quinta-feira, 17 de abril de 2014

Para lá da propaganda


UE completa maior projecto de integração desde a criação do euro. Pura propaganda europeia sob a forma de notícia. Será assim até às eleições europeias. Tudo por causa de transferências de poder para o pós-democrático BCE na supervisão de alguns bancos, de alguma uniformização regulatória e de um fundo de resolução liliputiano, que representará 1% dos depósitos garantidos na Zona Euro, para dar uma aparência de ordem à ilusória imposição da disciplina de mercado aos bancos por via da reestruturação ou da falência.

Trata-se de um sistema opaco e favorável ao reforço do controlo do grande capital financeiro, até porque parece basear-se na crença absurda de que o BCE será menos imune a pressões. Na realidade, os grandes bancos do centro acentuarão o conluio com o BCE, em detrimento dos interesses da periferia. A pressão para a constituição de bancos maiores aumentará.

Estamos longe da ilusória “União Bancária”. Esta teria de ter, por exemplo, um fundo comum de garantias de depósitos. É evidente que os alemães não querem assumir grandes responsabilidades pelos outros.

Trata-se, com ou sem união, de manter no essencial as estruturas regulatórias neoliberais, favoráveis à expansão dos mercados financeiros e da acção dos bancos à escala europeia e global. Nem outra coisa seria de esperar de um processo de integração que, desde a década de oitenta, foi o principal mecanismo de modificação da paisagem bancária europeia, através da liberalização, da abolição dos controlos directos sobre a banca e sobre os capitais e de construção de quadros de regulação conformes à expansão das forças de mercado.

Quanto mais reforçarmos o quadro supranacional, mais o viés neoliberal sairá reforçado. Querem evitar crises e dirigir o crédito? Então temos de fragmentar e nacionalizar o sistema bancário, ligando esse processo à recuperação da soberania monetária. Quanto mais tempo demorarmos mais custos continuaremos a pagar. Se a própria Elisa Ferreira, no meio do entusiasmo, reconhece que esta coisa não está preparada para “crises gigantescas”. E não é só questão de preparação, mas de favorecimento...

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