segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Extrema-direita em Lisboa: quantas histórias cabem na mesma região?

A votação que a extrema-direita obteve nas eleições presidenciais deste fim-de-semana promete marcar o debate nos próximos dias. Em Loures, periferia marcada pela pobreza e exclusão, AV conquistou boa parte do eleitorado descontente, como se pode ver nos dados desta freguesia (1952 votos). À primeira vista, podia confirmar uma leitura sobre um determinado tipo de voto de protesto. No entanto, AV teve uma votação bastante parecida na Estrela (1374 votos), uma das freguesias mais ricas de Lisboa, com composição social muito diferente da periferia urbana. Na Área Metropolitana de Lisboa - a mais desigual do país - os votos contam histórias desiguais.

A AML é a região do país com maior desigualdade: 10 dos 18 municípios têm poder de compra per capita inferior à média nacional, enquanto que 2 (Lisboa e Oeiras) apresentam um nível bastante superior à média. Lisboa é, também, o concelho mais desigual: tem o maior índice de Gini do continente (36,4, face à média nacional de 30,7) e quase metade dos agregados familiares da cidade tem rendimento inferior a 1/2 do rendimento médio registado na cidade, de acordo com os inquéritos mais recentes do INE. Isto significa que a riqueza se concentra no pequeno grupo dos mais ricos, ao passo que, entre as classes médias e baixas, muitos enfrentam dificuldades devido ao elevado nível de preços.

As duas freguesias são, também, o espelho destas desigualdades: se Loures pertence à periferia urbana, onde uma maior densidade populacional se conjuga com a precariedade habitacional e com maior proporção de deslocações diárias entre concelhos em transportes públicos (muitas vezes sobrelotados), a Estrela é uma freguesia de classes médias-altas, com boas condições e perto do centro da capital. As condições para a polarização são evidentes. Ainda assim, a extrema-direita conquista votos entre excluídos e privilegiados, pobres e ricos, na periferia e no centro. Uns por descontentamento com as más condições de vida e a ausência de perspetivas, outros por descontentamento com os partidos da direita tradicional. Ambos incontornáveis para perceber o que se passa na cidade. E ambos relevantes para perceber o trabalho que, à esquerda, temos pela frente. Não é pouco.

12 comentários:

Anónimo disse...

Estrela, tem a ver com o processo Tutti Frutti, pesquisem pesquisem....

Anónimo disse...

Loures foi onde Passou Coelho promoveu o Ventura, tendo como UNICO tema, a ciganofobia. Passos Coelho continua a promover o seu pupilo. O PCP que dirige a Camara de Loures, poderia dizer muita coisa do Ventura, mas cala-se.

Anónimo disse...

O PC é muito mau. Por não dar veleidades aí Ventura nem aos bonecos do outro ministro dos Países Baixos

Anónimo disse...

A esmagadora maioria dos votos do Ventura, pupilo do Passos Coelho, veio do PSD e do CDS, e no Alentejo de algum eleitorado do PCP. A pequena e medida burguesia, descontente com a Covid e o empobrecimento, deu ouvidos a estes cantos de sereia, algum patronato apoiou-o, isto de tirar aos pobres para dar ao ricos, foi musica para muito patronato subsidio-dependente.

Em suma ou a ESQUERDA, consegue responder aos problemas, de quem empobrece, de quem perde o emprego, de quem nao consegue ser tratado, porque o SNS, esta a rebentar pelas costuras, ou estes partidos populistas, vao ter uma vida muito facilitada.

Anónimo disse...

A Estrela inclui um bairro popular, a Madragoa. Para além da Estrela, Santa Clara, Marvila e Belém, são as freguesias em que a percentagem AV é maior e aproximada. Impressionisticamente, Belém parece-me que é socialmente próxima da Estrela (sem Madragoa). Marvila e Santa Clara são mais classe baixa. As percentagens de T. Mayan também são parecidas na Estrela e em Belém (e relativamente altas para o candidato, cerca de 10%). Em Marvila e Santa Clara TM tem votações baixas (1,8% e 3,4%)
Se existirem dados por secções de voto, com eventuais diferentes localizações, algumas destas coisas podem ser melhor analisadas.

TINA's Nemesis disse...

O "europeísmo" que o Bloco de Esquerda defende certamente vai resolver os problemas dos não privilegiados...

Anónimo disse...

