sexta-feira, 1 de maio de 2015

1º de Maio


Comemorando o 1º de Maio, o australiano Bill Mitchell, um dos mais lúcidos e empenhados economistas dos nossos dias, mostra-nos a evolução do desemprego europeu nos últimos quinze anos.

De realçar o impacto da Grande Recessão de 2008 e o efeito estabilizador do agravamento dos défices públicos entre 2009 e 2010. Uma nova Grande Depressão foi evitada. Mas a lucidez durou apenas o tempo da sobrevivência no imediato.


Na Europa, o apelo à austeridade feito pelo presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, em nome do tresloucado universo da finança, foi eficaz. A hegemonia do pensamento ordoliberal rapidamente recuperou do abalo e sufocou o improvisado momento keynesiano da crise (ver Mirowski). O desemprego gerado pela nova política pró-cíclica da UE não tardou. A taxa de desemprego subiu para valores inimagináveis, criando um desastre social na periferia sul e uma perigosa tendência para a deflação.

À beira do precipício, desde 2013 que a UE tem aceitado o deslizamento do horizonte de cumprimento das metas do défice a troco das chamadas “reformas estruturais” que submetem o capitalismo periférico às normas do ordoliberalismo alemão. Uma forma de travar a espiral depressiva sem perder a face e mantendo o essencial, a reconfiguração do Estado social.

O BCE por duas vezes remediou a situação, no Verão de 2012 com a promessa de compra da dívida que fosse preciso para baixar as taxas de juro e, em finais de 2014, ao prometer uma extraordinária política de inundação de liquidez que fez desvalorizar o euro e, por essa via, subir os preços das importações, o que parece estar a travar a deflação.

Seis anos depois, tendo-se partido o elo mais fraco da periferia, a Grécia, a UE está confrontada com a sua etapa terminal. Mesmo que consiga subjugar o governo grego – o povo quer um acordo a qualquer preço – nada será como antes. Ficou à vista que uma política favorável ao mundo do trabalho não é possível nesta UE ordoliberal. Hoje, quem defende o emprego já não pode vir dizer-nos que isso se consegue mudando por dentro esta UE. Mais, dizer que devemos assumir uma taxa “natural” de desemprego de 11% (Mário Centeno, no Expresso da Meia Noite) é não só um insulto aos que sofrem com esta política mas também situa o discurso dos economistas do PS no pensamento económico responsável pelo desastre que estamos a viver. Daí o acolhimento favorável que teve em alguns sectores do centrão político.

18 comentários:

Anónimo disse...

1º de Maio dia do trabalhador, e os pilotos da TAP em greve porque querem tornar-se capitalistas.
Irónico.

cumps

Rui Silva

Jose disse...

«mantendo o essencial, a reconfiguração do Estado social»
Sem dúvida!
O Estado social estava na deriva para o Estado Providência, maná seguro de toda a malandragem.

«uma política favorável ao mundo do trabalho não é possível nesta UE ordoliberal»
Não creio que seja verdade; o mundo do emprego está em crise mas para o trabalho sempre haverá oportunidades.

Manojas disse...

Não chega! É preciso contra-argumentar com argumentos, com números, com cálculos, soluções. Éra bom que todos os partidos apresentásem o seu programa político para o país, apoiado em pareceres económicos, naturalmente. É o que o PS está a fazer. Confrontem-no! A pequena crítica avulsa, não chega.

Anónimo disse...

Os pilotos da TAP estão em greve para se tornarem capitalistas?

E o primeiro de Maio é o dia do Trabalhador e tal associação perturba o sr silva?

Mas esse não era o objectivo programático do outro sr silva que defendia que os trabalhadores vingariam se se tornassem todos capitalistas? O mito do "capitalismo popular" que tão belos frutos deu por cá, nas acções vendidas pelo sr silva ou nos bancos do sr silva ou nas PPP do sr silva e restantes partidos do arco de governação?

Não vou ter a grosseria de dizer que é irónico ambos os srs se chamarem srs Silva. Mas o que é mais do que irónico é o que parece o ranço anti-trabalhador por parte de quem faz associações tão ..."irónicas"

De

Anónimo disse...

O maná seguro de toda a malandragem parece que é um tema seguro do das 15 e 13.

Não se sabe se tal resulta dum conhecimento mais concreto e específico, que ultrapassa o registo ideológico de quem puxa da pistola sempre que ouve falar do estado social.Algo que se move nesses manás em que a malandragem é rainha e senhora.Fala portanto com conhecimento intrínseco e directo da situação. Muito curioso

Mas vejamos esta frase espantosa, vinda de quem vem:
"o mundo do emprego está em crise mas para o trabalho sempre haverá oportunidades."

