As notícias que nos chegam do Luxemburgo sugerem que os governos da zona euro estão a ser incapazes de encontrar uma solução concertada para a crise financeira. Pior: tudo aponta para que a estratégia dominante seja a do «cada um por si». Ao anunciarem de forma descoordenada uma garantia dos depósitos dos bancos dos seus países, os governos nacionais estão apenas a contribuir para aumentar o nervosismo. Pela primeira vez em muitos anos, discute-se por todo o lado se as poupanças que as pessoas têm no banco estão seguras. Quando o ambiente é este, estamos a um passo de uma corrida aos bancos, o que seria o início de uma crise económica muito grave.
Há várias razões pelas quais as UE deveria estar a agir concertadamente nesta fase: primeiro, porque, num mercado de capitais altamente integrado como é o europeu, qualquer crise nacional ou até local arrastará atrás de si as restantes economias; segundo, porque quanto mais integrados são os mercados maiores são os perigos associados à competição entre governos nacionais na tentativa de fugir à crise (é um exemplo do clássico «dilema do prisioneiro», em que o óptimo individual é o desastre para o conjunto); terceiro, porque há muitas instituições financeiras que têm ramificações em vários países, exigindo a cooperação activa e a solidariedade de várias autoridades nacionais; quarto, porque algumas das instituições financeiras potencialmente em risco são demasiado grandes para serem socorridas por um só Estado (mesmo que seja um dos grandes); quinto, e para acabar, porque uma acção concertada seria muito mais eficaz na gestão das expectativas do que várias iniciativas nacionais.
Nunca antes foi tão claro como agora o risco que foi criar uma União Económica e Monetária sem precaver a necessidade de construir uma arquitectura sólida de gestão macroeconómica ao nível da UE. Liberalizaram-se os mercados de capitais; aligeirou-se a regulação nacional sem a devida compensação a nível continental; retirou-se o espaço de manobra dos governos nacionais na gestão do ciclo económico (perda da política monetária e cambial, restrição das políticas orçamentais) sem se criarem mecanimos de ajustamento ao nível europeu; criou-se uma autoridade monetária totalmente independente com uma vocação autista para o controlo da inflação e que sente necessidade de se mostrar ainda mais ortodoxa sempre que a urgência de uma redução das taxas de juro se torna evidente e publicamente discutida.
Se o resultado de tudo isto for mesmo uma crise de dimensões históricas (que obviamente terá efeitos assimétricos, penalizando os mais desprotegidos), seria bom que ao menos ela servisse para mudar as instituições que governam o capitalismo contemporâneo, a começar pelas europeias. Infelizmente, nunca as rupturas históricas se deram em resultado da boa vontade, pelo que suspeito que tal só acontecerá se a crise for mesmo muito séria - e se quem sempre criticou a arquitectura existente encontrar as forças para fazer valer as suas posições.
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39 comentários:
O que mais perturba, neste ponto da crise mundial, é percebermos que ninguém tem uma ideia que seja alternativa ao primado do dinheiro, ou melhor, ao primado de quem possui dinheiro em espécie ou sob outra forma qualquer.
A tão incensada intervenção do Estado consiste, no essencial, em usar o nosso dinheiro para restaurar os mecanismos que tanto criticamos. Não precisamos de mais Estado, precisávamos de um "homem novo" que, ao contrário do outro, não esperasse pelo Estado para lançar mãos a uma nova economia.
Em certo sentido têm razão aqueles que dizem que "este é o nosso mundo", aquele que talvez venhamos a recordar com saudade apesar das suas taras e injustiças.
As ilusões e os virtuais em que temos vivido, de forma crescente, nas últimas centenas de anos, permitiram criar um "castelo de cartas" em que muitos de nós, apesar de tudo, gozávamos um relativo conforto. Talvez faça até sentido perguntar se não faz parte da condição social do homem a permanente criação de "castelos de cartas", sejam eles religiões, utopias ou mercados. Viveríamos melhor sem eles ?
Veremos dentro em breve, quando a crise se agudizar, quantos dos críticos do sistema estão preparados para abdicar das mordomias de que usufruem.
Ninguém se preparou para o colapso; se calhar não faz sentido alguém preparar-se para um colapso.
Existe alternativa, em vez de dinheiro, criar um sistema de horas de trabalho, num regime de pleno emprego quem cumprisse a semana de trabalho (que não seria 65 horas, seriam as normais 40) tinha os direitos básicos garantidos. Só que os direitos básicos eram bem mais humanos do que actualmente, falo de educação universal até ao nível superior, habitação, serviço de saúde completo (incluindo serviços agora fora do SNS). E isso não é utopia, se quisermos podemos ter isso, basta pensar em sociedade em vez de fingir que o capitalismo (que reside na sua génese na concentração de capital e no pressuposto de a mão-de-obra é mercadoria sujeita à "lei" de oferta e procura) é uma solução para um todo. E quando quisermos isso e o tivermos, a população olhará para o capitalismo sem saudades, e consciente que acaba de dar um salto evolutivo e democrático.
Caro João,
Acho que ficamos no meio desta discussão quando deixei de comentar.
