sábado, 5 de abril de 2014

O robots tomaram conta do mundo (e fazem batota)

Uma polémica em torno das operações financeiras de alta frequência - High Frequency Trading - começou nos EUA, devido à publicação do livro Flash Boys de Michael Lewis (não o li). As operações de alta frequência são o resultado de algoritmos informáticos automáticos que permitem a compra e venda de acções inteiramente operadas por computadores (robots) que exploram pequenas variações de preços dos activos. No espaço de tempo de um piscar de olhos, um computador é capaz de fazer 7000 operações de compra evenda. Hoje, estima-se que 57% das compras de acções nos EUA sejam feitas poreste sistema. Os problemas são vários e relacionam-se sobretudo com o aumento de volatilidade inerente a estes sistemas:existem sempre problemas de software (bugs) que podem levar a quedas abruptas e há a tendência destes sistemas exacerbarem movimentos de preços. O contra-argumento está no suposto aumento de liquidez nas bolsas que permitiria uma máquina mais oleada com menos custos de transacção. Um argumento dificilmente sustentável se tivermos em conta que nestes mercados, ao contrário de todos os outros, os próximos 30 minutos sempre foram o "longo prazo".

À inutilidade social destes sistemas especulativos, onde não existem quaisquer considerações de investimento, juntam-se agora as acusações do livro de Michael Lewis. Ficámos a saber que as empresas de "alta frequência" alugam espaços das bolsas para aí instalarem os seus computadores.Conclusão: têm acesso à informação de mercado milisegundos antes de qualquer outro agente, conseguindo saber ordens de compra e venda antes destas se efectuarem. Os "robots" actuam assim como parasitas batoteiros no mercado. O que esta polémica nos mostra não é um defeito do sector financeiro em regime liberal, é o seu feitio.

As operações de alta frequência são só o reflexo de uma arquitectura financeira desligada do resto da economia, movida pelo ganho imediato e colocando a melhor tecnologia ao serviço de uma super-elite, uma plutocracia, que não pára de enriquecer.


16 comentários:

Anónimo disse...

Em 5 de Junho de 2011, a CBS News já relatava que se estimava que 70% das transações de ações nos EUA eram realizadas pelos algoritmos automáticos dos operadores financeiros de alta frequência:
http://www.cbsnews.com/videos/wall-street-the-speed-traders-50105949/

Um judeusito disse...

Mais uma vez um excelente artigo deste blog. E muito actual, com toda a automatização que tantas profissões vão sofrendo cada vez mais. As impressoras 3D, são o recente aviso público.

Antigamente, eram só as profissões operárias, digamos, que eram atingidas por estes robôs.

Mas cada vez mais , as profissões "altas" e especializadas estão a ser atingidas. De arquitectos, a engenheiros, a advogados, há programas para substituir tantas delas (e não para os ajudar)

Estamos numa época igual à da Rev Industrial, em que as máquinas substituíam as profissões todas.
Na R Industrial foi preciso uma luta imensa, para colocar o horário de trabalho em 8 horas, e assim haver mais emprego. Agora estamos com o mesmo problema.


Reparei que alguns dos neo-liberais, são correctores independentes. Como ganhavam muito bem em alguns dias, alguns tinham um desprezo pelas pessoas. Mas ultimamente tantos desses correctores independentes ganha cada vez menos, pois não podem competir com esses robôs gigantescos, vamos a ver como vai a sua posição mudar.


Alvaro disse...

Este tipo de transacções pode ter um efeito positivo pois ao aumentar a liquidez do mercado torna-o mais atraente.
O problema é outro, o mercado de capitais em si é em grande parte inútil.

Anónimo disse...

É sempre bom ler o texto com um mínimo de atenção ( já agora de facto um muito excelente e oportuno post).
Repete-se assim o "naco" que parece que ficou esquecido:
"O contra-argumento está no suposto aumento de liquidez nas bolsas que permitiria uma máquina mais oleada com menos custos de transacção. Um argumento dificilmente sustentável se tivermos em conta que nestes mercados, ao contrário de todos os outros, os próximos 30 minutos sempre foram o "longo prazo".

De

Luís Lavoura disse...

Os "robots" actuam assim como parasitas batoteiros no mercado.

"Batoteiros" por quê? Em que é que é batota estar-se mais perto da fonte para se tomar conhecimento das notícias mais cedo? Qual é o mal de se PAGAR para se estar mais perto da fonte?

Carlos Duarte disse...