Isto não parece saído dum modelar discurso do passos ou do relvas em que defendiam que o desemprego era um questão de piegas e que só quem não queria trabalhar é que ia para o desemprego?
E que depois, num desaforo abjecto e canalha dos ditos governantes , continuava com a conversa do convite à emigração invectivando à saída da "zona de conforto"?

Percebemos assim os amores do das 15 e 13 pelo vocabulário patibular da governança. Que os tente apresentar travestidos de roupagens pseudo-novas em jeito de "não creio que seja verdade" significa muitas coisas. Mas também significa que está para breve o acto eleitoral.

De

José Cruz Magalhães disse...

Há alguma ironia no facto de que as boas análises que surgem sobre a situação na Europa, sejam de autores de outros e distantes continentes.Esta , servida pelo Jorge Bateira é uma delas.O desemprego como instrumento de uma política de submissão dos países periféricos e de alastramento da ideologia do fatalismo ordoliberal por toda a Europa, poderá escapar a alguns ocupados em enfiar a cabeça na areia, mas não é alheio a quantos que,sendo "priveligiados" por empregos precários, trabalhos temporários, de curto prazo e longa duração, estão em permanente candidatura a uma desocupação mais, ou menos, permanente.

Anónimo disse...

PARA COMBATER O DESEMPREGO TEM DE ACABAR COM A LEI FASCISTA DAS HORAS EXTRAORDINARIAS QUE PARA ACABAR COM AS INCOMENDAS O EMPREGADO É OBRIGADO A FAZER HORAS EXTRAS OS EMPRESARIOS EM VEZ DE FAZER OUTROS TURNOS OU SEJA METER MAIS EMPREGADOS APROVEITAM-SE DESSA LEI PARA EXPLORAR O EMPREGADO AO MAXIMO ,PENSEM BEM NISTO ACONTECE NA MINHA EMPRESA E QUEM SE NEGAR LEVA LOGO UM PROSSEÇO DISCIPLINAR QUE PODE LEVAR AO DESPEDIMENTO MPOR JUSTA CAUSA E NÃO TEM DIREITO AO FUNDO DE DESEMPREGO POR ESSA RAZÃO É QUE HÁ MILHARES DE DESEMPREGADOS FOI A LEI QUE ESTE DESGOVERNO FASCISTA APROVOU !!!

Anónimo disse...

Jose

fazeres a destrinça entre emprego e trabalho como se ter um emprego (que para ti deve ser a definição de qualquer coisa que não seja precária e mal paga) fosse pano para malandros e um trabalho coisa para seres dignos (dignos no caso seria aptos para sodomia) define-te logo como o gajo preconceituoso que és. Tu não tens sabedoria, apenas a convição e a intolerância dos ignorantes.

Jose disse...

Ó das 21:25
Há mais de vinte anos que não tenho emprego e ainda não deixei de trabalhar.
E quando não trabalho estudo e adquiro outros meios que potenciem vir a trabalhar e não barato.
Se não foras ignorante entendias que quem pensa muito em emprego e pouco em trabalho está provavelmente a caminho de ter 'azar'.
Põe-te fino e não vás na treta dos treteiros que acham que o remédio está nas leis e não no trabalho.

Anónimo disse...

A destrinça entre emprego e trabalho é a seguinte:
Trabalho - é na economia privada
Emprego- é na função pública.

Evidentemente que também há "emprego" na economia privada, como por exemplo "o filho/filha do papa dono da empresa", a amásia do patrão que apenas existe, etc, etc. Mas isto passa-se á custa do dinheiro do patrão, não á custa do contribuinte. E aqui está toda a diferença.

cumps

Rui Silva

João disse...

João Rodrigues, do seu texto lúcido e fundamentado como é costume (e que não merecia os salpicos de lama que alguma tropa fandanga lhe atira), retenho um aspecto essencial: neste momento de mudança paradigmática a desmistificação das pretensas diferenças ideológico-programáticas dos partidos social-democratas e democratas-cristãos (PS/PSD/CDS, no caso português)é uma exigência imperiosa de qualquer ambição de ruptura com este caminho que conduz à barbárie. Evidentemente que os processos eleitorais estão hoje condicionados por múltiplos factores, de que destacaria o embrutecimento e alienação das massas, a sua atomização e proletarização (aspecto em que a contratação colectiva é determinante e que por isso mesmo tem contado com a colaboração activa do PS no seu desmantelamento), a captura do espaço público e mediático (basta pensar na mirídade de comentadores de si próprios mas arrogando-se o papel de isentos e supra-partidários), bem como a censura de facto às opiniões, perspectivas e propostas que tenham a ousadia da divergência. Portanto não será apenas nesse exercício de democracia formal que encontraremos a resposta, embora também tenhamos que contar com ela. Mas é precisamente por isso que nunca foi tão urgente lançar pontes e pontos de contacto, em cada espaço, em cada bairro como na academia, junto de cada homem e mulher, junto de cada aspiração legítima, até que essa maré torne o rio mais caudaloso, até se tornar numa torrente imparável que nos permite assistir ao "Dias das surpresas".

