sexta-feira, 8 de maio de 2015

Democracia (mais ou menos) verdadeira (II)


The Waterboys, Old England

«No Reino Unido, os Conservadores ganharam claramente as eleições de ontem e estão, quando se contam os últimos votos, à beira da maioria absoluta. Conseguem mais 90 deputados do que os Trabalhistas. No entanto, em termos de percentagem de votos, a nível nacional, Conservadores e Trabalhistas estão separados por 1% (33% e 32% do número de votos expressos). Opta-se por sistemas eleitorais cujos resultados finais não representam a vontade dos eleitores, mas a procura da estabilidade governativa. É assim na Grécia, onde o partido mais votado recebe como prenda 50 deputados. Vai passar a ser assim, mais coisa menos coisa, na Itália, a partir de 2016. Na Hungria nem é bom falar. É a democracia cada vez mais afunilada neste velho continente.»

Tomás Vasques, Sistemas eleitorais e democracia (facebook)

«Declaração de interesses: quanto mais conheço outros sistemas eleitorais mais gosto do português. Não estará feito para potenciar maiorias estáveis nem para "responsabilizar" individualmente cada deputado eleito, é certo, mas permite uma muito maior pluralidade de representação, e esta fica muito próxima da verdade dos números (a distorção que existe seria facilmente anulável com um círculo único mas isso, por outro lado, afastaria ainda mais os representantes dos representados). Adiante... habituada como estou ao sistema português reajo sempre com alguma estranheza quando, ao observar eleições de outros países, constato uma enorme diferença entre a percentagem de votos nas urnas e a constituição do parlamento que resulta das eleições.»

Shyznogud, Eu e os meus botões

A propósito das disfuncionalidades democráticas dos sistemas eleitorais, uma discussão que os resultados de ontem no Reino Unido voltam a suscitar, lembrei-me dos cálculos que o Alexandre Abreu fez, para diferentes cenários (círculos distritais, círculo único nacional e proporcionalidade estrita, num círculo único nacional), a partir dos resultados das eleições legislativas de 2011. A Shyznogud tem razão: com tudo o que possa e deva ser feito para o melhorar o sistema eleitoral português, não nos encontramos nos patamares de degradação funcional da democracia representativa que outros países exibem.

18 comentários:

Unknown disse...

Será que o facto de serem mais desenvolvidos que nós,aceitarem cordatamente os resultados servirá para nos fazer pensar, ou é melhor continuarmos cheios de ilusões pseudodemocraticas, honradinhos e subdesenvolvidos e cheios de corrupctos?
É que era esse o lema -sós mas honradinhos - do botas e até tenho arrepios porque vivi como adulto com essas máximas.

Anónimo disse...

Argumento: A Inglaterra é mais desenvolvida do que nós (principalmente) porque tem um sistema político que garante maior estabilidade na governação.
António cristovão, não pega.

SFF disse...

Tenho uma pergunta: onde está a diferença de 1%?

http://pt.wikipedia.org/wiki/Elei%C3%A7%C3%B5es_gerais_no_Reino_Unido_em_2015

José Cruz disse...

O sistema eleitoral britânico nada tem que ver com representatividade genuína e expressão do voto dos eleitores, mas com a facilidade de permitir a formação de maiorias que facilitem o trabalho ao monarca, que é a quem cabe aceitar o governo proposto pela maioria ou coligação na nova Câmara dos Comuns.A formação de maiorias suplanta e subordina a representatividade dos eleitores e, num certo sentido, privilegia a representação de classe.Num país "desenvolvido" é o melhor garante de manter um núcleo decisório robusto, perante um débil ou nulo,poder negocial que represente os interesses da totalidade dos eleitores.

Nuno Serra disse...

"quando se contam os últimos votos", lê-se no texto de Tomás Vasques, caro SFF

SFF disse...

Obrigado pelo esclarecimento.

Jose disse...

A democracia viveria bem com a proporcionalidade se a partidocracia não fizesse da oposição um exercício de cretinice justificável.

Anónimo disse...

Podia ao menos disfarçar. Mas o das 00 e 30 já nem sequer esconde a sua perturbação pelo respeito pelos eleitores e pela sua vontade.

"Um exercício de cretinice" é como alguém define quem exerce o seu direito de estar na oposição. Curiosamente o mesmo que insultava e ameaçava quem não seguia os preceitos troikistas e as suas ordens. Aqui neste mesmo blog

Fica tudo mais claro. A direita-extrema tem esta noção funcional da "democracia". Ela de resto, a "democracia" tem que ser questionada a um outro nível. Como diz José Magalhães aí em cima " a formação de maiorias suplanta e subordina a representatividade dos eleitores e, num certo sentido, privilegia a representação de classe.Num país "desenvolvido" é o melhor garante de manter um núcleo decisório robusto, perante um débil ou nulo,poder negocial que represente os interesses da totalidade dos eleitores."

