quinta-feira, 7 de maio de 2015
Dentro ou fora do consenso?
Vítor Bento, já totalmente recuperado das últimas aventuras bancárias, declarou ontem ter recebido “com agrado a componente liberal que é trazida a esta discussão” pelo relatório do PS. Compreendo bem o seu agrado, já que nosso é o desagrado. Este bloco central no campo intelectual abre caminho ao político, como também defendeu Bento num debate no ISEG sobre o tal relatório. Confirmando que isto está tudo ligado, o sempre subestimado Cavaco Silva, que ainda sabe uma ou duas coisas sobre hegemonia, convidou esta semana Mário Centeno para os últimos roteiros do futuro.
Assim, o futuro parece ser mais uma década perdida para a maioria. Já serão duas: um sucesso este euro, não percam a esperança e, entretanto, tratem mas é de fazer força, enquanto as nossas elites gemem com ficções: será que a UE alguma vez poderá ser como os EUA? Sim, parece que também para amplos sectores da esquerda, os EUA são o futuro normativo que justifica os presentes sacrifícios. Com o tal “consenso europeu”, a regressão também é ideológica.
Todos estes desenvolvimentos tornam ainda mais necessária a formação de um pólo político popular e nacional, o tal povo unido, mas, ao contrário do que aqui já defendi, não deverá substantivamente tratar-se de um terceiro pólo, mas antes de um segundo, ou seja, da construção de uma verdadeira alternativa soberanista e democrática ao tal consenso intelectual e político do bloco central. Ancorada em valores de esquerda, terá de ser capaz de atrair todos os que, na direita democrática ou subjectivamente fora da divisão esquerda/direita, acham que isto ainda pode e deve ser um país, recusando aventuras federalistas, outros tantos caminhos hayekianos, em nome da recuperação nacional de instrumentos de política, sem os quais só haverá esta impotência pós-democrática.
E por todos estou a pensar, só para dar um exemplo num campo intelectual atrofiado, em Pacheco Pereira, caso este tire as ilações políticas positivas do que tem vindo a escrever nestes dias que são realmente do lixo: “Pobre país o nosso, entregue a estas cabeças e a este desastre ambulante que é hoje a Europa. Esta é das previsões mais fáceis de fazer: vai haver surpresas e todas elas fora do ‘consenso europeu’. É que a história não é feita de modelos”. As franjas, sempre as franjas, reparem.
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8 comentários:
Estes temas começam a ser uma seca.
Quem governa, ou gere o capitalismo ou o destrói.
Quem não tiver a intenção de o destruir - sabe-se lá a troco de quê - não tem grandes alternativas.
Esta conversa de manter o capitalismo enquanto o destroem é conversa de revolucionários retóricos que nem ...saem de cima.
O das 23 e 01 não quererá dizer que os seus comentários não começam a ser uma seca porque há muito já o são?
"Quem não tiver intenção de o destruir- sabe-se lá a troco de quê..."este sabe-se lá a troco de quê é por demais revelador
A troco de muita coisa:
"Não permitir o domínio do capital sobre a sociedade. É a relação com o capital que assinala uma posição de esquerda, é portanto uma posição política de poder, uma relação que afirma a soberania de uma sociedade não capitalista. Não permitir que um grupo social seja autorizado a converter o interesse geral no seu próprio interesse existencial.(Frederic London-A esquerda não pode morrer, Le Monde Diplomatique -ed. portuguesa-, setembro 2014)
Ser de esquerda não é certamente fomentar a precariedade: "uma massa desprotegida, em total impotência, oferecida ao despotismo do capital – como se isto representasse "eficiência". Não é também, subordinar a sociedade ao excessivo poder da finança de tal forma que a expõe à alternativa de a salvar ou perecer com ela. Ser de esquerda é portanto reconhecer e lutar pela necessidade imperiosa de mudar as estruturas financeiras e passa inicialmente pelo controlo público da banca. O escândalo não foi salvar os bancos, foi terem sido salvos sem a menor contrapartida dando-lhes carta-branca para retomarem os seus tráficos.(ibidem)
Não será política de esquerda defender a "democracia liberal", que sempre consistiu na da repressão das classes trabalhadoras e na desigualdade. Não será ser de esquerda, destruir, pelas privatizações, a economia mista definida na Constituição. Ser de esquerda, não é certamente enfraquecer o Estado, tornar inútil ou ineficiente o controlo público sobre as grandes empresas e a finança e dizer que isto é democracia. Tal como não é chamar totalitarismo à participação popular, ao combate às desigualdades, à subordinação do poder económico ao poder político.
Não será política de esquerda, considerar que as contradições antagónicas do capitalismo podem ser resolvidas por uma reforma fiscal. Hemingway dá-nos em Por Quem os Sinos Dobram uma clara imagem do falhanço do reformismo, quando um combatente republicano responde a Jordan, internacionalista norte-americano: " Esses impostos parecem-me revolucionários. Eles (os grandes proprietários) vão-se revoltar contra o governo quando se virem ameaçados, exatamente como os fascistas fizeram aqui". Eis a raiz do neoliberalismo.
