sexta-feira, 25 de março de 2011

Quem paga a crise? (II)

Vale a pena revisitar o quadro síntese das medidas associadas aos PECs (I a IV), que o Público deu recentemente à estampa. A partir da informação disponibilizada, podemos tentar agregar as medidas segundo a sua natureza e verificar que a proposta de redução do défice se faz essencialmente à custa do aumento de impostos (30%) e de cortes nas políticas sociais e na «racionalização do Estado» (que conjuntamente contribuem com 53% do esforço global, devendo ainda somar-se os 10% relativos a cortes na função pública). Isto é, cerca de 2/3 dos resultados previstos nos PECs decorrem de medidas centradas no Estado, sendo exíguo o corte em benefícios fiscais «exteriores» à esfera pública.

Se arrumarmos as medidas de combate ao défice segundo os seus destinatários, verificamos que o esforço maior é o que corresponde ao próprio Estado, com quase metade (43%) da factura global imposta pelos Pactos de Estabilidade e Crescimento. Seguem-se as medidas que afectam directamente os contribuintes (27%) e as que abrangem transversalmente os contribuintes e os agentes económicos (incluíndo o próprio Estado, naturalmente). As medidas que se dirigem directa e exclusivamente às empresas e à banca assumem um peso de cerca de 6%.

A «marca social» dos PECs fica porém ainda mais clara quando analisamos as «medidas extremas». Isto é, as orientações potencialmente dirigidas aos mais ricos (tributação de mais-valias, dos rendimentos mais elevados e novo imposto sobre a banca) e as que afectam essencialmente a população mais carenciada (redução de benefícios sociais de natureza não contributiva, limite de prestações sociais e redução em 20% do RSI). As fatias correspondentes a estes antípodas são praticamente equivalentes (6 e 5%), o que se torna tanto mais revelador quanto bem sabemos que a evasão fiscal assume um volume comparativo, desproporcionado, de sentido contrário.

Globalmente, a contenção orçamental pelo lado da despesa (54%) é ligeiramente superior aos ajustamentos feitos pelo lado da receita, em sintonia com as reivindicações do PSD nesta matéria. Aliás, este exercício sobre a natureza dos PECs, com os maiores sacrifícios centrados no Estado (e o consequente impacto para os cidadãos, sobretudo no que respeita à degradação das políticas sociais), em paralelo com a generosa salvaguarda dos interesses do sector bancário, é um fato que assenta na perfeição ao PSD. Razão pela qual dificilmente se compreende (a não ser pela salivante ânsia de poder), o desdém demonstrado e a recusa em o vestir.

10 comentários:

Anónimo disse...

em paralelo com a generosa salvaguarda dos interesses do sector bancário, que vai sofrer duramente em termos de crédito externo de que depende e no caso das caixas de crédito agrícola tal como aconteceu no passado ocorrerão falências pontuais que serão parcialmente sustentadas pelo estado

caixa económica faialense caixa agrícola de....nos anos 80 etc

isto se as coisas não piorarem nestes 6 meses

nesse caso os bancos arrastariam o país a uma situação similar aos
ulster uns anglo-irish banks

logo....tributá-los mais neste momento e com o sistema de execução de dívidas no estado em que está

a distribuição de dividendos do BES convenceu os investidores a comprarem dezenas de milhões em obrigações perpétuas

isto é notável tendo em conta que só através de operações internacionais é que o banco apresenta perspectivas razoáveis

do mercado interno só terá prejuízos ...que espero sejam mínimos nos próximos 5 a 10 anos

a situação é similar para os restantes

logo essa sanha anti-bancária

Anónimo disse...

e aumentar o imposto sobre os juros que já vai nos 21,5%

só levam o pessoal a colocá-lo em sítios mais interessantes em termos de rentabilidade e aparentemente menor risco

Brasil Polónia até ver....

Anónimo disse...

Não compreendo porque é que o Publico e o Nuno Serra criam um grupo "pensionistas" e outro de "rendimentos mais elevados".

Querem dar a entender que estes pensionistas são os das reformas de €200 ?

Porque é que os cortes dos ordenados mais elevados na FP e dos pensionistas não surgem nos "rendimentos mais elevados" ?

è só uma curiosidade e assumindo que é de facto um exercicio sério...

Miguel

Anónimo disse...

Cá está a realidade nua e crua,entretanto passaram três anos e continuam a baixar o rating a Portugal e outros como se fossem organizações sérias.Obama?Desiludam-se,os interesses instalados metem tudo no bolso!
Isto ainda depois do congresso americano os ter acusado,mas nada acontece a essa gente.Porquê???
http://economia.publico.pt/Noticia/em-plena-crise-de-credibilidade-executivos-da-moodys-ganharam-mais-60-por-cento-em-2010_1487048

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