O Expresso destaca a declaração do Presidente da República de que teme “um grande aumento do desemprego”. Ou seja, está a preparar-nos para a recessão que aí vem. No entanto, assumindo a excepcional gravidade da crise, direcciona o resto do discurso para o médio/longo prazo e repete as banalidades do costume sobre a competitividade das nossas empresas. Nas entrelinhas fica a mensagem: não há instrumentos de política económica para o imediato.
Ao mesmo tempo, o Ministro das Finanças mostra-se determinado a não recorrer à política orçamental: “"Não há desleixo na meta do défice", disse Teixeira dos Santos em entrevista à SIC Notícias, confirmando que os 2,2% do PIB são o objectivo do Governo "em circunstâncias que são bem mais difíceis do que as que existiam quando fizemos o Programa de Estabilidade e Crescimento". António Rebelo de Sousa tem toda a razão: “trata-se de não se fazer a mínima ideia do que se está a passar no mundo e no país.” Quanto a mim, acho que é preciso dizer bem alto e com toda a clareza que, sem política económica, a Europa caminha para o desastre.
Não tenhamos ilusões. Ao baixar há dias a taxa de juro, o BCE não abandonou o seu monetarismo cego. Apenas não teve outro remédio! Aliás, deveria decidir nova e forte descida a breve prazo (Palley defende isso nos EUA), em simultâneo com a declaração pelos governos da UE de que tomam uma posição de controlo nos maiores bancos, maioritária no caso dos que têm problemas de solvabilidade. Sim, é de nacionalização que falo! Temporária ou não, depois se verá.
Contudo, apenas política monetária não basta. Eichengreen diz com clareza o que tem de ser feito: “O que já deixou de ser apenas uma crise financeira não pode ser resolvido apenas por intervenções financeiras. Já não pode ser enfrentado [apenas] com mais cortes na taxa de juro. Com o colapso simultâneo do consumo e do investimento, e só podendo aumentar as exportações se estas forem compradas por extraterrestres, resta apenas uma componente da procura global. É a despesa pública. Por outras palavras, é tempo de usar a política orçamental com agressividade. … Tempos desesperados exigem medidas desesperadas.”
Face a uma recessão que ameaça resvalar para uma depressão, suponho que não passa pela cabeça deste professor da Universidade de Berkeley, Califórnia, que a Europa meta a cabeça debaixo da areia por causa do Pacto de Estabilidade e não-Crescimento! Ontem, Krugman foi lapidar: “este não é o tempo de nos preocuparmos com o défice”.
Conclusão: Se os governos, a Comissão e o BCE continuam cegos pela ortodoxia neoliberal, temos de ser nós a mostrar-lhes o caminho. A esquerda deve organizar de imediato um movimento cívico europeu para exigir a execução de uma política económica anti-crise. As alterações ao Tratado da UE (incluindo a reformulação do mandato e estatutos do BCE) viriam depois como consagração do facto consumado. É hora de agir … antes que seja tarde de mais!
Ao mesmo tempo, o Ministro das Finanças mostra-se determinado a não recorrer à política orçamental: “"Não há desleixo na meta do défice", disse Teixeira dos Santos em entrevista à SIC Notícias, confirmando que os 2,2% do PIB são o objectivo do Governo "em circunstâncias que são bem mais difíceis do que as que existiam quando fizemos o Programa de Estabilidade e Crescimento". António Rebelo de Sousa tem toda a razão: “trata-se de não se fazer a mínima ideia do que se está a passar no mundo e no país.” Quanto a mim, acho que é preciso dizer bem alto e com toda a clareza que, sem política económica, a Europa caminha para o desastre.
Não tenhamos ilusões. Ao baixar há dias a taxa de juro, o BCE não abandonou o seu monetarismo cego. Apenas não teve outro remédio! Aliás, deveria decidir nova e forte descida a breve prazo (Palley defende isso nos EUA), em simultâneo com a declaração pelos governos da UE de que tomam uma posição de controlo nos maiores bancos, maioritária no caso dos que têm problemas de solvabilidade. Sim, é de nacionalização que falo! Temporária ou não, depois se verá.
Contudo, apenas política monetária não basta. Eichengreen diz com clareza o que tem de ser feito: “O que já deixou de ser apenas uma crise financeira não pode ser resolvido apenas por intervenções financeiras. Já não pode ser enfrentado [apenas] com mais cortes na taxa de juro. Com o colapso simultâneo do consumo e do investimento, e só podendo aumentar as exportações se estas forem compradas por extraterrestres, resta apenas uma componente da procura global. É a despesa pública. Por outras palavras, é tempo de usar a política orçamental com agressividade. … Tempos desesperados exigem medidas desesperadas.”