Jose disse...

O 'Dia das Surpresas' já chegou para as dezenas ou centenas de milhares que perderam empregos que lhes garantiam manter se injusta fosse a causa.
Mas disso não fala João.
Fala do seu sonho de, sem formalidades democráticas, rachar para si e para os seus uma riqueza que seguramente não acredita que fosse igual para todos.
Nada como chamar exploração ao trabalho para justificar, sem surpresa, que há mais caminhos que não o trabalho.

António Pedro Pereira disse...

Para o cromo que nem nomeio:
«Há mais de vinte anos que não tenho emprego e ainda não deixei de trabalhar.»
Desede quando vigiar o Ladrões de Bicicletas a mando do Passos é um trabalho?
Para Rui Silva:
«o filho/filha do papa dono da empresa", a amásia do patrão que apenas existe, etc, etc. Mas isto passa-se á custa do dinheiro do patrão, não á custa do contribuinte. E aqui está toda a diferença.»
Não estará enganado, muito do dinheiro privado também é de todos nós, pois os privados mamam das mais diversas formas o dinheiro público.
Veja o MacNamara, já se foram 175 mil euros públicos para o promover (com a desculpa de promover a Nazaré).
Quanto custa a Easy Jet aos cofres da Madeira, e de outras regiões autónomas na Europa, cujos governos, no âmbito da autonomia em gastarem o que é dos seus cidadãos, acham que a devem subsidiar em nome da promoção do turismo ou de outro valor qualquer.

Anónimo disse...

Perante um pequeno apontamento (admirável ) do joão eis este tipo de linguagem patibular:
"rachar para si e para os seus"

Isto define não só uma atitude mas também um modo de vida.E algo mais, mas o pudor obriga a calar

Não interessa agora aqui falar no "dia das surpresas" (que jose cita desta forma reveladora) para as centenas de milhares de vítimas da governação da direita e da extrema-direita.Já se sabe e está registado o aplauso entusiasta e entusiasmado do referido sujeito perante as invectivas de passos e de relvas à saída da zona de conforto e à pieguice de quem estava desempregado.O que é abjecto deve permanecer no sítio dos dejectos, mas é bom lembrar até onde foi ( e vai ) a pesporrência de quem nos governa

Particularmente chocante é a referência ao trabalho por parte de quem anda em processo de fuga ( já lá iremos) a usar o argumentário tirado de sítios mal frequentados e duvidosos ( como o local onde pontifica a helena matos )

O "nada como chamar exploração ao trabalho...etc e tal" é uma citação do jose/JgMenos. Mas não o é nem tal se depreende do que escreveu João ou do postou Jorge Bateira.

Então porque o expele desta forma o dito jose?
Os objectivos são vários.Infelizmente para o sujeito alguns terão que ver a luz do dia. Um deles é a da manipulação pura e dura.outra é a tentativa objectiva de esconder o significado de "trabalho" (comum ao sr Silva) .

De

Anónimo disse...

Caro Manuel Silva,

Estou de acordo consigo quando cita os casos do McNamara e EsyJet.
Por isso mesmo, eu acho que o estado não devia poder intervir na economia. O turismo é uma atividade eminentemente privada, se os empresários do turismo querem promoção devem faze-la eles mesmos. Veja quantos "Boys" são necessários para esses processos serem feitos. Caso todas essas atividades fossem abandonadas pelo estado muitos boys perdiam o emprego "aqui era mexer com o lobby da função pública", e isto sim, seria implementar cortes pelo lado da despesa.

cumps

Rui Silva

Anónimo disse...

O Estado não deveria intervir na economia????

Isto não são os mandamentos da escola de chicago, da tristemente célebre escola de chicago que pariu monstros como Friedman e outros da mesma laia?

A conversa dos boys é uma conversa requentada. Cheira mal.O assunto faz lembrar alguém que a propósito do Oceanário teve o despudor de vir defender a sua privatização .Tal assunto já foi escalpelizado minimamente no post notável sobre o assunto,creio que do Nuno Serra.
Basta lá ir e ver

Tal como a conversa sobre o lobby dos funcionários públicos e sobre o corte pelo lado da "despesa" cheira a esturro e ao pior da dita escola.

