terça-feira, 26 de maio de 2015

A miséria moral da caridade, das políticas que a promovem e das organizações que a praticam


Vale a pena ler na íntegra a recente notícia do Público sobre o caso de uma mãe, em Sesimbra, que perdeu a ajuda alimentar por se queixar de ter recebido leite fora do prazo, para uma bebé com seis meses. Por mais insólitos que sejam os detalhes deste episódio, ele traduz, muito mais do que se possa pensar, o padrão de actuação das organizações privadas de solidariedade social e, sobretudo, os arranjos institucionais que potenciam este tipo de situações e nos quais repousa a florescente economia política da caridade.

Já não se trata apenas da ideia, latente, de que «para quem é, bacalhau basta». Isto é, a percepção mais ou menos subconsciente, de técnicos e dirigentes, segundo a qual «o pobre» é uma espécie de cidadão naturalmente diminuído, pela sua condição e perante os que o «ajudam», nos seus direitos e dignidade. Tal como já não se trata apenas do desequilíbrio de poder que se estabelece e que cunha, de forma indelével, a relação entre organizações da «sociedade civil» e seus beneficiários, e que impede que muitos casos, como o da mãe de Sesimbra, cheguem ao conhecimento da opinião pública. Isto é, a subordinação, explícita ou tacitamente imposta, que levou Andreia Branco, durante algum tempo, a não reclamar pelo leite fora de prazo, para «não parecer pobre e mal-agradecida». Como já não se trata somente das consabidas discricionariedades, subjectivismos, despóticas arbitrariedades e sobranceiros julgamentos morais, que impregnam as práticas assistencialistas, reforçadas nos últimos anos com o bolor salazarento da «sopa para os que são pobres» e da caridadezinha.

O dado novo, mais relevante, é o do incentivo e total legitimação política desta cultura retrógrada e moralmente desprezível de intervenção social, que se quer hegemónica. Como? Dispensando estas organizações de qualquer espécie de escrutínio e do cumprimento das mais elementares regras de política social pública (incluindo a dignidade e a qualidade das respostas), ao mesmo tempo que são despejados, sobre elas, abundantes recursos orçamentais. Muito para lá - sublinhe-se - dos recursos que foram retirados às famílias, no âmbito dos apoios que até aqui recebiam, com acompanhamento técnico, através do RSI ou do CSI. Bem vindos pois à «indústria da pobreza» de Isabel Jonet, que contribui para que o Estado «não se meta demais em coisas em que não deve» e onde a «a caridade vale mais que a solidariedade», pois «é amor (...) e serviço». Como pôde aliás constatar a mãe da bebé de seis meses, Andreia Branco.

19 comentários:

Jose disse...

«desta cultura retrógrada e moralmente desprezível de intervenção social»
Tratemos primeiro das pieguices:
A burocracia impõe normas de segurança que potenciam o desperdício alimentar.
Isso cria a oportunidade de beneficiar quem tem carências económicas.
Ferver o leite é método seguro de validar a qualidade e assim foi durante séculos com leite disponibilizado por meios que horrorizariam os modernos.
Mas para a cultura do 'dado e arregaçado' da esquerda das avenidas lisboetas tudo isto é do reino do absurdo, inaceitável e transmontano.
Ser pobre é sempre ser vítima, com direito a indidcutíveis primeiras qualidades.

Anónimo disse...

É tão giro ter os nossos pobrezinhos ! É muito difícil de perceber que são os nossos impostos que devem pagar aos mais frágeis e é ao Estado que cabe ajudá-los.
Que tempos nojentos!

David Leite disse...

Parabéns Nuno Serra. Grande artigo!

Anónimo disse...

Deviam fechar todas já! Hoje!

Anónimo disse...


Já vem dse longe... (como o "Constantino"...) e o José Barata Moura nos anos 70, cantava (e bem!)
É PRECISO QUE OS POBRES SE REVOLTEM!

Vamos brincar à caridadezinha
Festa, canasta e boa comidinha
Vamos brincar à caridadezinha

A senhora de não sei quem
Que é de todos e de mais alguém
Passa a tarde descansada
Mastigando a torrada
Com muita pena do pobre
Coitada

Vamos brincar à caridadezinha
Festa, canasta e boa comidinha
Vamos brincar à caridadezinha

Neste mundo de instituição
Cataloga-se até o coração
Paga botas e merenda
Rouba muito mas dá prenda
E ao peito terá
Uma comenda

Vamos brincar à caridadezinha
Festa, canasta e boa comidinha
Vamos brincar à caridadezinha

O pobre no seu penar
Habitua-se a rastejar
E no campo ou na cidade
Faz da sua infelicidade
Alvo para os desportistas
Da caridade

Vamos brincar à caridadezinha
Festa, canasta e boa comidinha
Vamos brincar à caridadezinha

E nós que queremos ser irmãos
Mas nunca sujamos as mãos
É uma vida decente
Não passeio ou aguardente
O que é justo
E há-que dar a toda a gente

Não vamos brincar à caridadezinha
Festa, canasta é falsa intençãozinha
Não vamos brincar à caridadezinha
Não vamos brincar à caridadezinha
Não vamos brincar à caridadezinha

Margarido Teixeira

Jose disse...