"Só que os direitos básicos eram bem mais humanos do que actualmente, falo de educação universal até ao nível superior, habitação, serviço de saúde completo (incluindo serviços agora fora do SNS)."
Actualmente esta sociedade já me garante isso e ainda mais um pouco para gastar onde quero. Qual seria a diferença fundamental?
"Actualmente esta sociedade já me garante isso e ainda mais um pouco para gastar onde quero. Qual seria a diferença fundamental?"
É simples, é que garante isso para toda a gente, não só para si, ou para mim...
"É simples, é que garante isso para toda a gente, não só para si, ou para mim..."
Se não contarmos com as ineficiências do Estado (que para mim são problemas de gestão), garante para todas as pessoas.
Mas a minha questão prende-se com o que mudará fundamentalmente nessa sua visão (que muito honestamente até julgo partilhar bastantes pontos em comum e daí o meu interesse) em comparação com o que temos actualmente?
Não me parece , joão Dias ,isso das horas de trabalho , só por um motivo : ele há quem passe o tempo no emprego e ele há outros qie trabalham x , outros que trabalham x+y , no mesmo período de tempo .Talvez por objectivos a cumprir , aí já alinho: acabas o serviço , nem que seja em 20 horas semanais , e vais de folga . E parece-me bem.
Até funcionava na escola : assim que os meninos de uma turma aprendessem o programado para o ano iam de férias. Era vê-los , alunos e profs , a esforçarem-se por aprender e ensinar a trote.
Stran:
O que mudará fundamentalmente é que restringirá o poder do mercado, ou seja o mercado passa a ser só um mercado de bens e não de pessoas, e por outro lado serviria também para combater a financeirização da economia.
Repare-se que ao garantir direitos essenciais, dos quais eu não fiz um lista completa, o recurso ao crédito passaria a ser para bens que não serão de primeira necessidade. Ou seja, não me escandaliza que quem ambicione ter um Ferrari tenha de recorrer ao crédito, mas escandaliza-me que para aceder a um direito fundamental como a habitação seja necessário recorrer ao mesmo.
Pequeno à parte:
Relembro que um apartamento barato custa 100 mil euros (1E5 euros), o ordenado minímo é, se não estou em erro, de 426€, ora 1E5/(14x426)=16.8. Ou seja, um assalariado mínimo que tivesse direito a subsídio de férias teria ficar 17 anos sem consumir rigorosamente nada, ou seja morrer, para conseguir ter dinheiro para um casa barata no mercado actual. Agora, temos precários, que não têm subsídios nem direitos e cujos valores andam a baixo do rendimento mínimo porque não fazem um horário completo.
Voltando ao assunto...
As horas de trabalho também combatem a financeirização porque dão poder ao trabalho, o trabalho passa a ser um valor por si, e não poderá circular no mercado como produto, ao passo que o dinheiro que vem do trabalho pode rapidamente se transformar em produto financeiro, as horas de trabalho não. As horas de trabalho que alguém fizesse seriam um "capital cumulativo", sem taxação e com crescimento simples e uniforme.
Faço notar que também não disse que as horas de trabalho valem todas a mesma coisa, o que eu disse é quem cumprir o requisito semanal tem de ter acesso a direitos que actualmente são negados, ou pelo menos não têm estatuto de direito garantido.
Maria:
Esse é um problema sistémico e antigo e não algo levantado por aquilo que eu proponho. Tanto nas empresas privadas como no sector público existem hierarquias de rendimentos, e nem sempre quem trabalha mais ganha mais. Eu tenho amigos que já ascenderam a uma posição de topo porque estão na empresa do pai, repare-se que o critério não foi a competência ou as horas de trabalho.
Eu escrevi em cima e repito:
"não disse as horas de trabalho valem todas a mesma coisa, o que eu disse é quem cumprir o requisito semanal tem de ter acesso a direitos que actualmente são negados"
Actualmente nas empresas as pessoas ganham um salário fixo, a produtividade de quem trabalha é completamente absorvida pela "necessidade" de lucro da empresa.
Além de que esse problema, desculpe a expressão que vou usar não é para ofender ninguém, é um problema de "gente pequena". Não é ao acaso que é próprio patronato que muitas vezes levanta essa questão, actualmente dizendo que uns são preguiçosos e outros não. Isto serve para manter a luta nas camadas de baixo, e assim afastar o seu próprio estatuto da discussão, Sócrates também sabe fazer isso, é por isso que Van Zeller da CIP tanto elogia o nosso "menino de ouro".
Existem injustiças no seio daqueles que trabalham, mas repare-se que se deve começar por corrigir as mais graves, essas prendem-se com a desvalorização geral do valor do trabalho. Ora, quem desvaloriza o valor do trabalho é precisamente quem não faz dele a sua fonte de rendimento...
P.S. Eu não disse isto mas parece-me óbvio, se se verificasse que alguém fingia que trabalhava, então logicamente que não acumulava essas horas de trabalho fingido, mas isso não me pareceu digno de nota, já hoje quem não trabalha também pode ser despedido com justa causa.
Desculpa a insistência:
Até agora não me parece diferente o "número de horas" e "dinheiro" sendo que ambas são dependentes.
