sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

A democracia ganhou, o federalismo perdeu

O Brexit aconteceu mesmo, apesar do combate que o federalismo europeísta travou para o impedir. No RU, o voto democrático impôs-se contra todas as campanhas de intimidação e cenários de catástrofe, incluindo as levadas a cabo por uma boa parte do Partido Trabalhista. Nunca é demais repetir: um povo só pode decidir do seu destino – decidindo mal umas vezes, e bem outras – se preservar a liberdade de escolher quem o representa e legisla, se preservar a liberdade de mudar de políticas elegendo novos representantes.

Uma maioria de britânicos, transversal aos partidos, percebeu perfeitamente que o Mercado Único e a moeda única significavam que a UE passava a ser uma entidade antidemocrática: qualquer que fosse o governo eleito, a política seria a mesma, a dos Tratados, aliás profundamente moldados pelo ordoliberalismo germânico. De facto, dentro da UE, o essencial das escolhas políticas não depende do voto dos eleitores: os governos entregaram a sua responsabilidade política, recebida pelo voto, a um “clube de primeiros-ministros” (onde as negociações são controladas pelos mais poderosos), à tecno-burocracia independente e arrogante da Comissão, a um parlamento que não faz leis, a um banco central intocável, e a um Tribunal de Justiça cuja jurisprudência estende as regras do mercado a todas as esferas da sociedade. Políticas de esquerda estão banidas.

No dia 20 de Novembro de 1991, o trabalhista Tony Benn pronunciou na Câmara dos Comuns um discurso memorável contra o projecto federalista europeu. Para quem puder, vale a pena ler o discurso todo (aqui). Traduzo um parágrafo especialmente premonitório do que já aconteceu e do que continuará a acontecer:

"Se o povo perde o poder de demitir o seu Governo, uma de várias coisas acontece. Primeiro, as pessoas podem simplesmente alhear-se. A apatia pode destruir a democracia. Quando a participação eleitoral desce abaixo de 50 por cento, entramos numa zona de risco ... A segunda coisa que as pessoas podem fazer é revoltar-se. Revolta é uma forma antiga de chamar a atenção do Governo para o que está mal. Para uma pessoa eleita, é difícil admitir isto, mas a revolta de Strangeways [revolta numa prisão de Manchester, em 1990] conduziu a reformas no sistema prisional. Historicamente, as revoltas desempenharam na política britânica um papel bem mais importante do que é admitido. Terceiro, o nacionalismo pode crescer. Em vez de culpar o Tratado de Roma [transformado em Tratado de Maastricht], as pessoas vão dizer, “São esses alemães” ou “São os franceses”. O nacionalismo resulta da frustração que o povo sente quando não obtém o que pretende através do voto. Com o nacionalismo vem a repressão."

27 comentários:

José Cristóvão disse...

Pena é ter vencido um governo bem pior, que quer tudo privatizar, que pretende subordinar-se aos EUA, e que deseja transformar o Reino Unido num paraíso fiscal, numa Singapura europeia. Não esquecer que, se para os europeus continentais a União Europeia introduziu o neoliberalismo na Europa, para os britânicos a União Europeia impediu o aprofundamento do neoliberalismo. Vd. quem proferiu o discurso de Bruges - e, já agora, o que foi o discurso de Bruges. Agora só com um novo Jeremy Corbin é que o RU atina (porque também, sim, a UE impediria muitas das políticas que ele queria tomar).

Anónimo disse...

Chamar-lhe federação é chamar-lhe aquilo que não é.
De facto, existem duas UE.
A UE fora da união monetária e a UE da união monetária (UM).
A UM seria aquela que alguns confundiram como um projeto de federação.
Mas nunca o foi e, passados 20 anos, continua a não ser e irá morrer em breve sem nunca o ter sido.
Depois do bloco central ter arrasado Portugal e a sua economia, vamos ter um país envelhecido para o reconstruir.
Estamos no top 5 dos países do mundo com a população mais envelhecida, depois do Japão, Itália, Grécia e Finlandia.
Os nossos políticos nem querem saber e até tivemos um ex-pm a convidar os jovens a migrar, o que demonstra que o mal está cá dentro.
Mas os Portugueses perceberam que a sua economia foi sabotada e sabem que são os sabotadores.
Reparem em como eles se travestem em novos partidos, com discursos populistas e xenófobos, em mais um embuste para tentar chegar ao poder.
Os media embarcaram no projeto, dando-lhe uma importância que nunca teve, tentando fazer daquele vazio de ideias aquilo que eles designam por "vaga de fundo".
Pode ser que a vaga de fundo seja o desaparecimento do psd.

