Além dos cortes orçamentais e das alterações na legislação laboral já analisadas pelo José Guilherme aqui abaixo, vale a pena olhar com atenção para os planos do Governo em relação à banca. O governo fala da necessidade de melhorar as suas necessidades de financiamento. Num contexto de elevado endividamento externo e face ao novo contexto macroeconómico recessivo e de turbulência nos mercados financeiros, boa parte da banca portuguesa deixou de ter acesso aos mercados de capitais de que dependia para financiar as suas operações domésticas. O BCE surgiu como salvador de última instância na concessão de crédito, evitando assim o colapso.
Enganam-se se pensam que este é um problema somente dos países periféricos. A banca da zona euro vive problemas generalizados de financiamento. Além da sua exposição à crise dos títulos de dívida pública, a banca europeia enfrenta problemas de financiamento dos seus activos denominados em dólares: com a desvalorização do dólar em relação ao euro, os bancos precisam de mais euros para financiar as suas posições. O apoio do BCE tem-se revelado essencial para que se evite uma nova crise bancária. No entanto, a situação de escassez de crédito na zona euro torna a situação dos bancos periféricos muito mais aguda.
Face à escassez de liquidez e com problemas de solvabilidade à espreita (graças ao aumento do crédito malparado num contexto de recessão), o Governo (BCE?) obriga os bancos a encolherem os seus balanços (vendendo os seus créditos e amortizando a sua dívida) e a aumentarem o seu capital, de forma a torná-los mais robustos e assim conseguirem recuperar a confiança que perderam nos mercados. O Estado português tenta assim a todo custo evitar o cenário espanhol, onde a banca, graças à implosão do sector imobiliário, necessita de angariar 15 mil milhões de euros até Setembro. Caso contrário, será capitalizada (nacionalizada) pelo Estado, com evidentes consequências no endividamento público.
Esta desalavancagem do sistema financeiro terá como efeito previsível uma contracção do crédito à economia com os efeitos recessivos associados. Corremos assim o risco de estarmos perante uma pescadinha de rabo na boca: os bancos emprestam menos para melhorar a sua posição, com menos crédito o investimento e o consumo diminuem, com uma contracção do produto o crédito malparado aumenta, enfraquecendo os bancos…
A fuga para frente deste imbróglio poderia estar na venda dos bancos portugueses a investidores estrangeiros a preço de saldo. Contudo a posição das elites nacionais, até agora poupadas à austeridade, é imprevisível neste cenário, já que é através da banca que os grandes interesses estão organizados nos mais diversos sectores.
9 comentários:
A economia existe ou não??
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