Para Vital Moreira (VM), "o problema da esquerda antiliberal é justamente a economia de mercado, qualquer que ela seja." Já aqui discuti esta concepção de VM. Mas vale a pena voltar ao assunto tendo em conta que a nacionalização de alguns bancos durante esta crise deixou muitos crentes na dita "economia de mercado" bastante perplexos. Agora andam atrapalhados a tentar explicar que as nacionalizações também fazem parte da sua "economia liberal"; são medidas temporárias, não ideológicas! A crise financeira resultou de uma combinação de ganância dos gestores e accionistas com regulação imperfeita !
Não resisto a citar René Passet, Professor Emérito em Paris I - Sorbonne, numa obra traduzida em português (p. 142): "O critério da utilidade individual ou colectiva permite-nos distinguir três tipos de actividades: (...) - as actividades susceptíveis de rendibilização pelo mercado, podendo pois ser materialmente assumidas pela iniciativa privada guiada pelo móbil do lucro (actividades bancárias, indústrias pesadas, fabrico de armamento), mas que, pela sua natureza e pelo volume dos efeitos induzidos [efeitos sistémicos] que comportam ou pelo poder que conferem àqueles que as detêm, implicam efectivamente o futuro da colectividade e deveriam estar submetidas à autoridade desta última;"
Aqui está um académico da "esquerda antiliberal" que, numa época em que as social-democracias europeias se renderam à ideologia neoliberal, manteve o espírito crítico indispensável a quem faz ciência.
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10 comentários:
Podia-me dar um ou mais exemplos da tal "ganância"? Ouço muito falar nisso mas não percebo a que se referem concretamente.
"Our postwar system was built on technological leadership, financial stability, and collective security. The world gave us credit and used our currency. Why? Because we gave it back the public goods of peace and economic progress. (...)
“Planning” has been a dirty word in American politics for decades. For the hard-line right, planning destroyed freedom: it was the “road to serfdom.” Anti-planners also thought it a failure; for them the collapse of the U.S.S.R. was due to “central planning.” But without public planning, who is in charge? Lobbyists who represent the private planning of the great corporations. The public interest ceases to exist, and the public sector becomes nothing more than a trough at which private interests come to feed."
James K. Galbraith, Harper's
Acho que a ganância está em querer tudo em pouco tempo. Privilegiar o curto prazo, o imediato em detrimento do sustentável, já que as duas coisas são dificilmente compativeis. Excuso-me de dar exemplos porque isso foi o paradigma nos ultimos 10-15 anos: de repente, os resultados do trimeste eram tudo.
"Uma empresa não dura para sempre", é certo, mas deve ser gerida como se fosse durar para sempre, e não como se fosse arder amanhã.
Havia uma fábula que nos contavam em pequenos,... chamava-se A Galinha dos Ovos de Ouro.
Bem mas VM opina sobre tudo e sobre nada, sendo que, por norma, nos seus comentários, interessa-lhe é defender este PS, não o PS.
Noam Chomsky: "Current crisis demonstrates anti-democratic nature of financial system"
Video
http://therealnews.com/t/index.php?option=com_content&task=view&id=31&Itemid=74&jumival=2603&updaterx=2008-10-21+23%3A11%3A16
António
Concordo com o Jorge Bateira e com o L. Rodrigues. As empresas desenhadas para arderem amanhã foram o modelo dos últimos anos, mas não só. Também os benefícios rápidos vindos de um cenário onde todos ganham rapidamente: assim os resultados trimestrais são um exercício de contraste cujo nível de aceitabilidade é não ser piores do que o vizinho nem, por suposto, piores do que a referência interanual. Isso retroalimenta, e é perigoso.
«Privilegiar o curto prazo, o imediato em detrimento do sustentável»
O que é facto é quando se trate de defender o Estado social este cepticismo quanto à sustentabilidade desapareça por parte de V Exas. Curioso.
«de repente, os resultados do trimeste eram tudo.»
Ora a ver se entendo. Então o l. rodrigues acha que as empresas devem avaliar o seu desempenho em espaços mais alargados. 6 mese? 1 ano? 2 anos? 5 anos? Lá está! 5 anos! Planos quinquenais, certo? A escola de gestão soviética é que sabe.
«A Galinha dos Ovos de Ouro»
Os liberais também gostam dessa metáfora... para demonstrar que não há almoços grátis. Só nas fábulas.
"Ora a ver se entendo. Então o l. rodrigues acha que as empresas devem avaliar o seu desempenho em espaços mais alargados."
Do que 3 meses? Acho.
5 anos? Depende da empresa em questão.
Que eu saiba era pratica corrente fazer planos de negócio anuais.
O que questiono é que sejam tão frágeis que tenham que ser revistos de 3 em 3 meses.
«O que questiono é que sejam tão frágeis que tenham que ser revistos de 3 em 3 meses.»
Ou então é porque o bom senso obriga a que se "tome o pulso" o mais continuadamente possível. Na mesma lógica da avaliação contínua.
Ora como tudo, deve imperar o profissionalismo e o bom-senso. Quer na leitura dos resultados quer nas decisões resultantes desta.
O l. rodrigues diz, e muito bem que
«5 anos? Depende da empresa em questão.»
Mais do que dizer que 3 meses é pouco tempo importa analisar, caso a caso, se essa estratégia faz sentido.
Não concordo com o seu taxativo «Do que 3 meses? Acho.»
Até podia ser ao minuto...
O problema, parece-me, caro Tarzan, foi a bitola do sucesso passar a ser a performance dos mercados bolsistas, onde de facto tudo se passa ao minuto.
Se se podem ganhar milhoes num dia, comprando e vendendo umas acções, vai de tentar que a venda ou produção de telemóveis também, ou de carros, de livros, detergentes, comida, etc... seja competitivas com algo que não tem nada que ver com a sua realidade, sob pena de não cativar os investidores.
E assim, todos os negócios são comparados com os que aparentam maior rentabilidade, independentemente da sua natureza, ciclos, importancia social etc.
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