JE disse...

Um texto na mouche de Jorge Bateira, que vai concitar, claro, a ira dos euroinómanos habituais.

A vitória do Brexit foi a vitória da democracia, contra o federalismo anti-democrático duma "união europeia" que de facto é o maior baluarte das políticas neoliberais nesse pedaço do continente europeu. E que se constitui como uma verdadeira muralha contra qualquer tentativa de emancipação económica ou social

O Brexit venceu mas teve que resistir a tudo. Tudo. A histeria dominou parte do debate e mostrou até que ponto um neoliberal está próximo da extrema-direita feroz

Por exemplo , "Cristóvão" é um desses que há dias defendia a CEE e o governo fascista português. Segundo a sua versão "a integração europeia, ao contrário do que se pensa, já era um projeto do regime anterior" E todo contentinho da silva defendia os projectos fascistas e a integração europeia.

Agora aparece aqui com este "discurso" de verdadeira coisa cujo nome não se pode nomear mas que é reconhecível desde logo:

"Não esquecer que, se para os europeus continentais a União Europeia introduziu o neoliberalismo na Europa"

Mas "para os britânicos a União Europeia impediu o aprofundamento do neoliberalismo"

Indigência pura. O que de facto "isto" faz lembrar?



JE disse...

Temos então que os "nossos políticos" não querem saber, segundo a visão do "anónimo" das 18 e 52

Este é um discurso rasca que se assemelha ao discurso de um Ventura. Os políticos como todos iguais. Um Ventura igual a qualquer político de esquerda. O ministro holandês, ídolo dos trastes neoliberais, igual a um íntegro Tony Benn.

Confirma-se que estamos perante uma salada holandesa quando vemos a sua conclusão sobre "uma vaga de fundo a fazer desaparecer o PSD". Uma questão de facto crucial, esta, sobretudo para quem andou montado na segunda derivada de Passos Coelho

(Para já não falar nas 2 UE e mais a morte prematura e mais aquela deprimência aí transcrita)

Anónimo disse...

Muito bom, não se podia se mais claro. "...preservar a liberdade de escolher quem o representa e legisla...".
Mal ou bem o Reino Unidos tornou a ser um Reino, soberano.

A diferença entre a dinâmica política no Reino Unido e o destrutivo absolutismo político instalado em Portugal é que naquele Reino vota-se e há consequência nesse voto.
Ali pode-se escolher, e responsabilizar, o seu representante no Parlamento. Por esse motivo este cuida dos interesses de quem nele votou. Em Portugal "alguém" -doentiamente, apenas interessado no poder pelo poder- vai para meio século conveceu o cidadão português que "exemplar democracia" é (só poder) escolher entre dois grupos de interesses privados, vulgo partidos políticos.
Instalada e arraigada culturalmente esta deturpação do que é a convivência social na componente política -numa fórmula típica dos regimes totalitários e que inspirou ao tempo (prec) os constitucionalistas portugueses- esta perdura há demasiado tempo. Aliás resultando no infindável, irresponsabilizável, agravamento da dívida soberana -a pagar pelos outros- com todas as desastradas conhecidas consequências para o nível de vida do cidadão comum. Nada que perturbe os constitucionalmente eleitos, representantes dos partidos.

José Cristóvão disse...

«Por exemplo , "Cristóvão" é um desses que há dias defendia a CEE e o governo fascista português. Segundo a sua versão "a integração europeia, ao contrário do que se pensa, já era um projeto do regime anterior" E todo contentinho da silva defendia os projectos fascistas e a integração europeia.»

Não, apenas referi que a adesão à então CEE foi um projeto político do antigo regime. Isto ia de encontro ao tema do outro post que desmistificava que a democracia em Portugal era resultado do 25 de Novembro e da CEE/UE; eu fui da perspetiva inversa: a de que a adesão à Europa foi um desígnio da democracia e pelos governos democráticos foi planeada (para dizer que não, já o tinha sido antes).

