José Sócrates deu recentemente uma entrevista à agência de notícias Reuters. A Reuters é uma das principais fontes de informação dos jornais e também de todos aqueles que trabalham nas chamadas «salas de mercados», ou seja, nos espaços onde se negoceiam os activos financeiros que estruturam a «economia capitalista global». Por isso a entrevista é tão instrutiva.
O que Sócrates nos apresenta são os «feitos reformistas» do governo. Embora reconhecendo que o objectivo da redução do défice prejudica o crescimento, Sócrates acaba por defender que este objectivo é afinal um meio para colocar a economia a crescer mais no longo prazo. Não se sabe muito bem como é que isto vai acontecer, mas não importa porque o mercado realizará certamente a sua magia. As políticas públicas são assim essencialmente subordinadas às necessidades deste «mercado» onde «quanto menos o Estado se meter melhor». Esta última afirmação a propósito das falhadas, mas relevantes, operações de aquisição em sectores estratégicos da economia portuguesa.
É esta abdicação, pior, é esta interiorização activa dos constrangimentos neoliberais criados pela política que abre as portas a avanços cada vez mais amplos da direita de «ruptura» por toda a Europa. Avanços que começaram sempre pela desistência da esquerda em pensar a organização do campo económico fora do quadro intelectual do liberalismo. Em Portugal não será diferente. O plano está mais do que inclinado.
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4 comentários:
"Avanços que começaram sempre pela desistência da esquerda em pensar a organização do campo económico fora do quadro intelectual do liberalismo".
E ter 10% dos votos?
O Hugo Mendes assume, portanto, que PS e PSD não são partidos de esquerda. E assume bem. Mas já o foram, nos anos 70 pelo menos, pois socialismo e social-democracia são, tradicionalmente, ideologias políticas de esquerda.
Depende do que entende por 'esquerda', por 'socialismo' e por 'social-democracia'....E não estamos nos anos 70.
O que eu entendo por "esquerda", "socialismo" e "social-democracia" é o que podemos encontrar nos dicionários de filosofia. Que outra coisa haveria de entender por? Ou acha que as definições de um dado conceito são aleatórias e que se hoje dizemos que a laranja é um fruto isso não impede que amanhã a proclamemos um tubérculo? O que acharia você se, por exemplo, uma associação de defesa dos homossexuais desatasse de repente a pregar que estes fossem exterminados? Provavelmente acharia que a noção de "defesa dos direitos dos homossexuais" perfilhada pela tal associação havia mudado, naturalmente. Eu diria outra coisa.
Eu sei que no mundo político e diplomático tais reversões e jigajogas são o pão nosso de cada dia, mas eu não sou político nem diplomata.
Portanto, vá aos manuais ver o que quer dizer socialismo, esquerda e social-democracia, e depois tente perceber se o actual PS e PSD ainda retém algo da tradições ideológicas para que remetem as siglas dos respectivos partidos, e se não seria mais honesto da parte dos seus líderes inventarem uma nova designação para os mesmos.
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