Julgo que percebo que se linkarmos as nossas disponibilidade horaria directamente ao que podemos consumir que provavelmente teremos menos erosão no que trabalhamos.
No entanto não julgo que seja verdade. Primeiro porque partes do pressuposto que conseguimos vender horas de trabalho ao estrangeiro mais do que compramos. (Julgo que é a unica maneira de estares constantemente em pleno emprego).
Depois surge-me a duvida relativamente à escolha. Por exemplo na habitação como é entregavas a habitação ao sujeito A em detrimento do sujeito B?
Finalmente como é que avaliavas a hora de um gestor e de um operário? Que tipo de relação é que existia?
P.S. Olha gostavas de aprofundar mais este tema?
"Depois surge-me a duvida relativamente à escolha. Por exemplo na habitação como é entregavas a habitação ao sujeito A em detrimento do sujeito B?"
Desculpem a intromissão, mas lá vem mais uma vez a questão da propriedade privada. De facto tudo ,no futuro e na essência desta crise, se irá reduzir a esta questão.
A espiral do desfasamento entre a economia real e a economia financeira vai revelar que temos de mudar o paradigma do valor das coisas. Se uma coisa esta crise mostrou, foi que o Homem, se quiser consegue criar valor sobre o dinheiro e manipular esse valor. No entanto, o mesmo não se passa com o real valor dos produtos e serviços.
Se quisermos estancar esta ferida no capitalismo - que embora acabará por morrer - temos que criar valor financeiro em proporcional relação com o valor real das coisas. Submetemos então o capitalismo a uma "dieta", utilizando-o como simples ferramenta de troca, controlando o sistema financeiro, seus intervenientes e processos para que qualquer valor extra criado seja distribuído por todos de uma forma razoável.
Voltando à propriedade. Depois do dinheiro, do ouro e da prata é a mais natural referência do valor das coisas. Se os outros três falharem das duas uma: ou o Homem consegue criar antecipadamente um sistema de distribuição da propriedade igualitário ,assegurando a socialização da mesma; ou então terá que lidar com mais uma revolução, principalmente porque as pessoas procurarão o realmente tem valor. Nada de novo, já aconteceu antes. Temos todas as condições para que volte a acontecer.
Só me sinto curioso em saber qual o caminho que tomaremos. As actuais decisões dos vários estados deixam-me apreensivo...
O pressuposto de que eu parto é que é mesmo diferente, repare-se que o dinheiro neste momento pode vir do sub-mundo do crime, pode vir de off-shores...as horas de trabalho não, não são tributáveis, não são um produto, é um registo ilimitado da contribuição de um indivíduo para com a sociedade. Repare-se que ninguém subtrairia horas para ter algo, elas seriam um registo indicativo sempre a somar sem nunca poderem ser subtraídas.
"No entanto não julgo que seja verdade. Primeiro porque partes do pressuposto que conseguimos vender horas de trabalho ao estrangeiro mais do que compramos."
Não existiriam trocas de horas de trabalho, ao contrário do dinheiro em que se pode trocar dinheiro "sujo" por dinheiro proveniente dos rendimentos do trabalho, aqui a troca não faria sentido. Numa sociedade de plenos direitos, não faz sentido trocar uma garantia por outra equivalente. Imagine-se isto como um registo, um histórico, por exemplo, as pessoas tinham acesso à casa no início da actividade laboral, passados 3 anos de actividade cumpridora a casa, já habitada, era registada como propriedade da pessoa. Ou seja, os objectivos eram traçados ao longo do tempo, o que acontece com o dinheiro mas, neste último, sem garantias e com agravamento gerado pelo factor desemprego.
É curioso, mas a pergunta como está feita revela o poder de uma sociedade habituada ao capitalismo (eu nunca vivi noutra, por exemplo), nem sequer conseguimos imaginar uma sociedade com garantias.
Mas a razão porque eu proponho isto é simples, alguém tem dúvidas que temos os meios humanos e matéria prima necessária para termos habitação para todos?
Ou seja o capitalismo é realidade que nos nega acesso a bens materiais que existem, a actualidade é prova disso, existe um crise financeira mundial, mas existe alguma crise de matérias primas? Não. As verdadeiras crises são aquelas que destroem produções de cereais, são os danos materiais, o que se pretende é que abandonemos este sistema dantesco onde se pode gerar uma crise porque se chega a acreditar que o dinheiro vale alguma coisa, ele é apenas um símbolo que reconhecemos como válido, assim como o podemos deixar de o fazer.
Por exemplo, antes as notas de dólares tinham uma inscrição a dizer que podiam ser trocadas por x de ouro, na actualidade dizem que podem ser trocadas por outras notas de doláres, esta singela mudança materializa todo este novo paradigma de uma financeirização absurda, sendo que o mercado financeiro é cerca de 4 vezes maior que o valor nominal do produto bruto mundial em termos de valor (isto sem contar com off-shores e etc.).
"Depois surge-me a duvida relativamente à escolha. Por exemplo na habitação como é entregavas a habitação ao sujeito A em detrimento do sujeito B?"
