Na blogosfera portuguesa vale-nos a sensatez keynesiana de João Pinto e Castro contra a atitude mirandista de Campos e Cunha. Vale-nos ainda a sólida evidência mobilizada por Pedro Lains para contrariar o preconceito de que o aumento do investimento público atrofia sempre o investimento privado (o crowding-out é apenas uma hipótese, como o crowding-in aliás, não é uma fé). Diz Lains: «num conjunto de países da OCDE é mais comum haver uma correlação positiva entre investimento privado e público do que o contrário, tomando como referência todo o último quartel do século XX. E o mesmo para Portugal no período 1981-2005. Veja-se que isto faz sentido. O investimento público em estradas traz empresas para as bermas; em comboios de alta velocidade traz técnicos para os sistemas informáticos; em barragens e electricidade traz novos equipamentos». Precisamos cada vez mais do que Manuel Alegre oportunamente designou por «Estado Estratega». Um Estado autónomo face aos interesses privados e que seja capaz de orientar e de coordenar o investimento de que o país urgentemente necessita para sair da crise e para, no processo, construir uma economia mais decente.
sexta-feira, 31 de outubro de 2008
Estratégias em tempos de crise
Os ortodoxos estão dispostos a fazer com que as economias colapsem em nome de uma teoria e de uma prática falhadas? No Reino Unido, a hora é de abandonar dogmas que geralmente só são vendidos às economias em vias de desenvolvimento. A The Economist, a que alguém já chamou o Pravda do neoliberalismo, está numa fase temporária de Perestroika: «quando os mercados de crédito estão disfuncionais, a procura privada e a confiança são fracas, um estímulo fiscal é a melhor opção (…) Através do incremento da despesa, os governos podem estimular a procura e o emprego. É verdade que os estímulos aumentam os défices – mas os estragos fiscais de uma depressão prolongada seriam ainda maiores, como o Japão demonstrou nos anos noventa. Com o sector privado indisponível para investir e os investidores nervosos a exigirem a segurança dos títulos do tesouro, o risco é reduzido de existir crowding-out do investimento privado».
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3 comentários:
Realmente, o debate nacional em torno destes temas é de um provincianismo insuportável. A vantagem é que muita desta gente vai ficar completamente desacreditada a curto prazo.
A correlação positiva entre o investimento público e o privado é uma boa indicação. Exceptuando a corrente conservadora, parece que há algum consenso na necessidade de investimento público.
Mas investir onde, como e para quê?
1- O investimento público tem que ser reprodutivo e gerar emprego, como sensatamente afirmou o presidente do Tribunal de Contas. Por isso tem que ser muito bem ESCRUTINADO. A construção dos 10 estádios (quando com 5 se fazia o Euro 04), a delapidação de milhões de euros de fundos comunitários em expedientes, a criação de PPP lesivas para o Estado e para as gerações futuras, é o tipo de investimento que tem que ser chumbado! Seria impensável ver, ainda hoje, que há “projectos” (conjunto de ideias mal alinhavadas para sacar umas massas), que são pagos à cabeça aos promotores, mesmo antes de apreciação e aprovação, e que jamais teriam pernas para andar.
2- Como diz o João Rodrigues no postal, o Estado tem que ser estratega e AUTÓNOMO. Tem que ser ele a decidir, a acompanhar e a fiscalizar. Tem que estar livre, para poder defender a sua opção (de interesse público) de forma transparente e sem vergonha. É fundamental que as empresas do sector privado encontrem um mercado regulado. (o Estado não pode continuar a ser um corpo frouxo; onde estão as verdadeiras reformas!?).
Investimento público sim, criterioso e transparente!
Não percebo como por todo o lado se discutem soluções quando fica por resolver o problema de fundo: educar os cidadãos a reduzirem o consumo e a gerirem responsavelmente o seu dinheiro.
A educação e um estilo de vida equilibrado são as verdadeiras soluções para tudo e para essas não existem "balas de prata" mágicas sob a forma de pacotes legislativos ou apoios á banca...
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