sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

"É a ignorância profunda que inspira o tom dogmático"


Não estranho que Vasco Pulido Valente ignore o caminho que a filosofia das ciências fez na segunda metade do século XX.

Agora, custa-me ver nos comentários à posta do João a pequenez de horizontes que se instalou na nossa academia. Por falta de tempo, limito-me ao seguinte:

Pedro Lains e Pedro P. Barros exibem com convicção o seu entendimento positivista do conhecimento científico. Imagino que, para eles, a Física é o modelo de conhecimento rigoroso que a Economia deve perseguir. A este positivismo respondo com a seguinte citação: "O que mais me toca em tudo isto é que os vários dados que apresentei conduziram-nos a um ponto de vista filosoficamente muito diferente do de Descartes, Newton etc., e, também do de Einstein. ... Einstein aderia a uma espécie de pitagorismo - ou de "realismo matemático" - que também era uma ontologia. Para todos eles, havia uma espécie de face a face entre o homem de um lado - representado pela ciência - e a realidade (em si mesma) do outro. Acho que a física actual nos obriga, praticamente, a renunciar a esta imagem de um face a face em que o homem decifra pouco a pouco o real em si. E penso que ela nos convida insistentemente a substituí-la pela de uma co-emergência." (Bernard d'Espagnat, "Physique et Réalité" em Os Outros Em Eu, IPATIMUP, Porto 2001, pp. 155-160).

Nina Aguiar apresenta uma crítica ao positivismo a partir de Karl Popper. Também parece convencida de que a filosofia das ciências parou aí. Amigavelmente, sugiro-lhe que vá mais além. Não precisa de deitar fora tudo o que Popper defendeu, mas terá de reconhecer-lhe limitações e erros. A mim, ajudou-me a leitura do capítulo 3 deste livro. Por outro lado, quando discute o que hoje se sabe sobre o comportamento das mulheres, espero que não embarque na pseudo-ciência do sociobiologismo, ainda que sob a roupagem da moderna Psicologia Evolucionista.

Desde já revelo as minhas preferências: o velho Pragmatismo. Uma boa introdução é este livro de Nicholas Rescher. Este outro vai directamente ao núcleo central do debate, ainda no plano das "ciências duras". Para os fisicalistas na ontologia e positivistas na epistemologia, é simplesmente demolidor.

John Dupré tem dirigido críticas bem fundamentadas às explicações geneticistas do comportamento humano, o que (embora alguns julguem que não) também inclui a Psicologia Evolucionista. Neste livro, os economistas encontram um capítulo inteiro (cap. 6) de crítica à Teoria da Escolha Racional assumida pelo pensamento dominante.

Por agora é o contributo possível para o debate. Aos economistas que queiram aprofundar estas matérias só posso garantir uma coisa: é gratificante alargar horizontes. Ao mesmo tempo, torna-nos mais humildes, o que também é bom ... para nós e para a sociedade.

3 comentários:

Anónimo disse...

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