A minha ideia também passa muito por reconstruir, ou seja usar uma política social de habitação como suporte a uma política de planeamento urbano. Havendo reconstrução, os proprietários também podiam ter a liberdade de definir o que queriam, dentro do razoável (sendo que o razoável é muito discutível). Mas havendo habitações já feitas de raiz e que fossem desejadas por mais que uma pessoa, teriam de ser os próprios a chegar a um entendimento, caso não chegassem eram eles os próprios a perder, porque ficavam sem casa alguma. De notar que havendo essa garantia, haveria uma maior uniformidade em termos qualitativos, logo, seria mais improvável haver conflitos desses.
Era como alguém ter um saco de bolas azuis todas iguais, e discutir muito para ficar com uma em particular...
"Finalmente como é que avaliavas a hora de um gestor e de um operário? Que tipo de relação é que existia?"
Pois isso era outra coisa que ia à vida, as empresas deveriam funcionar em regime tipo cooperativa, em que os meios de produção eram propriedade colectiva de quem lá trabalhasse, enquanto lá trabalhasse. E as hierarquias eram feitas pela via democrática, ou seja, o gestor, o decisor era eleito, e haveria eleições periódicas. Sendo um orgão eleito de um todo, isso implicava a aceitação do líder, e implicava que o líder aceitava essa responsabilidade, logo não haveria discriminação baseada em posições hierárquicas. Os directores de escolas por exemplo são eleitos e não ganham mais que os outros por isso, e já existem cooperativas actualmente, em que os cargos também são por eleição. Por exemplo, eu tenho despesas de condomínio que fazem parte de um encargo com uma cooperativa de habitação que nos cobra pelo serviço de gestão do condomínio.
"P.S. Olha gostavas de aprofundar mais este tema?"
Sim. Isto são ideias soltas, falo de questões de princípio, mas também de experiências positivas da sociedade civil que podem ser empregues no mundo do trabalho.
visitem este blogue. obrigado.
O que o João Dias propõe na prática é a extinção do dinheiro.
E todos comprarmos casas com dinheiros públicos para depois já serem propriedade de cada um ??? Isso então é que não tem pés nem cabeça seja em que quadrante for.
"...repare-se que o dinheiro neste momento pode vir do sub-mundo do crime, pode vir de off-shores...as horas de trabalho não, não são tributáveis, não são um produto, é um registo ilimitado da contribuição de um indivíduo para com a sociedade."
É um pouco idilico acreditar que com uma simples mudança de unidade de valorização que estes sub-mundos desapareciam. No então achei bastante interessante esta frase, pois obrigaria certamente a que as coisas mudassem. Embora seja impossível terminar com estes sub-mundos seria interessante estudar o impacto desta mudança.
"Numa sociedade de plenos direitos, não faz sentido trocar uma garantia por outra equivalente. Imagine-se isto como um registo, um histórico, por exemplo, as pessoas tinham acesso à casa no início da actividade laboral, passados 3 anos de actividade cumpridora a casa, já habitada, era registada como propriedade da pessoa. Ou seja, os objectivos eram traçados ao longo do tempo, o que acontece com o dinheiro mas, neste último, sem garantias e com agravamento gerado pelo factor desemprego."
Ok, eu consigo imaginar perfeitamente o que me disse. No entanto as trocas internacionais teriam de continuar, não só porque é motivo de progresso como não somos uma região auto-suficiente em muitas matérias.
Ora sendo obrigatório estas trocas como é que as valorizava?
"Mas a razão porque eu proponho isto é simples, alguém tem dúvidas que temos os meios humanos e matéria prima necessária para termos habitação para todos?"
Julgo que Portugal é um verdadeiro exemplo disso mesmo, já temos mais habitações que população necessária para preenche-la. O problema não se prende tanto neste pontos (esta lógica é extensível a outros casos). O meu dilema é mais relativo às escolhas individuais de lazer diversificadas, embora consigo imaginar que uma parte das horas pudessem ser traduziveis nisso mesmo.
"...esta singela mudança materializa todo este novo paradigma de uma financeirização absurda, sendo que o mercado financeiro é cerca de 4 vezes maior que o valor nominal do produto bruto mundial em termos de valor..."
Dois pontos para comentar: para mim muito honestamente é indiferente o dinheiro, o ouro ou prata, pois são todos bens que, como gosto de pensar, são perfeitamente descartáveis quando estamos numa "ilha isolada". Valem apenas pelo que nós lhe atribuimos, e não pela sua funcionalidade. Veja-se o caso dos diamantes (um material bastante comum mas que nós de forma desproporcional lhe atribuimos bastante valor). Pelo que me é indiferente ter ou não ligação a ouro, ou a prata ou a jade (que na China é mais apreciado que ouro).
O segundo ponto, quanto ao mercado financeiro valer mais do que o PIB, é normal pois apenas significa que a expectativa é de expansão a longo prazo (algo que eu acredito).
"Mas havendo habitações já feitas de raiz e que fossem desejadas por mais que uma pessoa, teriam de ser os próprios a chegar a um entendimento, caso não chegassem eram eles os próprios a perder, porque ficavam sem casa alguma. De notar que havendo essa garantia, haveria uma maior uniformidade em termos qualitativos, logo, seria mais improvável haver conflitos desses."