«Agora aparece aqui com este "discurso" de verdadeira coisa cujo nome não se pode nomear mas que é reconhecível desde logo:

"Não esquecer que, se para os europeus continentais a União Europeia introduziu o neoliberalismo na Europa"

Mas "para os britânicos a União Europeia impediu o aprofundamento do neoliberalismo"»

1) A mesma organização pode surtir efeitos diferentes em países diferentes. Não esquecer que o Reino Unido teve o primeiro governo neoliberal eleito da História - o de Margaret Thatcher em 1979 (o de Pinochet veio como resultado de um golpe). Ronald Reagan seria eleito em 1980, a maioria absoluta de Cavaco Silva em 1987, a França passaria os anos 80 com uma experiência política de esquerda (François Mitterrand foi eleito em 1981), a Alemanha teve Helmut Kohl (eleito em 1982) que fez a reunificação (e houve uma grande privatização/asset stripping dos ativos públicos da antiga Alemanha de Leste), em Itália houve Bettino Craxi (1983-1987). Os governos europeus continentais (sim, mesmo o do Cavaco) no geral alargaram o Estado social e diminuíram as desigualdades sociais. A Margaret Thatcher não só privatizou (como o Cavaco), mas também desmanchou a rede de proteção social que havia sido montada após 1945: reduziu a despesa nos apoios sociais e introduziu o "direito a comprar" a habitação de bairros sociais que resultou numa forte diminuição da habitação social sem construção de novos fogos.

Foi a União Europeia, através das suas diretivas, que impôs ao Reino Unido certos padrões ao nível de qualidade e de segurança, e de direitos dos consumidores, dos quais os Brexiteers se querem livrar (daí terem propagado mitos como o infame das "bananas retas"!). Eles querem uma economia 100% neoliberalizada e predadora, sem qualquer tipo de mínimo onde as pessoas se amparem. E, no caso do Reino Unido, não nos enganemos: foi a União Europeia que garantiu ao povo britânico esses mínimos, pois o governo Thatcher já os havia tirado. No caso da Europa Continental, a União Europeia tirou alguns desses mínimos, pois ainda não havia adotado a 100% o neoliberalismo puro Thatcher/Reagan.

2) O que foi o Discurso de Bruges? Foi exatamente dado pela Margaret Thatcher em 1988 contra o federalismo europeu. Nele proferiu a seguinte frase: "we have not embarked on the business of throwing back the frontiers of state at home only to see a European superstate getting ready to exercise a new dominance from Brussels" ("não embarcámos no negócio de puxar para trás as fronteiras do Estado em casa apenas para ver um super-Estado europeu a preparar-se para exercer um novo domínio a partir de Bruxelas" - leia-se para não privatizar ativos públicos estratégicos e deixar desamparados os mais fracos).

JE disse...

"cristovão"

Já percebemos tudo. Para estas cenas assim de berdadeiro rebolucionário adepto do estado fascista, a debitar estórias imbecis, com estas certezas estóricas já demos.

Só um tipo consegue dizer tais barbaridades e ainda por cima tenta fazer-se passar como coisa séria.

...aquele sujeito de que agora não me lembro o nome... esse mesmo que todos estamos a pensar

Anónimo disse...

Não nos enganemos. Alargaram os apoios sociais e a União Europeia tinha mínimos
Ahahahah

Anónimo disse...

A Constituição assusta muitos. Em Portugal quem manda são os portugueses. Não o Reino Nem a UE. Nem os interesses privados transformados em partidos políticos. O que tu tens é raiva pelo 25 de Abril

JE disse...

Muito bom, não se podia ser mais claro. "...preservar a liberdade de escolher quem o representa e legisla...".

Ora bem.Partir da vitória do Brexit no RU,onde o voto democrático se "impôs contra todas as campanhas de intimidação e cenários de catástrofe, incluindo as levadas a cabo por uma boa parte do Partido Trabalhista", para uma ode ao sistema político do mesmo RU vai uma distância enorme.

Tentar-se vender um reino e um sistema bi-partidário, com as condicionantes do que vigora no "reino" e com o que se sabe do sistema legislativo no mesmo reino é fazer das pessoas parvas

É como, perante a derrota do fascismo nos idos tempos de 1974,alguém vir elogiar o fascismo em Portugal, porque Portugal derrotou o fascismo

Portanto a treta do representante eleito mais o representante eleito pela treta como paradigmas da transparência do processo eleitoral e da vontade dos eleitores é uma farsa. Que o diga quem esteve sob as ordens de Thatcher e depois de Blair, que um coitado aí se põe a traduzir, a ler, a tresler e a impingir

O que pretende este "anónimo" com estes disparates sobre o RU?

