domingo, 13 de abril de 2014

CDA: «Reestruturar ou empobrecer - Não há saídas limpas» (II)



«O indicador que mais sobressai e que mais lastro deixará para o futuro é sem dúvida o desemprego. (...) Só este indicador mostra um dos grandes falhanços da execução deste programa. De qualquer forma, a taxa de desemprego não é um bom indicador para avaliar as condições do mercado de trabalho e a evolução nos últimos três anos. (...) Por dois motivos: por um lado, porque obviamente as pessoas que emigraram não estão nas estatísticas. Sabemos que oficialmente emigraram pelo menos 220 mil pessoas em 2011 e 2012. (...) Ao mesmo tempo há um indicador muito interessante que é quase sempre esquecido nas estatísticas: (...) os inactivos disponíveis mas que abandonaram a procura de emprego. (...) Podemos somar a taxa de desemprego oficial com os desencorajados. E aí a taxa de desemprego já não está nos 15,3%, que é o valor oficial do último trimestre do ano passado (e sem contar com os emigrantes), a taxa de desemprego que podemos considerar real está ainda acima dos 20%. (...) De qualquer forma, (...) é a evolução do emprego que melhor representa o que aconteceu nos últimos três anos. (...) A partir do primeiro trimestre de 2011 (...) vemos que existe uma redução de 320, 330 mil empregos nestes dois anos.
(...) A taxa de risco de pobreza subiu muito significativamente em 2012. (...) Foi um ano em que o desemprego sofreu um aumento muito severo (...) e vemos que o risco de pobreza sobe de 17,9 para 18,7%. E isto mesmo apesar de o rendimento mediano ter sofrido uma redução - o que é importante pois as pessoas consideradas em risco de pobreza são as pessoas que têm um rendimento de menos de 60% do rendimento mediano. (...) Imaginando que o rendimento mediano não se tinha alterado desde 2009, e os preços não se tinham alterado até hoje, isto permite ter uma imagem mais fiel do que aconteceu. E então vemos que, a preços de 2009, a taxa de pobreza seria hoje de 24,7 e não de 18,7%.
(...) Houve alguma transformação do perfil de crescimento da economia portuguesa? Ou simplesmente houve um empobrecimento e o seu efeito na balança comercial? Ou seja, reduzimos importações conjunturalmente, em dois, três anos (e isso levou a um alinhamento entre importações e exportações)? Mas o que é que vai acontecer a seguir? Curiosamente, as últimas projecções do Banco de Portugal, para 2014-2016, mostram que o padrão de crescimento se mantém idêntico ao que se registou entre 2000 e 2007 (...). Se podemos falar da primeira década do século e registar aqui um padrão, vemos que o PIB cresceu a 1,5% (o Banco de Portugal estima que são 1,4% nos próximos três anos) e o contributo da procura interna e da procura externa líquida é praticamente idêntico. (...) Apreendendo os últimos sinais do ano de 2013 relativamente ao crescimento português, o cenário que nos apresentam não é muito diferente do cenário que marcou a primeira década do século.»

Da intervenção de Hugo Mendes (na conferência promovida, a 2 de Abril, pelo Congresso Democrático das Alternativas), sobre o fracasso do «ajustamento» face aos seus próprios objectivos e os impactos devastadores do programa na economia e na sociedade portuguesa (a ver na íntegra).

1 comentário:

Jose disse...

Uma ladainha de vulgaridades!
Como é que o desemprego é um dos grandes falhanços da execução deste programa, quando seguramente ele havia de ser a sua inevitável consequência?

Sem capital nacional disponível o único antídoto conhecido - o investimento estrangeiro - é sempre a matéria omissa, porque mais importante que combater a pobreza é alimentar o discuso ideológico da comuna de tão conscenciosos analistas, verdadeiros espanta-capitais!