Julgo que aqui é onde discordamos mais na nossa análise. Esta frase aponta para um pressuposto que julgo errado, que é a uniformidade de gosto. Por mais que em termos qualitativos (e não estou a falar de estética uniforme) as casas sejam identicas a verdade é que as zonas não o são e a verdade é que enquanto podes construir uma casa semelhante em qualidade é dificil quanto à localização.
Ou seja existirá locais com pouca oferta para muita procura, como é que seria o critério de escolha (actualmente é o dinheiro)? Ficava à discrição do vendedor? Que tipo de trade-offs existiriam para que o sujeito A abandonasse em detrimento do Sujeito B?
Quem controlava as regras deste mercado? Quais as regras deste mercado e as limitações? De quem era a propriedade destas casas?
"E as hierarquias eram feitas pela via democrática, ou seja, o gestor, o decisor era eleito, e haveria eleições periódicas. Sendo um orgão eleito de um todo, isso implicava a aceitação do líder, e implicava que o líder aceitava essa responsabilidade, logo não haveria discriminação baseada em posições hierárquicas."
Bem aqui temos também uma visão diferente quanto à funcionalidade das cooperativas e democracidade possível num ambiente de trabalho.
Primeiro cargos de gestão têm de ser limitados em termos de concorrentes. Não pode ser qualquer um que o desempenha (na mesma optica de um médico cirugião). Ou seja deve de existir um sistema de acreditação isenta de quem pode desempenhar um cargo de gestão. Depois o modelo democrático puro tende a criar
"vicios" que são tão danosos como os que existem actualmente. Existe o risco elevado de as pessoas mais competentes não estarem nos melhores postos (já experimentei isso na primeira pessoa na escolha de representantes de trabalhadores). E existe um perigo real de este modelo levar à própria falência da cooperativa (embora possamos afirmar que podemos deixar correr a "mão invisível", ou seja as cooperativas que fazem más escolhas deixam de existir em detrimentos das que fazem "boas escolhas"). Outro pressuposto que tem de existir é que as pessoas estão bem informadas e sabem ler essa informação, algo que hoje não é possível.
O exemplo que deu (escolas) para mim não é um bom exemplo, aliás eu vejo esse um bom exemplo do oposto, pois esse modelo de gestão criou bastante inequidades e injustiças, má gestão e deterioração da imagem do ensino publico.
"Sim. Isto são ideias soltas, falo de questões de princípio, mas também de experiências positivas da sociedade civil que podem ser empregues no mundo do trabalho."
Optimo, é que eu também gostava de desenvolver algo de concreto sem ser só ideias soltas. Há muito tempo que penso na inutilidade do dinheiro e num sistema alternativo (algo que confesso apenas declarei a muito poucas pessoas na minha vida).
Tem algo em mente? Gostava de dizer que, se aceitar a minha humilda ajuda (aviso já que não sou versado em autores), pode contar comigo.
Não sei o que vai achar da seguinte proposta:
Quer criar um blogue cuja temática é só isto? (Poderia ser apenas um inicio para construir algo mais concreto)
Outra duvida: Deve estar mais informado do que eu. Qual a abertura da criação de um "Think Tank" (embora eu goste mais da expressão "Think and Act Tank") para este projecto?
"E todos comprarmos casas com dinheiros públicos para depois já serem propriedade de cada um ??? Isso então é que não tem pés nem cabeça seja em que quadrante for."
Se calhar devia ler com mais atenção.
Desde de quando é as horas de trabalho são dinheiro público? Que confusão vai nessa cabeça. Quando você troca trabalho por dinheiro, o seu dinheiro passa a ser público? Não. Então e se o trabalho for o dinheiro em si? Também não.
Stran:
Mais tarde eu respondo.
Com o meu comentário, o primeiro da lista, parece que desencadeei um brain storm sobre os malefícios do dinheiro.
Eu acho que esse fetichismo nada resolve, o dinheiro não tem culpa de nada. O seus proprietários sim.
Quando eu disse "o que mais perturba, neste ponto da crise mundial, é percebermos que ninguém tem uma ideia que seja alternativa ao primado do dinheiro" o que queria dizer é que não há alternativas aceites pela generalidade das pessoas.
Podemos, como fez o João Dias, inventar "soluções maravilhosas" à mesa do café mas isso não resolve.
Esta crise está a mostrar a fragilidade do sistema, totalmente à mercê da confiança dos cidadãos, mas também mostra que os cidadãos não encontraram ainda uma outra forma de organizar a produção e a distribuição da riqueza para onde transferir a sua confiança.
Caro João,
"Mais tarde eu respondo"
No problem, quando puderes respondes.
Caro F. Penim Redondo,
"Podemos, como fez o João Dias, inventar "soluções maravilhosas" à mesa do café mas isso não resolve."
Julgo não se tratar de uma "solução
maravilhosa" (no sentido ironico destas palavras), e desconfio à partida da opinião de alguém que julga uma ideia antes sequer de a ler ou ouvir.
