008-12-09 18:47 "o professor da Universidade Católica considera que "o período de Natal pode ajudar e também a redução do pânico no fim do Verão", mas "apesar disso, o quarto trimestre deverá ser pior que o terceiro". O economista não ficou surpreendido com os números do Instituto Nacional de Estatística (INE) que indicam uma contracção do Produto Interno Bruto (PIB) igual a 0,1% no terceiro trimestre. "Penso que [os dados] são normais, talvez até bons dadas as circunstâncias", declarou à Lusa. César das Neves acredita que Portugal vai ter uma "recessão que, em si, não é mau". "Seria importante que ela 'limpasse' o sistema económico português da paralisia em que vivemos há anos", defende. No entanto, o professor da Universidade Católica diz que "o mais provável é que as medidas adormeçam a dor e impeçam o ajustamento."

ESCAPA-ME ALGUMA COISA AQUI!!!! Uma recessao que limpa a paralisia... the cleasing effect... the liquidationist theory of the business cycle, yet again, still... esta malta nao aprende...

Anónimo disse...

E quem disse que a economia é uma ciência?
Também a teologia se ensina nas universidades?
Pura adivinhação

Anónimo disse...

O último alanzoador nem imagina como tem razão: a teologia é de longe mais científica que a economia, por isso 'é' a regina scientiarum que nos deu todos os saberes. Imagine o pobre a história da ciência sem Agostinho, Tomás de Aquino, Abelardo, Ockham, Nicolau de Cusa, Erasmo, os conimbricenses, ou Copérnico, Clávio, Bellarmino, Newton, Mendel.... etc., etc, et cetera...

Anónimo disse...

No essencial o outro pobre, o VPV, também não deixa de ter razão: a economia como a sociologia ou a linguística são artes - porra, até a medicina o é - e 'ciências'... às vezes. Ai a prova apodíctica... O velho estagirita ainda tinha muito a ensinar a estes 'cognitivistas', os cientistas sociais da treta.

Anónimo disse...

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Anónimo disse...

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Anónimo disse...

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