Avançar com estes disparates sobre Portugal:
"Em Portugal vai para meio século alguém convenceu o cidadão português blablabla escolher entre dois grupos de interesses privados, vulgo partidos políticos.
blablabla uma fórmula típica dos regimes totalitários e que inspirou ao tempo (prec) os constitucionalistas portugueses blablabla agravamento da dívida soberana -a pagar pelos outros blablabla

O que o tipo tem é saudades do regime antes do 25 de Abril. Preferia o antes do meio século. E tem aquela raiva contra a CRP característica do género

A nomeação de "dois interesses privados" vulgo partidos políticos é o testemunho da sua menoridade intelectual. Dois? Só dois? Mesmo só dois? Para vermos só dois? A PPP da Fertagus e a PPP de Vila Franca de Xira?

Os regimes totalitários que inspiraram o nosso PREC é a conversa de sempre de quem tem uma enorme espinha atravessada na garganta. Ainda não perdoam que Portugal se tenha libertado do "totalitarismo" fascista.

O "pagar pelos outros" é a velha ladainha passisto-troikista embrulhada em papel celofane para ver se assim passa.

E,tal como Ventura, não gosta de eleitos. Prefere os nomeados.Pelos fascistas.Ou pela UE.

Isto faz lembrar quem?


Manuel Galvão disse...

O Povo Português - desde a raia miúda de técnicos de limpeza até aos técnicos superiores da administração pública e as de pequenas empresas - perdeu em soberania com a entrada de Portugal na CEE / UE, mas vive hoje muito melhor do que vivia antes dessa "entrada".

A Soberania não serve para coisa nenhuma se não trouxer mais alimentação, saúde, educação, transportes, etc. do que a ausência de soberania.

A soberania mais soberana que tivemos foi a de Salazar. Orgulhosamente sós.

A Grã Bretanha fez o Brexit para as elites terem mais soberania e prosseguirem a senda da globalização e para controlar a imigração ilegal. A raia miúda de lá vai sofrer, e não há-de ser pouco, A maior parte deles são imigrantes. Não foram eles que pediram o Brexit...

JE disse...

Já percebemos o conceito de soberania dos trastes neoliberais. Montados no jumento usado por Passos Coelho quando este andou a ameaçar com o diabo, "esqueceram-se" que a nossa submissão a Bruxelas, ao FMI, à troika, foi o nosso passaporte para menos alimentação, menos saúde,menos educação, nenos transportes

A soberania serve mesmo para muita coisa. E a memória é uma coisa lixada para estas coisas que da Holanda ou da sede local persistem em se multiplicarem numa multiplicação desonesta, ora em rebolucionários da treta, ora em assumidos saudosistas do ancien regime.

Agora andam de candeia numa das mãos e com o breviário na outra a arengar sobre a arraia-miúda e as elites mais a senda da globalização

E a perguntarem inquietos ( mas de forma manifestamente imbecil ) quem é que pediu um Brexit e lhes arruinou a missa do Directório Europeu uberalles

JE disse...

Engana-se portanto manuel galváo/anonimo/cristóvão/mais o dono destes nicks todos,cujo nome não nos lembramos, mas que é admirador confesso daquele ministro holandês.

A soberania serve mesmo para muita coisa. Contra aqueles que se aproveitaram das negociatas para a reconstituição, restauração e domínio dos grandes grupos monopolistas e a centralização e a acumulação acelerada de capitais. Que foram acompanhados pelo esbulho de bens e dinheiros do Estado, pelos escândalos das privatizações, pela entrega ao estrangeiro de sectores fundamentais da economia nacional

Por isso faz estas cenas tocantes mas sobretudo patéticas. Filipe II de Espanha também no início tentou comprar os portugueses, antes que as grilhetas se afundassem contra o povo português com a violência que se conhece

José Cristóvão disse...

Não sou nem neoliberal nem "manuel galváo/anonimo/mais o dono destes nicks todos" (aliás, assino com o meu nome verdadeiro), nem defensor da União Europeia, muito menos defensor do fascismo. Apenas defendi que a) a integração europeia começou mais cedo do que defendemos (o que é simplesmente um facto, que não depende de qualquer ideologia política para ser reconhecido como um facto) e b) que, *no caso específico do Reino Unido*, a União Europeia defendeu o povo de algo ainda pior (sabe o que foi a Margaret Thatcher? O que foram as greves mineiras nos anos 80? O que o acordo comercial que o governo de Boris Johnson queria celebrar com a América de Trump?), mesmo tendo implementado uma forma de neoliberalismo nos países-membros continentais europeus.