"Esta crise está a mostrar a fragilidade do sistema, totalmente à mercê da confiança dos cidadãos, mas também mostra que os cidadãos não encontraram ainda uma outra forma de organizar a produção e a distribuição da riqueza para onde transferir a sua confiança."
Como deve saber as alterações que indicia não poderão ser implementadas num periodo de grave crise. O tempo actual requer soluções pragmáticas que resolvam o problema e não que alterem o sistema como um todo. Essa alteração poderá ocorrer agora mas mas terá de ser por via revolucionária. Via essa que tem uma alta probabilidade de fracassar.
No entanto é um periodo bom para reflectir e para começar a criar "uma outra forma de organizar a produção e a distribuição da riqueza para onde transferir a sua confiança".
"No entanto é um periodo bom para reflectir e para começar a criar "uma outra forma de organizar a produção e a distribuição da riqueza para onde transferir a sua confiança".
O meu comentário é precisamente sobre isto: começar ?!?!
É que eu já comecei há um ror de anos:
http://digital-ismo.blogspot.com/search/label/04%20A%20supera%C3%A7%C3%A3o%20do%20Capitalismo
Caro F. Penim Redondo (posso-lhe char de Penim?),
Vou ler então...
"Podemos, como fez o João Dias, inventar "soluções maravilhosas" à mesa do café mas isso não resolve."
Local Exchange Trade System
Às vezes a realidade também conta...
Gostei muito de ler,
Algumas duvidas:
- qual o valor máximo de "respectivas taxas de aluguer"?
- O que aconteceria a pessoas que tivessem em diversos projectos falhados, e por conseguinte não conseguissem entrar em novos projectos?
- Porquê o nome de "digitalismo" (esta duvida não é importante, no entanto tenho que confessar que não gostei muito do nome)?
João,
Obrigado pelo Link. Já fui ler.
Melhores Cumpts,
Stran
Stran,
obrigado por ter tido a paciência de ler o texto que indiquei.
como digo no texto trata-se de "um cenário possível com o intuito de mostrar que a organização em sociedade para produzir poderia deixar de depender do assalariamento". Não é sequer uma proposta.
Na medida em que os "meios de produção" podem ser privados mas não justificam qualquer preponderância nos projectos. O seu rendimento não consiste em lucros mas sim em rendas (como quem aluga uma loja). O valor dessas rendas poderia ser fixado nos mesmos termos em que hoje se fixa as taxas de depósitos nos bancos.
O "Digitalismo" resulta de eu considerar que a representação binária, digital, da informação está na raiz das mais profundas transformações da nossa época.
João,
fui ver o link indicado. Eu já tenho vito referências à experiência mas parece-me que não terá condições para se generalizar.
O futuro dirá, claro.
Stran,
esqueci de responder a uma pergunta. Cá vai:
Os projectos comportam quatro tipos de intervenção: autoria, montagem, gestão e execução.
Cada pessoa pode ter simultâneamente ou alternadamente va´rios destes "papéis" em diferentes projectos.
Se a pessoa tiver tido insucessos repetidos como gestor pode, e deve, candidatar-se a autor ou executante por exemplo.
Na sociedade capitalista a Autoria, a Montagem e a Gestão estão, por norma, reservadas aos proprietários dos meios de produção ou aos seus representantes delegados. Aos trabalhadores estão reservadas as actividades de Execução. Daí decorrendo que a autoridade de gestão e o direito à apropriação dos excedentes aparecem intrinsecamente ligados à propriedade.
Nenhuma razão técnica, ou económica, obriga a que assim seja.
F Penim Redondo:
O link serviu somente para demonstrar que as "soluções à mesa de café" chegaram ao mundo real.
Venho só chamar a atenção que vocês , na procura de um outro tipo de organização económica , nunca puseram em causa o estado nação.
Trocas internacionais ? dinheiros de submundos? para este último basta acabar com a lei seca ;para o primeiro , não sei , mas uma sociedade económica novinha em folha necessita de outra forma de organização política.
Gosrei muito de vos ler.Fico contente de saber que há quem pense para além do dado.
No ponto em que estamos é inevitável falar-se da ilha Utopia, descrita por Thomas More sob relato de um determinado marinheiro português.
Penso que é saudável actualmente inventar-se e discutir-se utopias à vontade sem pudores ou vergonhas. Vergonha é o mundo em que vivemos, isso sim. Como diria o Oscar Wilde, um mapa do mundo que não tenha nela o país UTOPIA, não vale a pena sequer olhar para ele, pois exclui precisamente a terra aonde a humanidade está constantemente chegando.
Ah, já agora, achei o sistema LETS bastante interessante...
“É um pouco idilico acreditar que com uma simples mudança de unidade de valorização que estes sub-mundos desapareciam. No então achei bastante interessante esta frase, pois obrigaria certamente a que as coisas mudassem. Embora seja impossível terminar com estes sub-mundos seria interessante estudar o impacto desta mudança.”
Não é só uma mudança de unidade, era uma unidade mais restritiva que não permitia movimentos especulativos, nesse sentido restringia efectivamente o poder financeiro que joga com poupanças e reformas de trabalhadores. Impossível não será, mas extremamente difícil sim.
