A crónica que José Neves escreveu no i mereceria uma correcção em futuro texto, já que não se trata, pelo menos na parte que de seguida exporei, de matéria de opinião. De facto, o Le Monde diplomatique – edição portuguesa tem publicado muitos textos sobre as crises nacional e europeia, reflectindo a pluralidade das posições à esquerda. O problema é que, ao contrário do que inexplicavelmente sugere José Neves, a linha dominante, como pode atestar quem tenha, por exemplo, lido o livro que compila os artigos de economia política aí publicados nos últimos anos, passa por propostas europeístas para uma política económica de relançamento que terá sempre de ter a escala da moeda. Excerto da introdução a esse livro, que José Reis e eu escrevemos e onde tentámos encontrar um denominador comum aos artigos:
“A Zona Euro pode então insistir no caminho de austeridade e assistir ao seu esfarelamento. Pode, em alternativa, seguir as pistas que aqui são apresentadas e corrigir as assimetrias institucionais que estão na génese da sua crise: um orçamento europeu diminuto, a ausência de controlos públicos robustos sobre a especulação financeira e sobre o sistema bancário, a inexistência de dívida pública europeia, um Banco Central independente do poder político e com um mandato demasiado estreito ou a falta que faz uma estratégia coordenada de promoção do investimento, usando, por exemplo, o Banco Europeu de Investimento.”
Folgo em saber que Zé Neves decidiu agora preocupar-se por escrito com propostas com escala europeia para problemas socioeconómicos. Ficamos a aguardar futuras crónicas. Andamos por cá há alguns anos e às vezes até nos sentíamos sozinhos e um bocado cansados de ser apodados de reformistas e tal. De resto, é bem revelador que Zé Neves fale de “quatro ou cinco economistas” sem nunca citar nomes ou posições comuns que estes possam eventualmente ter e muito menos o que se tem escrito num jornal que é plural desde sempre; uma abordagem que tem a vantagem de permitir todas as invenções, onde ninguém se revê e com que ninguém pode debater. Até compreendo que assim seja, já que quando se refere a posições individuais em concreto, que por este blogue vamos assumindo, o resultado tem até sido bem pior.
De resto, e pela parte que me toca, pressupondo que estou no influente grupo dos quatro ou cinco economistas de esquerda, deixei a minha posição expressa sobre a conjuntura europeia no meu último artigo publicado na mais plural publicação à esquerda. Defendo há algum tempo que para salvar o princípio da coordenação europeia é preciso estar disponível para encarar a alternativa do fim de um euro por reformar. Um excerto:
Este processo de fragilização económica, acentuado pela crise de um sector financeiro disfuncional porque com reduzido controlo público, só pode ser destrancado pela acção de governos nacionais que desafiem as regras europeias e que estejam apostados na correcção da assimetria europeia acima identificada. Nas periferias, este desafio passa por usar a reestruturação da dívida pública como arma negocial para permitir que a contraproducente política de austeridade seja ultrapassada e para evitar que a correcção dos desequilíbrios se faça pelo empobrecimento desigual. É evidente que a proposta de reestruturação da dívida por iniciativa dos países devedores que recusam ser esmagados, envolvendo prazos, juros e montantes, é uma opção que acarreta riscos, acentuando tensões políticas na Zona Euro só eventualmente produtivas, mas acelerando uma clarificação urgente e para a qual o país tem de estar preparado: renovada integração europeia ou desagregação e eventual regresso, noutros moldes, à situação antes de Maastricht, o início da nossa infelicidade europeia.
quinta-feira, 12 de abril de 2012
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2 comentários:
qualquer das soluções numa economia europeia semi-estagnada há décadas levará a uma baixa do PIB europeu com consequências a médio prazo ou a uma solução americana destinada a falhar em 10 ou 5 anos.. (medido em reais ou em ienes ou em rublos, para o efeito tanto faz
O que é ser de esquerda?
The most significant events often escape media attention. How many would know from reading their daily newspaper or watching television that we live in an unprecedented economic period when the number of people living in extreme poverty is declining fast? According to a just-published World Bank report, the percentage of people living on less than $1.25 per day—or its local equivalent—has plummeted from 52 percent of the global population in 1981 to 22 percent in 2008. The World Bank doesn’t provide more recent data, but other indexes show that the 2008 financial crisis did not interrupt this trend. For millions of households, crossing the symbolic $1.25 threshold means leaving destitution behind and moving toward a more dignified life—no trivial achievement. Moreover, this escape from poverty happens while the global population continues to grow. Doomsday prophets who warned about a ticking “population bomb” have not been vindicated, to say the least. Global warming messiahs, beware: human ingenuity proves able to cope with the predicaments of Mother Nature.
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