O problema aqui não é o dispensar ou não o elemento humano. O problema - e não está directamente relacionado com os robots - é existir uma "indústria" (com muitas aspas) que se dedica a gerar dinheiro a partir do nada. Sem função útil. E o problema está aí mesmo: quando os produtos financeiros deixam de ser algo oferecido por uma instituição financeira a um cliente (seja um depósito, um empréstimo, um seguro - o que for) e passam a a ser um produto em si mesmo, como se fossem batatas, temos um problema.

Aleixo disse...

A questão, limita-se a ser o acesso á informação e/ou o acesso á informação da tendência.
Na questão da "informação da tendência", deixemos a defesa dos vários intervenientes "deste mercado", por sua conta!Eles podem!
O que merece a nossa atenção - admitindo que temos de mamar com os mercados de capital -deverá ser a transparência e igualdade no acesso á informação! Se uns "micros" nos algoritmos fazem milhões, imaginem uns segundos... no corretor e &&& !!!

Anónimo disse...

Batoteiros é pouco.
Isto não é defeito, é mesmo feitio.
Os parasitas querem continuar a sê-lo.E os ladrões querem continuar a ter lucros imediatos, completamente à margem do que é a economia real.
Estes gajos deviam ser presos e a chave deitada no caixote do lixo.Mas tenho a impressão que o pior para eles era o confisco imediato das suas fortunas.O esvazar de bolsos desta cambada.
Ora aí está uma ideia para fazer avançar perante estes etremistas neoliberais

Um judeusito disse...

Essa de criar mais liquidez, é um bocado ingénua. Na realidade, só tem servido para aumentar os lucros de uns poucos. (liquidez= mais dinheiro)
Na realidade, só te servido para quando há bolhas, quando há crises, quando os bancos dizem estar falidos, os montantes em questão serem muito maiores.


Lowlander disse...

Luis Lavoura, larga o vinho.

Nunes disse...

Felizmente, um imposto sobre transacções financeiras mesmo que baixinho é suficiente para acabar com isso.

R.B. NorTør disse...

Não acho que a pergunta do Luís seja para mandar calar e gostava sinceramente de ver aprofundado o tema da batota.

A meu ver o que se passa neste tipo de comércio é mais condenável moralmente do que propriamente que seja uma falcatrua. Essencialmente isto põe-se porque os números mentem. Os números têm de ser lidos de uma forma que os algoritmos desenhados para este tipo de comércio, até onde eu sei, não o permitem.

Mais condenável ainda é tomarem-se decisões políticas tomando por base os ganhos, ou as perdas, que este tipo de comércio pode gerar. Basta ver o rebuliço que se passou nos grupos de pressão, quando em Bruxelas alguém aventou a hipótese de inserir um tempo de espera de 1 segundo para a transacionar um mesmo título.

Outra questão moral prende-se com as bolhas. Ao multiplicar a velocidade de valorização e depreciação de títulos, sem uma alteração de fundo dos mercados, não estamos também a multiplicar a velocidade a que podem acontecer rebentamentos de bolhas?

Lowlander disse...

Um imposto sobre transacoes financeiras que exclui os grandes centros de financeiros mundiais e como ter uma excelente guarda costeira na Suica.
Mas sempre serve para contentar alguns inocentes.

Lowlander disse...

R.B.NorTor,

A pergunta do Luis e uma alarvidade.
Este esquemas sao claramente aproveitamento indevidos e imorais de lacunas nas leis.
O facto de nao ser necessariamente ilegal nao o torna, nem util, nem correcto, nem um "mal necessario", nem uma "nao-batota".
E, isso sim, um habitual artefacto do sistema neo-liberal em que se elimina ilegalidades fechando os olhos a imoralidade e consequencias perversas destas praticas enquanto se "desregula".
Quer ver o tema da batota aprofundado? Optimo, faca a pergunta nesse sentido, mas se ler com atencao o que o Luis la acima escreveu, constatara facilmente a pergunta nada tem a ver com esse desejo genuino de maior iluminacao.
O gajo que va bugiar mais as suas perguntinhas de algibeira.

Nunes disse...

Sempre é melhor tem em algum sítio que em nenhum. http://en.wikipedia.org/wiki/Swiss_navy#Lakes_flotilla

Lowlander disse...

Eu sei que a Suica tem marinha.
O meu argumento, alias, era exactamente esse: guarda-se os lagos de forma aguerrida e deixa-se a costa Atlantica, Arctica e Mediterranica sem recursos e instrumentos adequados para a sua proteccao. (mas a ironia se calhar passa ao lado, e natural)

"E melhor que nada" comenta o nosso Dr Pangloss de servico.