Face a uma recessão que ameaça resvalar para uma depressão, suponho que não passa pela cabeça deste professor da Universidade de Berkeley, Califórnia, que a Europa meta a cabeça debaixo da areia por causa do Pacto de Estabilidade e não-Crescimento! Ontem, Krugman foi lapidar: “este não é o tempo de nos preocuparmos com o défice”.
Conclusão: Se os governos, a Comissão e o BCE continuam cegos pela ortodoxia neoliberal, temos de ser nós a mostrar-lhes o caminho. A esquerda deve organizar de imediato um movimento cívico europeu para exigir a execução de uma política económica anti-crise. As alterações ao Tratado da UE (incluindo a reformulação do mandato e estatutos do BCE) viriam depois como consagração do facto consumado. É hora de agir … antes que seja tarde de mais!
13 comentários:
" É hora de agir … antes que seja tarde de mais!"
Para quando a 1ª reunião?
A crise não é só financeira, é também económica e não de agora!
Se houve prontidão e disponibilidade para socorrer os bancos, também deverá havê-la para relançar a actividade económica.
As “conversa de verdade” de Cavaco, preparando-nos para o rigor e o aperto de cinto, ou melhor, o imobilismo, são curtas …
A Europa precisa de soluções como aqui sugeridas por vários autores; não precisa é de conselhos paliativos dos governos, BCE e CE, para atenuarmos a chegada da morte.
Se não sabem resolver o problema que ajudaram a criar com uma globalização selvagem, também não estão lá a fazer nada!
Movimento cívico europeu? Força!
A extrema-esquerda ADORA inventar desculpas distorcendo a realidade para querer conseguir os seus objectivos.
Os quais, mais uma vez, passam por tentar impor a nível europeu e internacional sem qualquer controlo democrático aquilo que é sistematicamente rejeitado pelos eleitores.
Pedro Sá, pelos vistos tens andado numa gruta nos ultimos meses...
Faz lá o favor de voltar para lá...
“…tentar impor a nível europeu e internacional sem qualquer controlo democrático…”
A intervenção cívica (ainda) é uma actividade legal!
E a propósito, muitos cidadãos também gostariam de ter tido a oportunidade de votar nas urnas o Tratado de Lisboa.
Ou a “Democracia é quando eu mando em você…”?
"Sem controlo democrático"
Só pode estar a gozar. A Finança usurpou a democracia e você fala em controlo democrático.
Sobre este aspecto, ler The Coming First World Debt Crisis pág. 173 "transferring power back to the public sphere"
Eu gostava muito de ver a esquerda finalmente agir e participar nas decisões políticas que se avizinham, mas...
Não me parece que os powers that be sejam alterados por causa desta crise ou que haja uma transformação significativa da ideologia económica. Haverá isso sim umas quantas mudanças "cosméticas" ("mudança na continuidade", como se dizia antes), e uns anos largos de sofrimento para aqueles que pagam sempre a crise...
Agir? Já vamos tarde!
Como foi possível aceitar um pacto de estabilidade que não faz mais senão limitar a produção?
A ver vamos...
"a finança usurpou a democracia"
Há quem passe a vida com as mesmas alucinações !
Pois pedro, mas se concordasse consigo passaria a vida a viver com as mesmas ilusões.
Por vezes é preciso mesmo alucinar para tentar mudar a nossa realidade . Antes passar à acção através disso, do que viver o resto da vida com a cabeça enfiada num buraco a levar com o mesmo dos mesmos.
Pedro Sá
Disso é o que você nos quer convencer, porque deve ter muito a perder, isso sim! Senão, usava argumentos credíveis, em vez de fórmulas vagas! Ou então, é pura ignorância.
Mas não se trata de alucinação. A Islândia é um exemplo bem real!
"A extrema-esquerda ADORA inventar desculpas distorcendo a realidade para querer conseguir os seus objectivos."
Caro Pedro Sá,
Poder-me-á dizer qual a distorção efectuada e quais os objectivos que Extrema-esquerda tem?
Meu caro Stran, é pura retórica. Ora atira uma esquiva pró ar, em que não consegue, se quer, justificar o que diz. Apontando o dedo na direcção contrária sem razão e sem sentido. Típico ...
Distorcer a realidade ... o meu caro Pedro Sá é realmente esclarecido para apontar tal coisa ? Se sim, diga-nos o caminho a seguir para atingir a verdade, ó sr. omnisciente ...
Meu caro Pedro, só mostra incompreensão do que o rodeia ao dizer tal coisa.
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