O que pode distinguir uma esquerda consequente de meros palradores ou oportunistas é a definição do papel do Estado: o que controla, a favor de quem e de quê. É bater-se pela soberania como forma de defender os interesses nacionais e populares. É defender o planeamento democrático e a análise económica baseada na avaliação de custos e benefícios sociais.
Pode-se ser de esquerda sem se assumir como marxista. O que não se pode, na nossa opinião, é pretender ser-se de esquerda e simultaneamente antimarxista. Sem o marxismo não é possível entender cabalmente o funcionamento do capitalismo nem a dinâmica das suas crises.
Ser de esquerda será também lutar pela unidade patriótica e popular contra o neoliberalismo fascizante, impulsionado pelas estruturas da UE. Será também, garantir a iniciativa popular dentro e fora do parlamento, e lutar para que o socialismo seja uma realidade numa Republica democrática."
Daniel vaz de Carvalho- "Ser de Esquerda"
(Espero que o problema do das 23 e 01 em relação a quem está por cima seja resolvido a contento dos interesses dos envolvidos nestas coisas do seu foro.)
De
De
8 de maio de 2015 às 00:19
Qual é o político no poder no mundo que, na sua perspectiva, é de esquerda?
Uma pergunta tola.
Político?
Importante são as políticas.
Não sou propriamene adepto do culto de personalidade.
Mas que os há de esquerda isso há.
Por exemplo o João Rodrigues (que não é político no sentido tradicional do termo, mas que asusme como todos nós posições políticas) é de esquerda.Também não está no poder, não é?
O anónimo das 11 e 01 também as assume. mas não sei se é de esquerda ou de direita. Acho-o é pouco esclarecido.
Agora é ir cotejar o aqui dito com a realidade dos que estão no poder.E não olhe só para a Euorpa que o mundo é muito mais amplo.
Felizmente.
«uma massa desprotegida, em total impotência, oferecida ao despotismo do capital...»
Eis como os esquerdalhos gostam de ver os trabalhadores.
E sempre se verificou que, onde tomaram o poder, cuidaram de lhes assegurar esse estado de impotência,
Veêm-se como libertadores e sempre acabam algozes.
'Massa' é o conceito que mais prezam e no capitalismo odeiam mais que tudo o individualismo e a liberdade que este pressupõe.
"Não sou propriamene adepto do culto de personalidade."
Eu também não. Mas a minha pergunta ia no sentido de perceber se, para além de 'políticos' como o João Miranda, considerava que há neste momento algum político/governo em exercício que defenda/implemente as políticas de esquerda que enumera. Ou seja, se essas políticas extravasam o debate político para o exercício governativo em algum país.
"esquerdalhos"
Jose está a perder o recorte. Alguma frustração passará por aqui.E mais alguma coisa
Então não era que a "seca" se transforma mais uma vez num rosário de pieguices?
Retomando aquele tom de escrita panfletário mas particularmente ridículo pelo tom superlativo com que se auto-proclama? "Conceito que mais prezam" (SIC) "odeiam mais que tudo".
Algozes?
Hum...Ainda aí ao lado encontrámos o jose a branquear os crimes do nazi-fascismo dizendo que não queria saber de tal.
Sejamos frontais e voltemos ao tema em discussão que é o post do João Rodrigues Já o disse e repito. Mesmo que visto de perspectivas diferentes, mesmo que haja opiniões ou sensibilidades diferentes ( estou a falar nos que lêem este blog) é inegável o prazer que constitui a leitura dos seus textos. E a pedrada no charco que despoletam.
São precisamente estes os motivos que ocasionam os comentários sobre "secas" e sobre os "algozes" e as " massas"?
Pois é. Também aqui se confirmam alguns ensinamentos de Marx. É a luta de classes e jose está do lado em que está. Ao lado de passos e de cavaco, de carlso costa e de salgado, de merkel e de portas, dos banqueiros e do Capital
Agora é voltar ao texto de JR e perceber as várias leituras ( e avisos à navegação) que o atravessam.
De
"João mirana"?
Quem é este?
Tive que ir procurar na net e quem encontrei foi alguém nada recomendável, uma espécie de hayek em versão portuguesa, com um tom abjecto de escrita r que anda de mão dada com a helena matos e um tal cunha. Fiquei tão pasmado com a escrita ao nível do bas fond que ainda estou com náuseas.
Não sei se tal foi um gesto falhado do anónimo mas se o foi é tão deliciosamente revelador, lol.
Pelo que lhe repito o dito. Veja bem, não é dificil. É ver o que se escreveu e verificar se o fato serve a alguém.
Que tal sair da sua zona de conforto e trabalhar um pouco mais?
Eu dou-lhe uma ajuda. Comece por ler o útil texto de João Rodrigues . Leia esta frase ."É que a história não é feita de modelos”.
Que diacho. Em 1347, um esclavagista disse também que não conhecia ninguém que governasse sendo anti-esclavagista. Não há qualquer documento escrito mas o seu conteudo poderia ser este:" essas políticas não extravasam o debate político para o exercício governativo em algum país."
Deposi foi o que se viu
De
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