É com satisfação que vejo a direita intransigente, pelo teclado de Vasco Campilho, a recuperar livros como o Capitalismo contra Capitalismo de Michel Albert, editado nos anos noventa pela Difel, e a reconhecer a fragilidade financeira engendrada pelos mercados financeiros liberalizados. Esta foi uma das obras fundadora da crescente literatura sobre as variedades do capitalismo já muitas vezes referida neste blogue (aqui e aqui, por exemplo).
No meu último artigo no Jornal de Negócios identifico um dos mecanismos, muito saudado pela direita antes da crise global, de corrosão das variedades mais coordenadas e igualitárias de capitalismo: As exigências de rendibilidade provenientes de investidores e de especuladores financeiros cada vez mais impacientes, que concentram grandes massas de capitais e que detêm um poder que é proporcional à sua liberdade de circulação à escala global, têm progressivamente, e apesar de todas as resistências, imposto as iníquas práticas e normas do «financeirizado» capitalismo anglo-saxónico. A desestabilização dos modelos de relações laborais que dão mais voz e garantias aos trabalhadores e a transformação do Estado Social em novo campo para a acumulação de capital traduzem então as pressões do capitalismo de casino sobre o capitalismo mais igualitário.
Vasco Campilho declara que sem a «fortíssima pressão dos mercados financeiros, provavelmente não teria havido um progresso tão grande em termos de produtividade económica» nos últimos vinte anos. Se Vasco Campilho se refere aos EUA ou à Europa, então deve olhar para as estatísticas da produtividade e comparar os anos oitenta e noventa com os anos cinquenta e sessenta. O crescimento da produtividade foi maior, tanto na Europa como nos EUA, quando o sector financeiro estava mais bem enquadrado e quando existiam controlos à circulação de capitais.
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