Tempos radicais exigem uma política monetária e uma política fiscal à altura. E muita regulação e coordenação internacionais. Este é o novo consenso emergente «lá fora»: Martin Wolf, em artigo no FT, não entende a discrepância na orientação da política monetária dos dois lados do Atlântico. Eu também não. É claro que podemos sempre experimentar repetir a Grande Depressão.
É por isso que vale a pena ler os «clássicos». Em 1933, Irving Fisher, um dos mais importantes economistas convencionais da altura, escreveu, no primeiro número da revista académica Econometrica, um artigo intitulado «The Debt-Deflation Theory of Great Depressions». É um texto límpido e muito bem escrito que identifica alguns dos mecanismos possíveis de interacção entre o sobrendividamento e a deflação: «Temos então o paradoxo que, atrevo-me a afirmar, é o maior segredo da maioria, senão de todas, as grandes depressões: Quanto mais os devedores pagam mais eles devem». Segundo Fisher, o fardo da dívida aumenta em termos reais à medida que os preços caem, entre outros factores, como resultado do próprio esforço dos devedores para se desfazerem apressadamente dos activos e produtos que detêm por forma a fazer face aos compromissos previamente assumidos. A insolvência generaliza-se. No longo prazo estamos mesmo todos mortos. No curto e no médio, e na ausência de políticas, estamos desempregados.
1 comentário:
Bom, vir agora citar Irving Fisher, um neoclássico de gema, e um dos maiores pregadores da boa saúde da economia americana nas vésperas do crash de 1929 poderia parecer um puro non-sence, não fosse o desiderato declarado de mais uma vez ir desentarrar o profícuo J.M. Keynes e a sua procura agregada historicamente decadente!
Numa situação como a actual, escolher entre desinflação (leia-se, + inflação) ou deflação da dívida é como andar sobre o fio da navalha. Outra coisa qualquer é um salto para a morte.
Porque, enfim, pensar que se pode fixar arbitrariamente a taxa de juro da economia pela taxa de referência do BCE não passa de uma triste ilusão que nos foi legada pelo próprio neoliberalismo e a sua economia de dívida crescente, mobilidade e excedentes de capitais. Para se ver um dos aspectos do problema, consulte-se a crónica de ontem do Paul Krugman no NYT, e a constatação de uma situação da "armadilha de liquidez" na economia norte-americana.
Mas isso não é tudo, porque no estudo da economia convencional existe uma separação entre taxa de juro do m. monetário e tx. juro do mercado de capitais; e com sentido, porque só a primeira está directamente relacionado com a tx. referência do BC, enquanto a última depende da oferta mais alargada de poupanças no mercado de capitais. A responsabilidade de A.Greenspan pela situação actual é exactamente matizada por esses factores, pois o mesmo destacava há uns tempos, aquando do lançamento do seu livro de memórias, que a "taxa de juro do m. capitais estava a ser determinada exogenamente em relação à política monetária" em níveis historicamente baixos à volta dos 4% (li numa entrevista ao Público). Foram pois este dois mercados conjugados que acelararam a deriva do endividamento. O que quero dizer é q a taxa do BCE é um "índice entre índices" e está de longe de representar o custo efectivo do capital empenhado na economia.
Não há saídas fáceis para a dívida; mas o pior de tudo é querer ficar permanentemente agarrado a ela. ABAIXO A DÌVIDA, pim;
ABAIXO O DANTAS, pum!
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