quinta-feira, 10 de março de 2011

Segurança, uma necessidade básica que o neoliberalismo ignora



"Os estados liberais de bem-estar na Europa não foram construídos a partir de uma visão utópica do futuro; foram construídos como barreira à Europa do século XX tal como tinha acabado de ser vivida.

Tenha-se em conta que a maioria dos homens que construíram os estados de bem-estar na Europa não eram jovens social democratas. A maior parte das pessoas que de facto implementaram este programa depois de 1945 na Europa Ocidental eram Democratas Cristãos ou liberais e não socialistas de qualquer filiação. (...)

Todos estes homens eram adultos antes de 1914. Tinham crescido na geração Edwardiana reformista dos finais do século XIX, mas também se lembravam da Europa antes da catástrofe, antes dos eventos cataclísmicos de 1914-45. Viam-se a realizar não só a conclusão dos grandes projectos de reforma liberal do fim do século XIX, mas também uma barreira, na sua maneira de ver, contra o regresso da depressão, da guerra civil, da actividade política extremista. Todos partilhavam o ponto de vista de Keynes, formulado imediatamente antes da sua morte em 1946, de que após a experiência da 2ª Grande Guerra haveria na Europa um anseio de segurança, social e pessoal. E houve. O estado de bem-estar foi construído antes de mais como uma revolução de segurança e não como revolução social."

(Ver aqui o texto completo, magnífico, de Tony Judt)

4 comentários:

Carlos Albuquerque disse...

O texto toca num ponto essencial que é esquecido com demasiada frequência.

Maquiavel disse...

Os Estados-Providência da Europa Ocidental (e demais, a ideia de Uniäo Europeia) foram efectivamente implementados pelos democratas-cristäos. Os sociais democratas aplaudiram, até porque queriam o mesmo.

Mas o início foi mais a Norte, ainda antes da II Guerra Mundial, e pelos sociais-democratas!
Na Suécia os sociais-democratas chegaram ao poder em 1917 (sim, até antes da revoluçäo russa), e aí nasceu o modelo de Estado-providência que se espalhou pelo Norte, passou o Centro, e inspirou vagamente o Sul.

O que a direita europeia viu em 1945 era que näo queria voltar a 1920, tampouco que viesse por aí fora os soviéticos.
Os Estados-Providência conseguiram os dois objectivos, crescimento económico com crescimento social.

Alguns comunistas até estavam contra o Estado-Providência, por obstaculizar o desenvolvimento desenfreado do capitalismo, e desse modo obstaculizar também a sua queda e implementaçäo do socialismo, como escrito por Marx.

Em 1990 desapareceu a "alternativa" (que era virtual, mas pronto), e o capitalismo desenfreou.

De 1945 a 1990 näo houve crises capitalistas na Europa, apenas crises motivadas por factores externos ao sistema (choque do pitrol, etc.).

O que esses democratas-cristäos sabiam e muito bem é que se houvesse uma crise do capitalismo tal como há a de hoje com uma URSS ao lado, o povo se viraria logo para ela, por lhes parecer uma opçäo viável.

O capitalismo neoliberal mostra-se autofágico, só pensa no curto prazo, e isso causar-lhe-à a morte. Aliás, quem neste momento o controla säo os chineses, que por acaso säo... maoístas! Credo!

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