Argumenta ainda Vasco Campilho: «A mobilidade mundial dos capitais permitiu também uma alocação mais eficiente dos recursos ao nível planetário: donde as deslocalizações e os investimentos que alimentaram o crescimento dos tigres asiáticos e, mais tarde, dos BRIC». Isto não parece colar lá muito bem com a evidência disponível. Os tigres asiáticos financiaram o seu crescimento essencialmente com as suas elevadas poupanças internas. Só liberalizaram a sua conta de capital nos anos noventa e foram logo bafejados com a crise asiática em 1998. A China e a Índia conseguiram evitar o pior porque não foram em cantigas liberais nesta área.
Há que distinguir então os vários tipos de fluxos de capitais: investimento directo estrangeiro e investimento especulativo de curto prazo, por exemplo. É evidente que o primeiro pode ser útil, mas também é preciso dizer que, na maioria dos chamados tigres asiáticos, a sua utilidade foi alvo, nos momentos cruciais do seu crescimento, de uma avaliação política, por forma a maximizar as transferência e a aprendizagem tecnológicas e a minimizar o impacto destrutivo sobre as emergentes indústrias nacionais. Quanto ao segundo, já todos conhecemos a história económica dos últimos vinte e tal anos. Um estudo do Banco Mundial resume-a bem: «as crises financeiras tornaram-se mais frequentes desde o início dos anos oitenta» e isto «tem sido associado ao aumento dos fluxos internacionais de capitais - especialmente fluxos privados - para os países em desenvolvimento e à crescente integração desses países nos mercados financeiros internacionais». O FMI, timidamente, começou a dizer a mesma coisa. Sem mudar as suas prescrições. Agora, Carmen M. Reinhart e Kenneth S. Rogoff (ex-economista-chefe do FMI) publicaram um estudo na série de documentos de trabalho do NBER que dá «uma visão panorâmica de oito séculos de crises financeiras».Um dos resultados: «os períodos de elevada mobilidade de capital produziram repetidamente crises bancárias, não só nos anos noventa, mas historicamente».
Nos países asiáticos tivemos, e, apesar de tudo, ainda temos, um modelo de Estado desenvolvimentista que promoveu, como já aqui várias vezes se argumentou, a construção de vantagens competitivas e a inserção estratégica na economia internacional. Contra as prescrições do «Consenso de Washington». Os países da América Latina e a Rússia, que a ele estiveram expostos por via do FMI e do Banco Mundial, tiveram que suportar crises financeiras e económicas devastadoras nos anos oitenta e noventa. Felizmente, houve um contra-movimento. Já é então altura de abandonarmos as ficções liberais. Pagámos um preço muito elevado pela sua hegemonia.
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1 comentário:
a crise vê-se nas bolsas? fechem as bolsas.
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