“Ok, eu consigo imaginar perfeitamente o que me disse. No entanto as trocas internacionais teriam de continuar, não só porque é motivo de progresso como não somos uma região auto-suficiente em muitas matérias.”
Ora sendo obrigatório estas trocas como é que as valorizava?
Teríamos acordos de troca matérias primas, repare-se que estas trocas já existem, a única coisa que se pretende retirar é o factor especulação, ou seja o dinheiro enquanto valor abstracto. Por exemplo os EUA estão constantemente a criar doláres, e com isso acabam por ter um poder de compra que não tem correspondência aos seus activos.
Já aqui aconselhei e volto a aconselhar a ver este vídeo, e daqui que retiro muitas das ilações.
Money as Debt
“Julgo que Portugal é um verdadeiro exemplo disso mesmo, já temos mais habitações que população necessária para preenche-la. O problema não se prende tanto neste pontos (esta lógica é extensível a outros casos). O meu dilema é mais relativo às escolhas individuais de lazer diversificadas, embora consigo imaginar que uma parte das horas pudessem ser traduziveis nisso mesmo.”
Se mudarmos as regras do nosso sistema de troca, não significa que percamos diversidade, eu volto a frisar que se pode continuar a usar dinheiro, essa não é a questão fundamental, eu não tenho dogmas, eu pretendo é que o dinheiro não possa ser vendido e comprado, porque logicamente isso mina qualquer ideia de mobilidade social. Afinal quem tem mais dinheiro ainda cobra aos outros juros, isso é logicamente contraproducente com qualquer ideia de equilíbrio social. E porque é que o Estado deu o poder aos bancos de criarem dinheiro? Porque é que se tanto poder a uma instituição que limita-se lucrar com através do sobre-consumo estimulado por economia sem pés nem cabeça.
Dois pontos para comentar: para mim muito honestamente é indiferente o dinheiro, o ouro ou prata, pois são todos bens que, como gosto de pensar, são perfeitamente descartáveis quando estamos numa "ilha isolada". Valem apenas pelo que nós lhe atribuimos, e não pela sua funcionalidade. Veja-se o caso dos diamantes (um material bastante comum mas que nós de forma desproporcional lhe atribuimos bastante valor). Pelo que me é indiferente ter ou não ligação a ouro, ou a prata ou a jade (que na China é mais apreciado que ouro).
Na realidade o ouro e o diamante são dos melhores materiais do mundo, mas estão sobrevalorizados pelas razões mais supérfluas. O ouro é excelente condutor, e é vital para algumas aplicações electrónicas, o diamante tem uma dureza inacreditável, serve por exemplo nos laboratórios para fazer testes de dureza a outros materiais. Embora perceba que tendo em conta as concepções que estão na base da valorização actual também os considere descartáveis, mas na realidade não são e são um péssimo activo para ficar guardadinhos como garantia porque são muito mais utéis se forem usados em aplicações reais.
“O segundo ponto, quanto ao mercado financeiro valer mais do que o PIB, é normal pois apenas significa que a expectativa é de expansão a longo prazo (algo que eu acredito).”
Sinceramente não me parece normal, porque reflecte o seguinte:
quem tem expectativas sobre a economia ganha muito mais a especular sobre isso, do que quem produz efectivamente alguma coisa útil para a sociedade.
Além disso reflecte dívidas, porque os mercados financeiros criam dinheiro a partir de dívida (daí o título do vídeo “Money as Debt”).
Julgo que aqui é onde discordamos mais na nossa análise. Esta frase aponta para um pressuposto que julgo errado, que é a uniformidade de gosto. Por mais que em termos qualitativos (e não estou a falar de estética uniforme) as casas sejam identicas a verdade é que as zonas não o são e a verdade é que enquanto podes construir uma casa semelhante em qualidade é dificil quanto à localização.
Ou seja existirá locais com pouca oferta para muita procura, como é que seria o critério de escolha (actualmente é o dinheiro)? Ficava à discrição do vendedor? Que tipo de trade-offs existiriam para que o sujeito A abandonasse em detrimento do Sujeito B?
Quem controlava as regras deste mercado? Quais as regras deste mercado e as limitações? De quem era a propriedade destas casas?
Sendo o factor de discussão seriam criados critérios objectivos, por exemplo, prioridade da escolha de determinada casa é concedida a quem cujo local de trabalho seja mais próximo...isto em conjunção com diversos critérios poderia resolver o problema. Por exemplo, as universidade tem um esquema de selecção que é o da prioridade regional.
Mas repare, eu não serei capaz de dar resposta a todas as problemáticas, o que não quer dizer que não exista solução, no entanto repare que existe um critério, esse critério é conceder casas de forma racional e cujo critério racional não seja o dinheiro. Repare que o critério do dinheiro é muito mais reprovável, porque sabendo nós que a riqueza do sistema capitalista provém da exploração, são precisamente os exploradores a ficar com as melhores casas. Portanto, nesse aspecto, parece-me que o caminho a seguir é muito melhor que o actual, apesar de perceber as legitimas dúvidas.
“Bem aqui temos também uma visão diferente quanto à funcionalidade das cooperativas e democracidade possível num ambiente de trabalho.