Não, não apoio a União Europeia. O que Filipe II de Espanha fez em 1580 também a União Europeia o fez com os famigerados "fundos" nos anos 80 e 90, que foram a base de implementação da casta corrupta cavaquista. E, sim, a União Europeia é uma grilheta sobre a soberania dos povos, cujas normas dos respetivos tratados, regulamentos e diretivas levam à privatização de ativos estratégicos e impedem a respetiva renacionalização. Como, de resto, sim, teria limitado a soberania britânica caso Jeremy Corbin tivesse tido uma maioria parlamentar que lhe permitisse ser primeiro-ministro e aplicar as suas propostas políticas, que implicariam a renacionalização de vastos setores da economia.

Jaime Santos disse...

Gostava sinceramente de perceber qual foi o combate que o federalismo europeu (se isso ainda existe) travou contra o Brexit. Os britânicos degladiaram-se durante vários anos no seu Parlamento e fora dele pelas diferentes visões de uns e de outros.

Era só o que faltava se os perdedores se tivessem que calar e que entregar os pontos, eu podia já mandar quase todas as pessoas neste blogue calarem-se, a começar pelo Jorge Bateira.

No fim prevaleceu, e bem, a vontade da maioria. Se tivesse havido um segundo referendo com resultado oposto, o RU provavelmente entraria em crise permanente, algo que seria desastroso para eles e provavelmente para a UE. Mas seria ainda assim uma decisão saída da vontade popular e das instituições britânicas. Tão só...

Parece que para alguns a democracia só é boa quando dá o resultado de que gostamos. Quando não dá é porque o povo não estava preparado para votar, como a 25 de Abril de 1975.

A única coisa que a UE exigiu e conseguiu foi que a saída correspondesse a um regime menos favorável para o RU ('no-cherry picking'). O nacionalismo para alguns, a começar por Boris Johnson e pelos Tories que querem fundar uma 'buccaneering nation' (uma nação de piratas) é achar-se que podemos tomar os outros povos por parvos.

Em democracia, há escolhas, e a maioria das vezes são entre o mau e o pior.

Quanto ao Labour, paz à sua alma, pode ser que lá para 2029 tenha alguma chance de regressar ao Poder (se ainda houver um RU, isto é):

https://www.theguardian.com/commentisfree/2021/jan/01/brexit-bonfire-national-illusions-labour-alternative-future

Mas a primeira responsabilidade por este desastre, Jorge Bateira, é de Corbyn e dos Lexiters que pensavam que poderiam simultaneamente recuperar a capacidade de construir o socialismo num só País (seja lá o que isso for em 2021) e dividir os Tories com o Brexit e não ligaram um chavo à decisão democrática do seu Partido de apoiar o Remain.

Azar dos Távoras, conseguiram isso sim dividir o seu próprio eleitorado (pode-se fazer uma purga no grupo parlamentar como fez Johnson, não se pode dispensar os eleitores), entre a maioria remainer que ameaçava fugir para os Liberais Democratas (como nas eleições europeias de 2019) e a minoria leaver da velha 'Red-Wall' (nova 'Blue-Wall')...

Acabaram aos ziguezagues sem agradar a ninguém e a levar um banho nas urnas. Saem com um acordo que nem sequer garante direitos sociais e laborais aos britânicos e todos sabemos como os Tories abusarão das classes populares o mais que podem:

https://www.theguardian.com/commentisfree/2020/sep/11/tories-arent-incompetent-economy-brexiter

Para idiota útil da Direita mais reaccionária, idiota útil e meio...

E isso talvez sirva de aviso à nossa Esquerda Moral que pretende um regresso às políticas falidas dos anos 70. No dia em que um qualquer Pedro Nuno Santos quiser levar o PS por esse caminho, este votante de sempre nunca mais lhe dá o seu voto e desconfio que haverá muitos como eu... E a Esquerda vai para a oposição durante vinte anos...

E depois quero ver o PCP e o BE a saborearem a sua vitória moral...

Anónimo disse...

Há diferenças importantes nas consequências dos diferentes processos eleitorais.

