quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Chega de extrema-direita


A brutalidade da insurreição da extrema-direita trumpista levou até o Financial Times e a Jacobin a convergir em dois pontos essenciais: a invasão do Capitólio não teria sido possível sem a cumplicidade de elementos da polícia (são 2300, entre polícias e funcionários civis, com um orçamento anual de 460 milhões de dólares, só para a protecção do complexo do Capitólio, informa-nos David Sirota na Jacobin); se os protestos estivessem ligados ao movimento anti-racista ou antifascista teriam sido reprimidos à força de bala sem qualquer hesitação. 

É claro os movimentos que pretendem defender e aprofundar a democracia jamais participariam em invasões bárbaras. Esta é uma das diferenças essenciais, mas propositadamente ignoradas por aqueles idiotas úteis que gostam de fazer amálgamas e que controlam a linha editorial de tantos jornais e televisões nacionais. 

David Sirota, antigo redactor de discursos de Bernie Sanders, mergulha na história e na economia política: o New Deal, ao reduzir as desigualdades cavadas, gerando ganhos para as classes populares, contribuiu para esvaziar a ameaça da direita fascista nos EUA dos anos trinta, sempre alimentada objectiva e subjectivamente por uma certa elite económica e política, a que ontem odiava Roosevelt e a que hoje odeia qualquer superação do status quo neoliberal. 

Por cá, há semelhanças perturbadoras ou não fosse Trump uma referência. A extrema-direita, liderada por André Ventura, é alimentada por pasquins bem financiados, como o Observador, tem cumplicidades televisivas, em sectores das forças policiais e da direita só aparentemente respeitável do PSD e quer subverter a ordem constitucional, aproximando-a ainda mais do império em declínio: da destruição do Serviço Nacional de Saúde ao racismo generalizado, passando pela erradicação dos direitos laborais que sobrevivem, por um Estado securitário sempre enviesado ou por um presidencialismo muito menos democrático. Também por cá, é preciso estar atento à violência da economia política que diz chega.

11 comentários:

Carlos disse...

Se bem que numa entrevista dada pelo responsável das polícias, ele afirmou que o Capitólio só dispõe dum pequeno número de polícias, e que as outras forças policiais, que se viram aquando dos outros protestos, dependem do comando de responsáveis no governo do Trump! Ou seja: Trump só permitiu o uso dessas forças passadas cerca de 3 horas do início da invasão de ontem...

carlos disse...

"Chega de extrema-direita": para quem é que Chega?

Anónimo disse...

Não se organizava tamanha tourada sem que as super-informadas polícias soubessem de antemão o que se estava a cozinhar.

Anónimo disse...

O ventura tem o apoio descarado do Correio da Manha, do Jornal I e do Sol, estando estes dois ultimos falidos, quem os financia, e quem financia as campanhas do ventura desde as europeias?

Anónimo disse...

Um excelente texto

Henrique Chester disse...

O homem na porta (fotografia) leva a bandeira da CONFEDERAÇÃO ,será que a União esta em crise ou vai para a guerra civil.

JE disse...

O que é preciso fazer para explicar que "chega mesmo de extrema-direita"? Ou que a invasão do Capitólio não teria sido possível sem a cumplicidade de elementos da polícia (são 2300, entre polícias e funcionários civis). Ou que "se os protestos estivessem ligados ao movimento anti-racista ou antifascista teriam sido reprimidos à força de bala sem qualquer hesitação"?

Por cá temos o admirador de trump. Com o apoio da extrema-direita, da tralha neoliberal e da alta finança.

(E também da segunda derivada montada por Passos Coelho como dizia o outro amigo do ministro holandês)

Jose disse...

A grunharia da direita compara com a grunharia da esquerda, e não é a sua acção que define a natureza ou valia do pensamento político que se diga dirigi-la.

Neste caso do Capitólio, chamar ao pensamento de um cretino - pato bravo american way - como de direita, é a irresistível tentação da esquerda.
De direita é toda a organização política americana, e continuará a ser.

Jaime Santos disse...

Os movimentos que defendam o aprofundar da democracia nos EUA jamais participariam em invasões bárbaras.

Mas nestas páginas, já li quem fizesse a apologia do medo como arma política. Os invasores do Capitólio também se veem a si como revolucionários contra um poder que julgam corrupto e que lhes rouba a vitória com que sonhavam.

Do protesto legítimo e pacífico não há que ter medo. Do cerco a Parlamentos, como o que ocorreu em 1975 entre nós e que procurava condicionar os constituintes, ou aquele que ocorreu ontem em Washington, e cujo objectivo era exactamente o mesmo em relação aos congressistas americanos, há.

Mas lembrando sempre que o poder democrático dispõe de capacidade repressiva assinalável. E que a deve utilizar para perseguir, julgar e condenar não apenas aqueles que recorrem à violência mas igualmente os que, como Trump, recorrem a retórica antidemocrática, mesmo que de forma mais ou menos velada...

E os democratas devem condenar todas as apologias do medo ou da violência sem tibiezas e sem as desculpas do costume de que nos processos revolucionários não se consegue controlar o povo.

Estou certo de que Trump considerará tal argumento miserável como uma excelente justificação para quando for, como espero, julgado por apologia da sedição...

Monteiro disse...

Esta extrema direita envergonhada que por cá perpassa ao primeiro estrondo acagaçam-se todos.
Não podem tomar decisões precipitadas e têm de respeitar os outros ou será que estão à espera dos senhores Steve Bannon e do próprio Trump? Se o fazem estão muito enganados, um está preso e o outro destituido. Haja o que houver estão entre aquela percentagem que já vem do Marcelo Caetano quando a dá como provável em alguns actos de fraude eleitoral, ou como o número de servidores da Pide. Talvez queiram ser apóstolos de QAnon agora em baixo de forma ou então representantes do Bolsonaro que se sente muito sozinho e com esperanças centrasas em 2022.

JE disse...

JS apregoa naquele seu estilo anti-revolucionário de profissão. Ainda tem o 25 de Abril atravessado?

Sorry mas não consegue colar o trumpismo aos movimentos revolucionários. Ele, como se sabe, ficou pelos movimentos de apoio a banqueiros tipo..como Macron


Jose dá uma de balls de Salazar. Depois de ser apanhado a fazer mocices ternurentas a Trump, nos idos 2017

Agora tenta crismar Trump como não sendo de direita.

Uma de ball de Salazar. Para ver se apaga o vómito das suas companhias?