Agradecendo a Pedro Lains o seu mais recente contributo para o debate em torno da necessidade de pluralismo no ensino da Economia, venho assinalar três acordos e um desacordo.
1º (quase) acordo: Aprender, descobrir, explicar, resolver problemas, é “mais relevante do que propriamente “saber” o que é a Economia”. Sim. Sobretudo se “saber” o que é Economia (ou mesmo saber o que é ciência) significar procurar estabelecer critérios que permitissem estabelecer o que é e o que não é Economia de uma vez por todas. Serei o último a tentar sequer fazer esse exercício. Mas serei o primeiro a querer discutir o assunto quando existe quem diz “saber” o que é (e o que não é) Economia e usa esse “saber” e esse poder para excluir concepções diferentes de Economia. Pedro Lains certamente já se deu conta da inconsistência. Afinal foi ele quem escreveu: “Economia Política não é Economia”. Se fosse só ele, num momento de descuido, isso não teria importância nenhuma e seria desculpável. O problema é que os departamentos de Economia (e os painéis de avaliação dos projectos de investigação em Economia) estão a abarrotar de economistas que afirmando ser pouco importante “saber” o que é a Economia (e o que não é), não hesitam em disparar a torto e a direito com uns “isso não é Economia”, sempre que não concordam com o “espírito” da coisa. Com essa arrogância é preciso cortar de vez.
2º acordo: “A argumentação não fundamentada passa facilmente à nossa frente, sem nos apercebermos, desde que concordemos com o espírito da mesma”. Sem dúvida, os hábitos de pensamento são poderosos, por isso é que o escrutínio crítico e público é essencial.
3º (quase) acordo: “Temos de estar atentos à solidez dos pressupostos e dos argumentos”. Exactamente. Também dos pressupostos. Mas infelizmente a ideia de que o realismo dos pressupostos é irrelevante (de Milton Friedman) é um hábito de pensamento dos tais economistas que acham que a epistemologia é só uma coisa “fina” que não serve para nada. Não sei se “solidez” quer dizer “realismo”. Cá entre nós parece-me que foi uma palavra escolhida para evitar “realismo” e, portanto, divergir de Friedman.
Desacordo: “Todos estes problemas se podem resolver, nunca definitivamente, claro, com a explicitação do modelo em causa e a reunião de informação quantitativa necessária ao teste do modelo”. O confronto do modelo com informação factual é sem dúvida importante. Tão importante como a observação prévia à construção do modelo. Mas o “teste” nem provisoriamente resolve sempre os desacordos. Toda a informação factual depende de pressupostos tão fortes como os do próprio modelo que está a ser testado.
Mas este último desacordo levava-nos aos tais temas epistemológicos e metodológicos. Levava-nos a perguntar a nós próprios: Afinal o que andamos aqui a fazer? Que autoridade podemos reclamar para os nossos argumentos? Que confiança podemos ter nas nossas convicções? Que espaço devemos deixar às opiniões divergentes?
Um agradecimento também a Rui Tavares.
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3 comentários:
A discussão sobre o ensino da Economia chegou à praça pública (ou, se preferirem, à blogosfera, que parece começar a constituir-se, cada vez mais, como a praça pública do séc. XXI). Chegou-nos centrada na questão da ligação entre as teorias estudadas nas escolas de Economia, as práticas dos economistas profissionais e as dificuldades económicas actuais. Mas inevitavelmente, diria eu, rapidamente resvalou para a discussão em torno das “velhas” questões da epistemologia e metodologia económicas. As tais questões regra geral consideradas pouco “relevantes” e, também por isso, mas não só, cada vez mais marginalizadas do chamado core dos curricula dos cursos de Economia.
E contudo, como o revela o último texto do Pedro Lains no seu blog, essas são questões incontornáveis quando se quer “pôr as mãos na massa”. Não porque tenhamos de lhes dar uma resposta antes de prosseguir com o trabalho teórico e empírico. Este poderá, sem dúvida, ter lugar como se elas não existissem. A verdade, porém, é que tais questões não deixam de lá estar. Silenciosas, ocultas, mas de certa maneira determinantes. As estratégias de investigação sobre problemas “concretos” constroem-se com base em pressupostos que, em última análise, remetem para a assunção de um determinado entendimento acerca do que é a Economia, sobre a natureza dos problemas que aborda e o modo como os teorizamos, sobre os métodos que legitimamente pensamos poder convocar (ou não) para a sua análise.
Por isso é importante discutir estas questões e levá-las de novo para dentro das nossas salas de aula. A marginalização da história do pensamento económico e da reflexão metodológica no ensino da Economia, a par com o estreitamento dos horizontes dos alunos – reduzidos às teorias e hábitos de pensamento mainstream – deixou-os desarmados. E o mesmo vem acontecendo, como não podia deixar de ser, com os profissionais da economia, cada vez menos aptos a lidar com a complexidade e a incerteza (a não ser, na melhor das hipóteses, quando a conseguem reduzir ao risco probabilístico).
Por tudo isto também, é importante reflectir e debater (com espírito de quem quer aprender – parabéns, JM, pelo exemplo que nos dás – mais do que ensinar pretensas certezas). As “verdades” aparentemente indiscutíveis, como a de que o “económico” tem de ser dissociado do político, do moral e do institucional para que a “ciência” económica possa ter lugar, ou a de que a quantificação e/ou formalização é imprescindível a toda e qualquer abordagem “científica” da Economia, estão longe de ser consensuais.
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