Um dos melhores intelectuais da direita portuguesa, Pacheco Pereira, voltou a publicar um artigo brilhante no Público que se pode encontrar no Abrupto. É sobre a greve geral. Deixo aqui algumas passagens que não devem dispensar a leitura integral do artigo:
«A maioria que escreve sobre as greves, esta ou outras, tem como atitude típica o desdém. Desdenhar que se use essa forma "arcaica", "antiquada", "comunista" de fazer greve, como se os sindicatos e o direito à greve não fossem uma das características centrais do funcionamento de uma sociedade democrática, um dos instrumentos de defesa de interesses dos trabalhadores. Sim, porque as greves não se fazem em nome do interesse geral, nem do "interesse nacional", não se fazem em nome de nenhuma dessas grandes palavras com que se pretende matar a conflitualidade social e que tão grande circulação têm na vida política portuguesa que adora o consenso e abomina o conflito».
«A saúde da democracia inclui sindicatos fortes, trabalhadores sem medo de fazerem greve dentro da lei, como instrumento dos equilíbrios sociais necessários. Até porque, para muitos trabalhadores, é mesmo um dos poucos instrumentos que têm para se defenderem da indiferença social que os yuppies modernaços que estão à frente do PS revelam».
«Um dos aspectos desse desdém é uma espécie de proclamação universal do egoísmo dos outros, a quem se retira dignidade da intencionalidade dos seus gestos. Não lhes passa pela cabeça esta evidência tão simples: a greve é um dos raros momentos de protesto cívico, seja ela feita por comunistas, socialistas, sociais-democratas, ou gente que está sempre do contra e que custa alguma coisa a quem o faz. Não abundam casos na nossa vida cívica, tão egoísta e escassa, em que voluntariamente milhares de pessoas, os grevistas são pessoas, convém lembrar, prescindiram de um dia de salário para manifestarem uma posição, uma inquietação, qualquer coisa».
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
5 comentários:
Se em vez de no governo estar o PS estivesse o PSD, a conversa do Pacheco Pereira seria outra.
Aliás o Pacheco Pereira concorda sem dúvida com estas politicas postas em pratica pelo PS, e que estão no cerne desta Greve Geral, mesmo que o seu êxito tenha sido relativo .
Democrata? O Pacheco Pereira? Só se for agora que não quer correr com os jornalistas do Parlamento ou que não está a gerar raciocínios falaciosos.
É um oportunista de primeira, mas muito sabido. Soube ler que a greve abaixo das expectativas nao corresponde ao sentimento de incómodo perante a situacao do país e as políticas do governo. Ele tenta capitalizar esse descontentamento...
O Pacheco Pereira é um caso de dupla personalidade. O Stevenson escreveu um livro sobre ele, onde fala de um Dr. Jekyll e um Mr Hyde.
Estou de acordo com quase tudo o que diz, mas faltam algumas permissas.
As greves, exactamente por serem o ponto culminante de qualquer luta de trabalhadores, tem de ter coerência, quero dizer:
tem de ter estratégia, para poderem servir para alguma coisa.
Fazer greve, só para mostrar descontentamento, não serve rigorosamente para nada a não ser para a desvalorizar.
Há uns anos atrás, as greves conseguiam os seus objectivos.
Agora, parece que são para preencher as agendas dos sindicatos, e como disse, os desgraçados dos trabalhadores é que a pagam, sem vislumbrarem para que serviu.
Enviar um comentário