segunda-feira, 11 de junho de 2007

Se passar por aqui um editor...

Andrew Glyn, professor de economia na Universidade de Oxford, oferece-nos um lúcido livro sobre a evolução do capitalismo nos países centrais nas três últimas décadas (O Capitalismo Desatrelado). A economia política como «história raisonné», na feliz expressão de Joseph Schumpeter, eis a sua grande realização. Quer isto dizer que a teoria como que desaparece da vista e serve «apenas» para ordenar e dar clareza ao material empírico que o autor mobiliza e para identificar com rigor os principais mecanismos causais que estão na base dos padrões históricos mais salientes. O resultado é um livro extremamente informativo e que desmonta com ampla evidência alguns dos mitos da história económica recente.

O que passa pelos menos nossos olhos é então a evolução do capitalismo a partir de uma conjuntura «difícil» nos anos setenta, com quebras nas taxas de lucro, elevada militância operária e com desafios sistémicos relevantes. O pleno emprego gerava então uma relação de forças desfavorável ao capital. A partir daí o que temos, um pouco por todo o lado, é uma reversão deste padrão. As alteração da política económica com a focagem no combate à inflação ou as políticas de privatização, liberalização e de desregulamentação são respostas a esta «crise». Desenvolve-se também a financeirização do capitalismo, o crescimento dos mecanismos de controlo da finança e a emergência da prioridade à apropriação do valor pelos accionistas. Glyn chama ainda atenção para a promoção da integração internacional e para a expansão da força de trabalho que daí resulta. Estas políticas, ao gerarem desemprego duradouro, quebraram largamente o movimento operário e facilitaram a recuperação da hegemonia do capital. No entanto, o resultado em termos de performance económica foi relativamente medíocre, embora largamente favorável aos mais ricos.

Glyn destaca ainda as assinaláveis diferenças na evolução dos indicadores de desigualdade e de bem-estar nos países centrais. Apesar das transformações e da pressão acrescida, muitos países mantiveram mecanismos de redistribuição dos rendimentos e de provisão pública que bloquearam parcialmente o crescimento das desigualdades. As diferenças entre os «países liberais» (EUA e Inglaterra) e os restantes são notáveis. Nos primeiros, a polarização social cresceu fortemente enquanto que nos segundos tal não se verificou. A questão que Glyn coloca, e que a evolução próxima irá clarificar, é se estes processos, aqui tão rigorosamente descritos, não levarão a uma convergência com o modelo liberal dominante. Um livro que sem dúvida merece ser traduzido e amplamente lido e discutido.

Para um aperitivo recupero este artigo, publicado no The Guardian, sobre o impacto desfavorável para os trabalhadores dos países mais ricos da constituição de um «exército industrial de reserva» à escala global. Se passar por aqui algum editor, fica então feita a sugestão de tradução.

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