O pior,o pior para o sr Silva é que os axiomas neoliberais já tiveram melhores dias.

De

Anónimo disse...

Agora com mais tempo desmontemos os disparates sobre o trabalho e o emprego dispendidos pelo sr silva. (Não vale a pena determo-nos sobre a vida privada do sr jose e os seus comentários sobre o seu "trabalho" ou sobre as "suas qualificações".O ridículo não mata mas por vezes origina uma boa gargalhada).

Retomemos o fio à meada... É confrangedor como o que é postado nos bas fond dos blogs neoliberais fundamentalistas é replicado duma forma perfeitamente incrível por alguns, sem um minimo critério de objectividade, sem um mínimo de postura critica ou sem um mínimo de conhecimento.

Resumidamente e sem recorrer sequer a textos revolucionários:
"Trabalho sempre existiu, sob diferentes formas, ao longo da história da humanidade. É uma atividade que ajuda o homem a construir a sua condição de ser humano. O homem emerge gradualmente, desenvolve-se e se torna um ser humano no exercício de sua atividade, de seu trabalho, da sua produção social. Nesse sentido, pode-se dizer que, ao trabalhar, o homem humaniza a natureza e se constrói como ser humano, ou seja, o trabalho humaniza o homem, pois ele age de forma deliberada e consciente sobre a natureza. O trabalho, portanto, é uma atividade de mediação entre o homem e a natureza.

Emprego é uma relação social de trabalho muito recente, quando o homem deixa de ser escravo ou servo e se transforma em homem livre. Livre para vender o seu trabalho e estabelecer um contrato com o comprador, em troca de um salário que lhe permite adquirir os meios de vida necessários à sua sobrevivência. Emprego pressupõe trabalho assalariado, sendo, portanto, característico da sociedade capitalista.

O trabalho livre sucedeu historicamente a outras formas de trabalho, como a escravidão e a servidão. Na Grécia Antiga, o trabalho era uma atividade exercida pelos escravos. Na Idade Média, as pessoas trabalhavam nos campos, ligadas a um senhor feudal, ou moravam nos burgos e eram artesãos. Em todos esses momentos da história,
as pessoas executavam algum trabalho, mas não tinham emprego. O emprego só se dissemina com o capitalismo, quando o trabalhador passa a vender sua força de
trabalho (física ou mental) em troca de um salário. Ao conseguir o emprego, o trabalhador assina um contrato de trabalho que especifica as suas funções"

(Note-se que nem sequer falámos de Marx)

De

Anónimo disse...

Mas porque há quem tente vir fazer figuras tristes sobre este assunto do trabalho e do emprego?

Em primeiro lugar porque há que afastar a discussão do seu rumo principal.O tema do desemprego é um tema incómodo, sobretudo para quem andou a propagandear as virtudes austeritárias.

Mas para além de tal objectivo, há outros.

"As classes dominantes sempre estiveram interessadas no recrutamento, na disciplina e na manutenção da força de trabalho. Isto é verdadeiro tanto para as sociedades capitalistas como para as sociedades feudais ou escravocratas. Embora durante algum tempo o sistema salarial possa ter parecido estabilizado, isso deveu-se a uma longa história de lutas, durante a qual, a interacção de pressões económicas e estatais foi forjando um proletariado dependente do salário para o seu próprio sustento. As formas mais severas de coerção aconteceram quando as relações capitalistas foram impostas nos territórios coloniais".

Ora o que acontece para que alguns tentem criar uma tal mistificação à volta do assunto ?("eu trabahei 20 anos e não tenho emprego" e outras pieguices do género)

Porque no fundo querem voltar atrás no tempo. Querem a desregulamentaçao total do trabalho. Querem voltar ao tempo da escravatura e do feudalismo, do trabalho sem direitos nem condições.

Mas ainda há mais.

Mercê da demagogia barata sobre as amásias e os amásios dos patrões e dos seus filhos dilectos procura-se vender a ideia que a atividade privada deve correr sem qualquer interferência que não seja a vontade do patrão,( "o dinheiro é dele") esquecendo que o trabalho é regulado nas próprias sociedades capitalistas.E no mesmo passo apagam-se as contribuições de todos nós para a actividade privada. É ver por exemplo o que o erário público tem pago para cobrir a actividade dos bancos privados e os seus prejuizos.

Mas há mais.

Tenta-se lançar um anátema sobre as funções públicas tão característico do funcionamento mental da escola de chicago. O objectivo é simples.Desta forma prega-se o credo da livre liberdade de explorar, enquanto se minam as chamadas funções sociais do estado.

Mais haveria a dizer.Por agora basta

De