O poder e a luta de classes.Lá está

De

Anónimo disse...

o sempre proto-faxo Cristovao acha irrelevante a corrupção dos resultados não reflectirem a quantidade de votos.

não somos nós - os pseudodemocráticos - que estamos bem por termos um sistema que sempre garante pluralismo e tem funcionado, bons são os bifes por aceitarem cordatamente o desvio das intenções dos eleitores com artíficios uninominais.

Anónimo disse...

Cerca de 250000 ingleses imigram para Portugal em busca da liberdade que lhes falta no Reino Unido.

cumps

Rui Silva

Jose disse...

O regime uninominal tem uma vantagem muito significativa:
Os treteiros que não assegurem que em pelo menos um círculo eleitoral são maioritários, desaparecem do palco.
O alívio de não ter que ouvir aquelas coisas verdes mais Catarina, a dramática, era uma assinalável melhoria da sanidade política.

Nuno Serra disse...

Caro Rui Silva,
Imagino que lhe desse muito jeito explicar, pela diferença dos sistemas eleitorais, a emigração de portugueses para o Reino Unido nos últimos quatro anos. Receio é que não tenha sido bem essa a causa do fenómeno.
Cumprimentos

Anónimo disse...

Eis o leit motivo do das 00 e 52. O desaparecimento puro e simples ( do palco dirá ele) de quem não cumprir os mandamentos da sua "democracia", em nome da sua "sanidade".

Às urtigas tudo o resto desde que a classe que detém o poder governe e governe sem quaisquer empecilhos
O desaparecimento ( do palco e não só) dos que não se enquadravam com a "política sanitária" exigida por salazar e seus muchachos sempre foi um dos objectivos de quem lhes bebia as águas.Nem o 25 de Abril lhes apagou os quereres e os processos.

Agora é uma questão de não perturbar a "sanidade política" ( do passos , do carlos costa, de cavaco, de portas, de soares dos santos ,de dias loureiro e de todos os que vivem `*a custa da exploração do trabalho alheio).

A "democracia" é apensa instrumental para tais tipos. Nem as tentativas de correcção posteriores, mostrando a pusilanimidade e as manhas habituais em vésperas de eleições, apagam o sabor a.

De

Anónimo disse...

Caro Nuno Serra,
É exatamente pelo mesmo motivo.
Se houvesse em Portugal mais liberdade e menos corporativismo ( por intervenção estatal) provavelmente muitos não emigravam.

cumps

Rui SIlva

Anónimo disse...

Em Portugal os exploradores do trabalho alheio só podem exercer este sua função durante 5,5 meses por ano.

cumps

Rui Silva

Anónimo disse...

Ah.

A confirmação (involuntária) que afinal há exploradores do trabalho alheio.

Mas a questão passa também por ai.
Por exemplo e com as devidas distâncias...não é por se ser ladrão 5,5 meses do ano que se deixa de ser ladrão...e que tal é criticável.
(e quando falo em ladrões falo nos gordos e lustrosos da espécie.Como por exemplo o ídolo de passos , o dias loureiro.

De

Anónimo disse...

Vamos ao cerne do problema , a propósito duma confissão involuntária do sr silva:

"O neoliberalismo é uma aberração em termos intelectuais: pretende aplicar critérios do liberalismo, estabelecidos para um universo de MPME, a uma economia dominada por megaempresas e monopólios"

Há mais.
Fica para depois

De

Anónimo disse...

Reparo agora num outro comentário que ofende o conhecimento.

Numa vulgar wikipedia:
"O corporativismo é um sistema político que atingiu seu completo desenvolvimento teórico e prático na Itália Fascista. De acordo com seus postulados o poder legislativo é atribuído a corporações representativas dos interesses econômicos, industriais ou profissionais, nomeadas por intermédio de associações de classe, que através dos quais os cidadãos, devidamente enquadrados, participam na vida política"

Falta uma coisinha essencial que também lá está:
"propugna a eliminação da luta de classes em prol de um modelo de colaboração entre elas"...como na Itália ou no Portugal fascistas

Mas foge-se do essencial.Atribui-se a culpa à falta de "liberdade" (!) e às corporações os números da emigração

Deixemos para lá a triste "boca" sobre os tais 250 000 ingleses que.

(Bocas são bocas mas a este nível revelam uma confrangedora limitação cívica e intelectual,redundando nestes slogans típicos dum neoliberalismo acéfalo e impotente)

Concentremo-nos assim no essencial.A governança de direita e de direita-extrema tem no primeiro-ministro um exemplar exemplo de tal. Conhecido pela sua posição firme e frontal do mais despudorado neokiberalismo.

O que disse ele da emigração? Fez um convite abjecto a esta, como forma de "saída da zona de conforto" e outras pulhices idênticas.

Entretanto o País definhava, a miséria crescia, os pobres cada vez mais pobres, a dita classe média afundava-se mas...os ricos ficavam cada vez mais ricos.Sob as regras da troika externa e interna.
Os impostos?Estes aumentavam para todos ,menos para o grande capital

De