Como afirmou a jornalista Barbara Ehrenreich, no livro Salário de Pobreza, um notável ensaio/reportagem sobre os trabalhadores pobres nos EUA, «uma estranha propriedade óptica da nossa sociedade altamente polarizada e desigual torna os pobres quase invisíveis aos seus superiores económicos».
Alfredo Bruto da Costa é um dos investigadores que mais tem mais feito para tornar visível o fenómeno da pobreza em Portugal. Ontem deu uma notável entrevista na RTP2 (reproduzida hoje no jornal Público). Cinco ideias centrais: (1) a necessidade de perceber melhor a extensão da pobreza entre os que têm emprego (40% dos pobres); (2) a recusa da ideia de que é preciso crescer primeiro para distribuir depois: «ouço-a há 40 anos e estou à espera do dia em que já crescemos o suficiente para distribuir»; (3) a defesa da ideia de que a questão central é escolhermos, «das várias maneiras de crescer», «a que assegura o crescimento com maior distribuição»; (4) a defesa de mecanismos mais robustos de distribuição, nomeadamente através da taxação dos rendimentos do capital que são captados pelas famílias mais ricas; (5) finalmente, a defesa de que é preciso superar a dicotomia «entre dar o peixe ou dar a cana para pescar»: «não vale a pena dar uma cana a alguém que está com tanta fome que não pode sequer levantar-se para chegar ao rio para pescar». Sensibilidade e bom senso.
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1 comentário:
Muito bem!
Deixa-me só salientar os pobres empregados, reflexo de uma sociedade que realmente nao dá esperanca a muitos...
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