Há que fazer leis e regulamentos que proibam a pobreza.
Orçamentos engordados para que nada falte.
Funcionários contratados para lhe darem fim.
Pressurosas inspecções zelarão que nunca os funcionários possam manifestar o menor indício «desta cultura retrógrada e moralmente desprezível de intervenção social».

Ser pobre será opção para invocar os direitos que lhe porão um fim.

Não à caridadezinha!
Sim aos impostos sobre tudo o que mexa ou esteja quieto!

Aleixo disse...

Quando se utilizam casos concretos, é preciso ter atenção ás ilações.

Anónimo disse...

A defesa abjecta ( mais uma vez o termo, mas não encontro outro) da pobreza como condição de vida e como consequência de malandragem.

A defesa abjecta ( mais uma vez me falta uma outra palavra) para a inevitabilidade da pobreza e da caridadezinha repelente que consubstancia um pensamento à jonet assustador,retrógrado, hipócrita, carunchoso, iníquo e profundamente defensor (e cúmplice) do status quo actual

A defesa abjecta (mais uma vez) do insulto traduzido na acusação de piegas a quem simplesmente reivindica o respeito pela sua condição de ser humano e no direito a ter alimentos de qualidade para o seu bebé.

Para o seu bebé! Aflige a ignorância ( mas não é de estranhar para quem tem tanto rancor ao conhecimento) de quem escreve isto:"Ferver o leite é método seguro de validar a qualidade "

Ferver o leite não garante que o produto fica livre de bactérias nocivas, mesmo porque as condições caseiras não permitem a eliminação dos agentes causadores de doenças eventualmente presentes no leite cru. Há tipos de bactérias como o Bacillus cereus que a fervura pode até mesmo estimular sua disseminação no leite e provocar intoxicação alimentar.

" foi durante séculos com leite disponibilizado por meios que horrorizariam os modernos" é apenas a confirmação do incrível horror aos conhecimentos da Ciência e do apego à mediocridade e à ignorância que se traduzem ideologicamente na defesa medieval dos direitos sociais e da escravatura moderna.

Para o seu bebé! Leite fora de prazo , indicador abjecto ( ainda mais uma vez) da caridadezinha (abjecta sem sombra de dúvida) e do que esta de facto significa na nossa sociedade miserável e sem remissão.
E ainda há quem a defenda desta forma... ( mais uma vez)

De

Unknown disse...

É claro que faz todo o sentido os pobres andarem a ferver leite estragado quando os produtores até têm que deitar leite fora porque passam as cotas impostas pela UE. Enfim, imbecis serão sempre imbecis. De certeza que o vão ferver no fogão que não têm, se tiverem a sorte de o ter falta saber se têm gás ou electricidade. Alguma malta que anda aqui a comentar de barriga cheia vê-se mesmo que nunca passaram por nada disto. Qualquer é a ti que te dizem para o ferveres, e com sorte ainda o fazes com o sol de certeza.

Anónimo disse...

Jose

és mesmo um cão
um cão raivoso
metes pena...e nojo

Anónimo disse...

Não será necessário lançar impostos sobre tudo o que mexe ou não, para termos uma sociedade decente, para não termos sem-abrigo , nem voluntários para ajudar pobrezinhos. Tivessem os impostos a função para o que realmente foram criados e não para pagar negócios particulares, uns atrás dos outros, que nos levam à bancarrota!

Anónimo disse...

Os impostos deviam dobrar ou triplicar mas era para sujeitos como o José.
Por cada idiotice que diz (e são mais que muitas) e por cada ideia estapafurdia( e são também mais que muitas) imposto para cima. Podia ser que assim resultasse.

Unknown disse...

O escrutinio indespensavel dos dinheiros entregues aqui como no estrangeiro a ONG,solidariedades varias, precisa sem dúvida dum trabalho mais cuidado de jornais ou blogues que o queiram fazer. Os institutos do estado nunca farão esse necessario trabalho que traria enormes desperdicios, gastos injustificados(Tecnoforma?) e multiplicação de gastos para fazer o mesmo. Quando do terramoto no Haiti e chegaram as forças americanas, andaram nos dois dias apenas a ajudar os voluntarios que tinham ido para lá, como herois de filme e se encontravam em risco de vida por não haver com que viver. A quantidade de associações que pedem dinheiro, fazem sorteios, recebem apoios inclusive do I.Seg Social e mal gastam tudo em manutenção interna, restando muito pouco do seu trabalho. Quando do Tsunami bem a Ordem medicos indonesios pediram que não mandassem medicos que tinham muitos. A AMI gastava por cada um 650 mil € na s"solidariedade" de pacotilha.