Por um lado há sistemas eleitorais, como nos EUA, no RU e em outros Países, em que um candidato a deputado se apresenta em seu próprio nome na lista, do seu círculo eleitoral, patrocinado por um partido, com quem estableceu um protocolo. Ou mesmo, em certos casos, pode se apresentar como independente de qualquer partido.
Por outro lado há sistemas eleitorais, como o português, em que só partidos aparecem nas listas. Neste caso a fiscalização dos actos governamentais, pelo Legislativo, obviamente que não existe.

No RU, por exemplo, os directos representantes dos eleitores, os MPs, o Legislativo, foram derrotando consecutivamente as inépcias do Executivo de Teresa May no sufragado caso Brexit.
Nos EUA, por exemplo, as Camaras legislativas derrotaram várias vezes as moções do Presidente Trump, como por exemplo no seu projecto para um "SNS". "Checks and balances".
Em Portugal os governos podem fazer os negócios que bem, ou mal, queiram fazer (Bancos privados, PPPs, TAP) sem fiscalização
Será que com um sistema em que ocorra a possibilidade de fiscalizar os actos do Executivo pelo Legislativo, directamente eleito, com real poder de representatividade estes, e outros casos, teriam ocorrido, em Portugal?

JE disse...

Bom

Este é um post de Jorge Bateira, sereno e irrefutável:
"A democracia ganhou, o federalismo perdeu"

Este é um título feliz que tem o seu desenvolvimento posterior, com uma limpidez notável

Talvez precisamente por causa disso, a frustração, o rancor, a impotência, a ira dos euroinómanos de serviço saltam como navalha de ponta e mola.

Confessemos porém que poderiam ter mais nível e pautarem-se por alguma honestidade e princípios.

Em vez disso assiste-se a esse jogo de sombras a raiar o putrefacto. No último ( que é o primeiro e o segundo and so on) lê-se esta coisa:
" a integração europeia começou mais cedo do que defendemos (o que é simplesmente um facto, que não depende de qualquer ideologia política para ser reconhecido como um facto)
Bom. A integração europeia foi um facto. Como facto parece que tem um começo mais precoce do que "pensamos" que aconteceu. O que parece mais uma vez que é um facto. Mas o facto é que a integração europeia foi um facto ou o facto foi que "pensamos"? E o pensar torna-se um facto? Ainda por cima assim dito no plural? Quem pensa que pensa e que pensa assim todos juntos em manada? E quem pensa como um facto sabe que não pode depender de qualquer ideologia política? Logo não pensa. Um pensamento que é um facto, não o facto que é sujeito ao pensamento. Sem qualquer ideologia política porque senão não é um facto. Nem um pensamento

Nem sequer vale a pena ler mais imbecilidades. Este "cristóvão" deixou de existir porque deixou de pensar. Só falta a sua segunda derivada montada por Passos Coelho para termos tal confirmação

Entretanto:
"A democracia ganhou, o federalismo perdeu". Ainda bem

JE disse...

"Era só o que faltava se os perdedores se tivessem que calar e que entregar os pontos"

Por favor,Jaime Santos,alguma coerência

Quem diz isto é quem nos martela a cabeça com as irredutibilidades históricas, do género: os neoliberais ganharam, os "outros" perderam

É quem diz que "não vale a pena ficar nas margens a arengar contra a vida tal como ela é."

É quem diz a João Rodrigues, de forma grosseira aliás : "Você perdeu e vai continuar a perder"

É quem de forma terrivelmente monótona,convida à desistência e às grilhetas.

Francamente JS.

( e já agora. A prova que o federalismo perdeu e que a democracia ganhou, é esse tom de verniz estalado. Agora o federalismo parece que já não existe....francamente Jaime Santos, algum discernimento,por favor)

JE disse...

Bom,Jaime Santos continua no seu desvairado caminho.

Mergulha na política britânica com aquelas certezas certeiras, repetindo o blablabla de sempre.Esquece as figurinhas que andou a fazer,desde a sua inabalável confiança na derrota do Brexit, até à responsabilidade de Corbyn e dos Lexiters...

E o banho nas urnas...

Aquele em que triunfou a democracia e perdeu o federalismo?

