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Chang foi um dos economistas que contribuiu para desfazer o mito de que «o milagre asiático» teria assentado nas políticas neoliberais que o consenso teria apenas sistematizado. Através de uma análise histórica e institucional detalhada, focada no caso da Coreia do Sul, mostrou que o seu «modelo» assentou num importante envolvimento do Estado na afectação de recursos, o que na literatura aparece associado à noção de «Estado desenvolvimentista». O governo favoreceu deliberadamente o desenvolvimento de grandes conglomerados industriais (conhecidos na Coreia por chaebol e que acabaram por dominar os mercados interno e de exportação)através de uma política industrial vigorosa cujo objectivo básico era modificar a matriz dos preços e dos incentivos que as empresas enfrentavam na direcção preferida pelo governo que para eles canalizava os elevados investimentos públicos realizados em investigação tecnológica aplicada. A aposta central era a inserção estratégica destes grupos na economia mundial o que se traduziu na implementação selectiva de controlos sobre determinadas importações para proteger sectores industriais emergentes (proteccionismo selectivo). Esta inserção na economia mundial não envolveu durante muito tempo o sistema financeiro que estava submetido a um apertado controlo por parte do governo, sobretudo no que dizia respeito às operações financeiras com o exterior e que era alicerçado numa participação activa do Estado na concessão de crédito através de bancos públicos. Este foi o modelo que esteve e ainda está na base do «milagre asiático». Violou e ainda hoje viola quase todas as prescrições neoliberais.
Num dos seus livros mais recentes e mais celebrados, Kicking Away the Ladder (Derrubando as Escadas do Desenvolvimento), Chang alargou a sua análise e defendeu convincentemente que «quando os países desenvolvidos, como a Grã-Bretanha e os EUA, ainda estavam em desenvolvimento, não implementaram nenhuma das políticas de livre comércio que agora preconizam. O seu avanço tecnológico foi garantido por políticas protecionistas». Ha-Joon Chang é assim um crítico impiedoso da hipócrita ideia de que existe uma trajectória única de desenvolvimento assente num conjunto de instituições prescritas pelas instituições internacionais como o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional ou a Organização Mundial do Comércio. Controladas pelos países mais ricos, estas organizações pretendem impor aos países menos desenvolvidos soluções que os seus governos fazem bem em evitar. Soluções que reduzem a sua margem de manobra para forjar políticas públicas de desenvolvimento.
2 comentários:
Faz como eu digo, nao olhes para o faco (fiz)...
Ah! Mas o que nao se sabe entre os economistas e' que o irmao do Chang, o Hasok e' um importante filosofo da fisica. Trabalhando na UCL ele tenta mostrar que a historia da ciencia e' uma mina de teorias e ideias esquecidas que podem ajudar os cientistas de hoje.
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