Nada pode ser deduzido destes resultados para o nível legislativo.
Os votos do v*ntura continuam a ser votos transferidos do cds e psd.
No entanto, a direita é useira e vezeira em usar a demagogia para aproveitar da miséria que eles próprios criaram.
Se daqui a uns meses, estivermos (quase) todos a levar com mais uma dose de austeridade (versão PEC ou versão "brutal aumento de impostos"), podem acreditar que estaremos então a lidar com vários v*nturas.

JE disse...

Deixemos para lá o bruá-bruá dos provocadores encartados que desde o início enxameiam este blog.

Toda a reflexão honesta sobre a votação é bem-vinda. Deve-se deixar o lixo lá onde deve estar, como por exemplo nas estufas do ministro holandês.

O lixo é fácil de reconhecer. Não sei quem dirige a câmara de Amsterdão, ou de Haia, mas sei que quem lhe afaga as mãos e a canalhice se cala e projecta nos outros as suas cobardias de carácter

Há um outro aspecto fundamental referido pelo autor do post:
Tudo é relevante " para perceber o trabalho que, à esquerda, temos pela frente. Não é pouco"

Mãos à obra, então

Anónimo disse...

Os votos do AV são, na sua maioria, originários do CDS, partido que está a desaparecer a olhos vistos. Adicionados a estes estão os votos de uma parte do eleitorado do PSD. É toda uma ala da Direita radical, descontente com o discurso do "centrão", que ainda ontem o Rui Rio proclamava aos quatro ventos. Depois, há que perceber que os votos à Direita nunca foram exclusivo dos privilegiados, sempre houve votos de pessoas desfavorecidas a favor desses partidos. Tentar encontrar causas novas para uma situação que já é velha é forçar interpretações precipitadas. Depois, o AV e o seu partido não são um problema da Esquerda, são um problema da Direita. É à Direita que o AV está a tirar votos e é à Direita que ele vai fazer estragos, com os partidos tradicionais a terem de fazer cedências para tentarem ganharem eleições, ou para formarem "geringonças", sem garantia nenhuma de conseguirem do novo parceiro a lealdade que é suposta. E, finalmente, desenganem-se, os Comunistas não votaram no AV. Os votos que saíram do PCP pretenderam garantir a eleição de Marcelo Rebelo de Sousa à primeira volta e a colocação da Ana Gomes no segundo lugar. O papão é um produto de Direita, façam bom proveito. Mas, a incapacidade da Direita para lhe fazer frente é tal, que teve de ser a Esquerda, PS, PCP e Bloco de Esquerda, a garantir a eleição do Presidente do "centrão".

JE disse...

Adivinha-se que os comentadores das nossa televisões se mudaram para aqui.
Um chorrilho de lucubrações que parecem saídas das análises de Ventura mais a incapacidade da direita na versão empacotada com o aumento dos impostos

Com aquelas certezas imbecis do nosso conhecido amigo do ministro holandês

Bom, o chorrilho permite indicar a categoria a que isto pertence. Ainda para mais quando assistimos a There Is No Alternative a impingir-nos himself

Ainda vêm vender a farinha da Irlanda. A direita desce os impostos para os muito ricos e para os subditos holandeses. Quem paga serão aqueles que foram roubados pelo Passos com o apoio da segunda derivada andante.

É fácil e é barato. O pobre coitado está aflito se não produzir algo que não indique o que ele é.

Tem azar.

A.R.A disse...

"no Alentejo de algum eleitorado do PCP."
Sabe há quanto tempo Évora e ou Beja não é comunista?
Pois já deu para perceber que para o caríssimo foi a Esquerda depauperou o SNS mandando mais de 20.000 profissionais saírem da sua zona de conforto e que tanto jeito têm dado nos países que os acolheram.
Consegue mesmo imaginar o populismo fascista a governar uma crise pandemica? Acredita que o populismo fascista cresce pelo descontentamento á Esquerda ou será que se parar e tentar fazer um exercício mental a que se dá o nome de ... pensar que é do CDS e do PSD passista de onde vem o eleitorado que se juntou ao PNR e afim escumalha saudosista ?

Anónimo disse...

“Se existirem dados por secções de voto, com eventuais diferentes localizações, algumas destas coisas podem ser melhor analisadas.”
Crucial. Haverá por cá análises (e dados disponibilizados logo no dia seguinte ao do fecho das urnas) que partam do bairro e da rua, em vez de partirem da freguesia para cima?
Como por exemplo aqui:
https://www.eldiario.es/politica/mapa-resultados-comunidad-madrid-calle_1_1529185.html
ou aqui:
https://www.eldiario.es/politica/votaron-resultados-elecciones-generales-calle_1_1257177.html