E depois há a "esquerda moral"... essa é um tiro no pé. Duplo. É admitir que a cambada que o rodeia não passa de uns sacanas sem lei,sem moral e sem ética...a falta de classe desta gente dessa classe
Mas é também um tiro no pé quando se confronta com a tonitroante frase de JS ali mesmo em cima:
"Era só o que faltava se os perdedores se tivessem que calar e que entregar os pontos".
Quer dizer, o convite à submissão tem um sentido único. Essa da esquerda querer lutar pelo que quiser é que não pode ser. São as "políticas falidas".Em contraponto às grilhetas de Bruxelas. Cada vez mais claro

JS não acaba antes sem nos fazer o favor de fazer a sua campanha eleitoral interna. Para quem o quer ouvir. Ai do PS se Pedro Nuno dos Santos... ele não vota e desconfia que muitos mais do que ele...

Esse proselitismo convertido em chantagem é sinal dos tempos. Dos tempos de JS. E infelizmente o que sobra é esta miséria intelectual e ideológica

JE disse...

Infelizmente a histeria euroinómana continua

Depois de se ter assumido como um assumido amante dos tempos antes de Abril e pautado de forma clara a sua raiva contra a Constituição,volta o mesmo"anónimo" agora com falinhas mansas para ver se assim passa.

Um blablabla típico do sujeito em causa, a tentar dar lições agora sobre as "consequências dos processos eleitorais"

Bom. O que dizer disto senão que estamos em presença de um malabarista profissional, ignorante ou desonesto para ver se assim passa?

As consequências dos processos eleitorais são o que resulta das suas votações.

Certo?

A confusão ignorante ( ou algo pior) que vai naquela cabecinha para confundir tal com as estruturas institucionais que definem os diferentes sistemas eleitorais


Em Westminster aplica-se o sistema da “pluralidade de votos” estrita: em cada círculo, ganha o candidato que obtiver mais votos, independentemente da participação eleitoral ultrapassar ou não os 50% dos votantes registados. Este sistema limita drasticamente a capacidade de pequenos partidos obterem representação parlamentar

Quer potenciar naturalmente o fortalecimento de uma maioria. Nas eleições de 2015, apesar dos trabalhistas terem ficado a apenas 6,5% dos conservadores (31,2% contra 37,7%), os conservadores obtiveram quase mais 100 deputados do que os trabalhistas, algo totalmente desproporcionado face à vantagem de votos total obtidos.Ou seja 330 deputados para os conservadores,232 para os trabalhistas

Já percebemos o que quer o "anónimo"

Curiosamente o "anónimo" revela as suas raízes verdadeiras com esta frase assassina:
"Em Portugal os governos podem fazer os negócios que bem, ou mal, queiram fazer (Bancos privados, PPPs, TAP) sem fiscalização.

Confundir as privatizações e os negócios sujos dos seus comparsas neoliberais com o caso TAP é por demais revelador

Quer meter tudo no mesmo saco...
Quer assim os seus eleitos eleitos de acordo com os altos critérios da UE? Quiçá da UN?
Para que os actos do executivo cumpram as ordens federalistas, sem essa coisa comezinha dos deputados nacionais?

Isso e muito mais


José Cristóvão disse...

«Bom. A integração europeia foi um facto. Como facto parece que tem um começo mais precoce do que "pensamos" que aconteceu.»

Olhe, estou farto das suas picardias e até difamações. Sou apenas e somente José Cristóvão; não tenho qualquer relação com qualquer outra conta. A fundação da EFTA em 1961 por, entre outros países, Portugal foi um facto. A assinatura do Acordo de Associação em 1973 pelo governo de Marcello Caetano foi outro facto. Ambos foram episódios do processo português de integração europeia - que costumamos dizer que começa em 1986 (logo é mais cedo do que imaginamos). O reconhecimento destes factos enquanto factos não implica nem o apoio ao fascismo nem â União Europeia!

JE disse...

"cristóvão" a tentar emendar os seus disparates.

Eis o que disse:
" a integração europeia começou mais cedo do que defendemos (o que é simplesmente um facto, que não depende de qualquer ideologia política para ser reconhecido como um facto)

Os factos e os factos que defendemos. Agora convertidos numa borracha para ver se apaga as tontices ai em cima apresentadas. A que acrescenta novas:
" costumamos dizer que começa em 1986 (logo é mais cedo do que imaginamos)."

Do conhecer passa para o imaginar. Factos do conhecimento e da imaginação

Como sempre a fuga para a frente,depois de ter andado a dizer asneiras em forma de letras.E reaparece com novas. O padrão habitual no "cristovão".

