«No aeroporto, o polícia olhou para o passaporte, olhou para o gordo com cara de bem não transacionável e disse-lhe: "Quer uma entrada limpa?" O gordo não percebeu. O polícia: "É que se há saídas limpas, sem favores, também há entradas limpas. Quer entrar em Portugal limpamente?" O gordo disse que sim. O polícia olhou mais dez vezes para o passaporte e disse: "Estou a fazer a minha 11.ª avaliação... Nome, Subir Lall... Chefe de missão do FMI... É, o senhor tem visto." O gordo, já com soberba: "Claro que tenho!" O polícia, como quem fala da subida do salário mínimo: "Mas é prematuro especular sobre o tema... Que dia é hoje?" O gordo, julgando que números é com ele: "20!" O polícia: "Justamente, o visto de entrada é para o dia 21." Pegou numa calculadora, que dedilhou: "21 menos 20... É, falta um dia para entrar." O gordo: "Por amor de Deus, só por um dia..." O polícia: "Deixe-me citá-lo, sr. Subir Lall: este não é tempo para complacências." O gordo: "Mas que mal faz? Não entro amanhã, entro hoje, vá lá..." O polícia: "Aí já não o cito, você gosta da redução dos custos de trabalho mas eu não gosto da redução do tempo de entrada." O gordo, insistindo numa medida de ajustamento. "Vá lá..." O nosso polícia, firme: "O senhor pode gostar de facilitar despedimentos, mas eu não me despeço de si sem o visto em ordem." E durava esta conversa 40 minutos quando, por telefone, chegou o programa de assistência ao gordo. E o gordo lá entrou.»
Ferreira Fernandes, (no DN de ontem)
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11 comentários:
O detalhe de 'gordo' traz a um texto interessante a foleirice que define o autor.
Sem me deter na mais valia do autor do texto, a palavra "gordo" parece-me bastante apropriada para o funcionário do Capital.
Um vulgar dicionário pode ajudar a dissipar as dúvidas, mas para isso é preciso não os tratar com os pés,como é hábito entre alguns aculturados.
(se bem que eu, pessoalmente, preferisse o termo "atoucinhado" para designar o "gordo" em exercício).
De
Tadinho do gordo!
Nem que fosse um palito, ainda mereceria o epíteto de "fat pig".
Mas será possível que os comentários se foquem em alimentar o troll e não no texto em si?
Apesar do texto de Ferreira Fernandes ser engraçado, e com um curioso sub-entendido, tudo aparenta que é uma ficção, pelo menos no conteúdo. No fundo, o que transpirou para as notícias foi que um cidadão indiano que trabalha para uma organização internacional chegou ao aeroporto sem um visto válido e pagou para usufruir de um visto de um dia.
Não sei qual seria o procedimento para um cidadão indiano não funcionário de uma organização internacional, mas se calhar seria interessante abordarmos isso. E não outro tipo de troll...
É assim a noção de Capital para os aculturados: gordo, colete e corrente e relógio de ouro, charuto acendido em notas!
Missão: garantir que escassos descontos dêem opíparas reformas!
Para mim a crónica do jornalista FF está excelente! Mordaz e bem conseguida.
Há tempo para tudo, para discutir vistos e imigração, gordos e magros, e por aí fora. Mas agora não, “não me venham com a moral”!
Não parece nada ficção. até acaba com a chegada da inevitável cunha para salvar o gandulo (oops ... Ajuda)
Sili
A questao da cunha é interessante e penso que está mais relacionada com a mensagem que o autor do texto pretende passar, do que com qualquer facto que tenha ocorrido.
Como disse o D.H., mordaz e superiormente conseguida, mas factual mesmo só um indiano gordo que chega ao aeroporto sem visto e que arranja na hora, um para um dia.
É de facto esclarcedor ver a forma como jose se expressa face aos desempregados, aos funcionários públicos, aos meros subscritores de manifestos, aos que apontam para outros caminhos que não os da troika e a forma como o mesmo jose se apressa a defender um capo da troika.
O qualificativo "gordo" parece que é demais quando aplicado a uma "coisa" daquelas.
Enternecedor ver a genuflexão pressurosa, sentida, servil e canhestra de alguns face aos que de facto são o que são
De
Bolas, tanta conversa à volta do termo "gordo"... Claro que é um gordo do sistema ou um "fat-pig" como foi dito antes ... A frase "O governo tem de cortar nas gorduras do estado" nunca fez tanto sentido como neste criativo texto ... muito bom !!!
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