Jose disse...

A indignação das excelsas criaturas dotadas de uma 'enorme sensibilidade social' sempre assegura que nada saibam do como fazer para resolver problemas concretas.
Rebanho que se auto-satisfaz com a retórica da sua excelsa bondade, têm na negação da realidade e na ignorância do possível o arrimo seguro da sua pretenciosa inconsequência.
Ele é o leitinho do bébé, ele são os 'negócios' da Jonet, a canasta e o cházinho da pqp, tudo serve para se reverem na idiota figurinha que constroem para seu deleite egoísta e reles.

Anónimo disse...

Pois é , o leite do bebé

Transformado em "leitinho" numa suja degradação do que se debate e condena.

Pasmado pela invocação da ignorância logo de quem, numa demonstração espantosa da dita, replica uma absurda invocação do conhecimento da saúde e da doença de há alguns séculos. Agravado pela pusilanimidade de não reconhecer os disparates escritos desta forma que faz lembrar um pregador da inquisição a flagelar quem não lhe segue a tonitruante ideologia e os processos medievais.

Mas o que espanta é que, depois do silêncio sobre o desmontar do seu palavreado à jonet, continue a tentar servir-se da "negação da realidade e da ignorãncia do possível, como justificação do que consubstancia um crime - o dar alimentos fora de prazo, leite ainda por cima, a uma bebé de seis meses.

Eis o retrato dantesco não só do estado a que chegámos mas também da fibra ideológica, humana e de carácter, escondida atrás agora das canastas e dos chazinhos da pop(????) de quem tem estes princípios como mandamentos divinos.

(Ele, logo ele, que perante esta notícia de 2013 "Salário de Ricardo Salgado baixou para 552 mil euros" se colocou inequivocamente ao lado da "remuneração justa do banqueiro", predizendo já nessa altura a necessidade que este teria para comprar o seu leite ainda dentro do prazo)

De

Anónimo disse...

No fundo tudo se resume a isto:

Como resolver problemas concretos?

Dar leite fora de prazo a bebés de seis meses,acompanhar o "leitinho" por um manual do século XIV sobre cuidados de higiene, punir as crianças com a fome se as mães recalcitrarem, distribuir imagens de dona isabel jonet em santinha da ladeira, impingir medalhões de cavaco em amena cavaqueira com passos, perdoar aos salgados e aos oliveira e costa e aos belmiros e aos soares dos santos porque afinal somos todos culpados, e fazer um peditório para manter o nível de vida dos que mais têm, já que com a crise ainda viram a sua prosperidade crescer mas eles necessitam ainda mais de "leite"(dentro do prazo ,claro)

Ai de quem negar esta realidade.Um chazinho ,a canasta,a crismação de "idiota" com o certificado dum torquemada e nem um estranho "pop" escapará da colecção de inventivas

(Como se compreende não há qualquer "pop" escrito,mas sim outra coisa. Mas sinceramente é bom manter as distâncias higiénicas e deixar estas coisas reservadas para o nível do debate que jose /JgMenos gosta, cumpre e que professa).

De

Anónimo disse...

Percebe-se como é que gente da cepa desse José resolve os "problemas mais concretos" : quando falta a argumentação parte-se para o insulto.
É o esperado das mentalidades do "para quem é bacalhau basta".
Por mais palavreado em que o José embrulhe o seu discurso, o cheiro que dele vêm é facilmente reconhecido por todos e só dá é vontade de voltar a cara.
Espero sinceramente que nunca mas nunca se venha a encontrar numa situação de pobreza tal que o obrigue a recorrer à sua tão amada e lava consciencias caridade.
Talvez só nessa altura percebesse do que aqui se fala...

Anónimo disse...

José, és uma besta ignóbil, fruto de uma sociedade hipócrita, egoísta e superficial. Deixo uma ideia no ar, IMIGRA!

Anónimo disse...

Grande artigo !! È mesmo isso !!

Nos comentários pode-se encontrar os assustados com problemas de auto-estima do costume. Precisam dos pobres para poderem sentir que tem poder já que na vida não conseguem mostrar nem ser nada. A grande maioria é mesquinha e frustada por não conseguir pelo seu mérito sentir-se alguém. Sentir-se uma pessoa !!

E o pobre como não se pode defender é vítima desta gente que num mundo em que todos tivessem mesmo as mesmas oportunidades seriam eles os "pobres". Mas são pobres na mesma porque na sua pequenez e insignificância vivem no medo, o medo de saberem o que são e que só não pobres porque são os protegidos; e se um dia a proteção acaba o que vai ser de mim, pensam a todo o momento !!

Se alguma coisa ou serviço não serve para mim ou para os meus também não serve para ninguém.

Organizações da sociedade civil sim mas sem fundos públicos queria ver quantas ficariam !!!

Solidariedade !!! Não caridade !!! É para isso que eu pago impostos !!!