A tentar esquecer duas coisas:
-Que a água benta que se deita para cima de quem tentou afunilar a nossa independência para a CEE,podia ser encontrada mais para trás.Por exemplo para o tempo dos Filipes ou para o tempo da união ibérica.
Isso sim . O processo de integração europeia "pensada e imaginada" tão de longe

-Que o 25 de Abril cortou cerce as veleidades de Marcelo,perdão, Marcello Caetano. Tal como 1640 fez o mesmo com a "união ibérica"

O que faz uma simples frase:"A democracia ganhou, o federalismo perdeu"

JE disse...

Podemos agora dar lugar ao momentozinho deprimento-cómico?

Diz "cristovão"
*no caso específico do Reino Unido*, a União Europeia defendeu o povo de algo ainda pior (sabe o que foi a Margaret Thatcher? O que foram as greves mineiras nos anos 80?)"
Viu-se.Só se fosse no leite do biberão daquele que viria a ser aquele ministro holandês. Porque a retirada do leite nas escolas inglesas foi um facto

"foi a União Europeia que garantiu ao povo britânico esses mínimos, pois o governo Thatcher já os havia tirado. No caso da Europa Continental, a União Europeia tirou alguns desses mínimos, pois ainda não havia adotado a 100% o neoliberalismo puro Thatcher/Reagan".
Os mínimos da união europeia casam bem com o conceito da Europa continental. Como Thatcher já tinha tirado esses Mínimos (????) a união europeia tirou também alguns desses mínimos. E porquê? Porque ainda não havia adoptado a 100 % o neoliberalismo puro.
Desqualificado por ignorância geográfica, publicidade enganosa e indigência intelectual

Comentar "isto" é perder tempo com idiotices.

Vamos brindar a esta vitória da democracia

Anónimo disse...

Sim, há sempre opções constitucionais e as respectivas consequências.
-Parlamentos exclusivamente preenchidos por partidos. Grandes, médios, pequenos, pequeninos (vulgo “do taxi”), ou mesmo “da trotinete”. Espécie de grupos corais que seguem a preceito as respectivas partituras partidárias. Neste caso impostas e aceites pelos deputados, dos partidos. A força da Lei. Também podem aparecer alguns solistas -sem peso no momento do voto parlamentar- que contribuiem para colorir a mal disfarçada cacafonia.
Em Portugal esta opção, convém relembrar, foi, ao tempo, sufragada e democraticamente aprovada por um grupo de aterrorizados ex-sequestrados. Um pecado original ... com consequências. Nunca sujeita a plebescito nacional a actual constituição é óbviamente, por consequência, de facto, um documento com legitimidade reduzida.

-Uma outra opção, são os Parlamentos preenchidos pelos cidadãos que venceram a eleição no seu círculo eleitoral. Em consequência dessa eleição pessoal, directa, adquirem o poder -um direito próprio, inalienável- de representar políticamente o seu grupo de eleitores.

Questão bem mais delicada é o justo desenho de esses círculos eleitorais e da, ou das, Câmaras de representação política, do cidadão ... ou dos partidos. Nada que preocupe muito boa gente mas, como sabemos, também com consequências.

JE disse...

Comentário de um "anónimo" que tem saudades dos tempos das votações de há mais 45 anos:

"Em Portugal "alguém" -doentiamente, apenas interessado no poder pelo poder- vai para meio século conveceu o cidadão português que "exemplar democracia" é (só poder) escolher entre dois grupos de interesses privados, vulgo partidos políticos" blablabla....numa fórmula típica dos regimes totalitários e que inspirou ao tempo (prec) os constitucionalistas portugueses- esta perdura há demasiado tempo"

As preferências são como as daquele tipo que gostava do ministro holandês. Há-as para todos os gostos

Agora temos direito a mais blablabla para ver se o levam a sério.

Mas depois desta pérola:
"Há diferenças importantes nas consequências dos diferentes processos eleitorais."

É mesmo impossível. Ele bem tenta fazer o pino e tirar o dedo do nariz dos aterrorizados ex-sequestrados enquanto fala nas preocupações da sua gente.

Estamos em presença de um solista a fazer uma mal disfarçada cacofonia

Ora bem. Isto faz lembrar quem? Montado na segunda derivada...? Esse mesmo

É altura mesmo de voltar ao tema do post
E brindar à derrota do federalismo

Anónimo disse...

Já te entendi. Querias um plebiscito como o fascista de 1933
Tipo TINA

Anónimo disse...

Só conheço um tipo que queria rasgar a CRP e pedia o plebiscito. Era aquele tipo que escreve da Holanda