quarta-feira, 9 de abril de 2014

Leituras


«Isabel Jonet, Paulo Portas e o banqueiro Ulrich, entre outros, são exemplos de uma elite com um discurso autoritário sobre os portugueses em situação limite. Jonet usa a visibilidade de uma instituição que é de todos para tiradas abusivas sobre a privação material (...). As suas bocas resultam de lugares comuns que, associados a uma visão ideológica redentora, disfarçam a ignorância de validação científica. (...) Portas também. Vergastou nos beneficiários do RSI que terão 100 mil euros no banco, um insulto aos que recebem de RSI pouco mais de €87,21 por mês (...) Ninguém crê nisso, nem Portas, mas a sua narrativa serve o desbaste social, a inveja pública e a legitimação do choque e pavor. Ulrich, o banqueiro-activista, quer que os portugueses aguentem: os 2 milhões de pobres, os 20% em risco de cair nela, os incontáveis milhares forçados a partir e os milhões de desempregados, empregados pobres, insolventes. Logo ele, que não aguentou e estendeu a mão ao Estado. Estes são os representantes de uma elite cínica que, ela sim, vive num país irreal. São os intocáveis. São os de cima. Mas fortaleceram uma crescente autoridade simbólica no país, fazendo com que a maioria dos de baixo apoie as medidas que os prejudicará no seu todo.»

Tiago Barbosa Ribeiro, Os pobres contra os pobres

«Os tweets de um secretário de Estado chamado Bruno Maçães (...) vão fundo ao pensamento débil de quem nos governa e mostram a perigosidade social de meia dúzia de ideias extremistas na mão de quem tem poder e que, sem mudarem nada, estragam o país por muitos anos. (...) Dificilmente se pode encontrar melhor exemplo da gigantesca arrogância e presunção de um conjunto de conselheiros de Passos Coelho, em que tudo transpira a uma gigantesca auto-suficiência e assertividade, associada a uma profunda ignorância do que é Portugal, a sua história e as suas pessoas, o povo, nós todos, o único "nós" que tem sentido.(...) A metade de Passos Coelho que não foi feita por Relvas foi feita por homens como Maçães, combinando na mesma criação a esperteza aparelhística e o mundo das negociatas e das cunhas, com as altas esferas académicas sempre dispostas a fazerem de dr. Strangelove. Ou seja, o dr. sem ser dr., junto com o Professor Doutor. Infelizmente, a história tem muitos exemplos destes e dão sempre torto. Mas eles nunca querem saber de história.»

José Pacheco Pereira, Os piu-piu de Maçães

«O Portugal que durante 40 anos Salazar achou que era seu, pobre mas honesto-limpo-obediente, como agora o Governo no poder quer Portugal, porque acha que Portugal é seu. (...) Este prémio é tradicionalmente entregue pelo Presidente da República, cargo agora ocupado por um político, Cavaco Silva, que há 30 anos representa tudo o que associo mais ao salazarismo do que ao 25 de Abril, a começar por essa vil tristeza dos obedientes que dentro de si recalcam um império perdido. E fogem ao cara-cara, mantêm-se pela calada. Nada estranho, pois, que este Presidente se faça representar na entrega de um prémio literário. Este mundo não é do seu reino. Estamos no mesmo país, mas o meu país não é o seu país. No país que tenho na cabeça não se anda com a cabeça entre as orelhas, “e cá vamos indo, se deus quiser”. Não sou crente, portanto acho que depende de nós mais do que irmos indo, sempre acima das nossas possibilidades para o tecto ficar mais alto em vez de mais baixo.»

Alexandra Lucas Coelho, O meu país não é deste Presidente, nem deste Governo

«O meu medo é que depois digam que nós portugueses somos como o escaravelho (...), quase uma versão zoológica da Caverna de Platão, seres de tal forma habituados à funda depressão e à falta de horizontes que tenham perdido as asas e os olhos. Às asas, para humanos, chama-se imaginação. À metáfora dos olhos chama-se aqui “vontade de ver”. (...) Não podemos ter perdido a capacidade de imaginar um outro país que não no fundo da gruta. Não podemos ter perdido a vontade de ver, com olhos de ver, o mundo à nossa volta. Não podemos ser um país dividido entre os que não têm imaginação para mais do que isto, e os que se recusam a ver a realidade. (...) Talvez algures na nossa memória genética tenhamos ficado condicionados, habituados a viver sem futuro nem luz, sem capacidade de reação. Mas também noutro recôncavo da memória ficou a centelha que nos fez perceber que podíamos fazer qualquer coisa para nos salvarmos — e mais ainda, que isso nos competia a nós.»

Rui Tavares, Nós não somos este escaravelho

3 comentários:

Jose disse...

«...um discurso autoritário sobre os portugueses em situação limite»?
E que não estejam em situação limite!
Comemoram-se 40 anos que nos livramos da autoridade, em que um movimento popular apoiado pelas elites progressistas estabeleceram a demonização da autoridade e instituíram a figura do coitadinho - o desobrigado - essa vítima da sociedade que é base e fermento do nosso elevado espírito cívico!

maria disse...

Somente um grupo de sociopatas que nos governam!!!
para estes a desobediência civil está na ordem do dia!!!

já agora, era hora de acabarmos com os ansioliticos, antidepressivos e quejandos, que andam a drogar esta socieadde e que retira às pessoas capacidade de pensarem e agirem!!

isto anda tudo ligado...
e antes que seja tarde...

Anónimo disse...

O elevado espírito salazarento de jose leva-o a estas figuras tristes: Um choro incontido pela demonização da ordem fascista.

O "coitadinho" é apenas a versão pessoal do jose, dos "piegas" com que o coelho e o relvas nos encheram os ouvidos

Uma tristeza pegada estes replicadores incontidos feitos "his Master's Voice

De