Primeiro cargos de gestão têm de ser limitados em termos de concorrentes. Não pode ser qualquer um que o desempenha (na mesma optica de um médico cirugião). Ou seja deve de existir um sistema de acreditação isenta de quem pode desempenhar um cargo de gestão. Depois o modelo democrático puro tende a criar
"vicios" que são tão danosos como os que existem actualmente. Existe o risco elevado de as pessoas mais competentes não estarem nos melhores postos (já experimentei isso na primeira pessoa na escolha de representantes de trabalhadores). E existe um perigo real de este modelo levar à própria falência da cooperativa (embora possamos afirmar que podemos deixar correr a "mão invisível", ou seja as cooperativas que fazem más escolhas deixam de existir em detrimentos das que fazem "boas escolhas"). Outro pressuposto que tem de existir é que as pessoas estão bem informadas e sabem ler essa informação, algo que hoje não é possível.
O exemplo que deu (escolas) para mim não é um bom exemplo, aliás eu vejo esse um bom exemplo do oposto, pois esse modelo de gestão criou bastante inequidades e injustiças, má gestão e deterioração da imagem do ensino publico.”
Há uma questão simples sobre este problema, se um gestor não for eleito, você pode dizer que ele é um crápula e atirar as responsabilidades todas para cima do desgraçado que pode, ou não, ter culpas no cartório, agora se ele é eleito é uma decisão partilhada e aí acaba-se o “regabofe” e quem elege tem de por a mão na consciência.
Repare, se existir no seio da cooperativa alguém com formação na área, acho que é dispensável a via democrática, mas mesmo assim, caso os dependentes achassem que a gestão era danosa podiam substituir e eleger outro.
Certamente que a democracia não é perfeita, mas também uma decisão unilateral não o é e com agravante de ser isso mesmo, unilateral. Aliás, os gestores não são eleitos e a qualidade deixa muito a desejar, por exemplo, o Jorge Coelho agora é um gestor, não haja dúvidas da qualidade da personagem na área de gestão. Que eu saiba este não tem formação na área.
As escola têm problemas de gestão, mas são de gestão de topo, também existe nos cargos de gestão da escola, mas os que fazem a verdadeira mossa não são esses. O modelo democrático salvaguarda algo muito importante, é que actualmente os cargos de topo avaliam os outros, e se depreciarem o trabalho dos seus dependentes ficam a ganhar com isso, porque estão a arranjar um pretexto para os baixos salários. Eu já tive pessoas tentar fazer justificações desse tipo à minha frente, falando dos seus dependentes e referenciando um erro, e friso que se tratava de um só erro, para justificar a compressão constante dos salários. E ouvi muito mais...e apenas me confirmou as suspeitas sobre o que gera desemprego e exploração.
”Optimo, é que eu também gostava de desenvolver algo de concreto sem ser só ideias soltas. Há muito tempo que penso na inutilidade do dinheiro e num sistema alternativo (algo que confesso apenas declarei a muito poucas pessoas na minha vida).
Tem algo em mente? Gostava de dizer que, se aceitar a minha humilda ajuda (aviso já que não sou versado em autores), pode contar comigo.
Não sei o que vai achar da seguinte proposta:
Quer criar um blogue cuja temática é só isto? (Poderia ser apenas um inicio para construir algo mais concreto)
Outra duvida: Deve estar mais informado do que eu. Qual a abertura da criação de um "Think Tank" (embora eu goste mais da expressão "Think and Act Tank") para este projecto? “
Olhe porque não, embora eu ache que está aqui no Ladrões o melhor “Think Tank” para pensar numa economia alternativa. Eu por acaso tenho um defeito, escrevo mais em caixas de comentários do que no meu próprio blogue.
P.S. Mais uma vez, não sou dogmático, acho que precisamos de um sistema alternativo, seja uma recuperação dos postulados de Keynes, seja um Estado presente, seja a reformulação do sistema de trocas, seja uma reformulação da representatividade do dinheiro, seja o que for os problemas já os conhecemos, as soluções são mais que muitas e também os problemas.
Bem,
Tenho muito que escrever. Vou responder por ordem:
Caro F. Penim Redondo,
"obrigado por ter tido a paciência de ler o texto que indiquei."
Eu é que agradeço a colocação do link. Assim tive conhecimento de um muito bom texto que não tinha anteriormente (aprender e pensar são duas actividades que adoro fazer).
"O seu rendimento não consiste em lucros mas sim em rendas (como quem aluga uma loja). O valor dessas rendas poderia ser fixado nos mesmos termos em que hoje se fixa as taxas de depósitos nos bancos."
O problema dos alugueres de loja (principalmente em Portugal) é que muitas vezes representam 90% das mais valias, acabando por estrangular a inovação e a actividade económica. Seria até interessante saber qual a percentagem de mais valias que vai directamente e puramente para os detentores do meio de produção.
Qual é o mecanismo que fixa as taxas de juro actualmente?
"Eu já tenho vito referências à experiência mas parece-me que não terá condições para se generalizar."
De forma parecida existem outros exemplos de actividades que não têm remuneração directa monetária e que foram motores de expansão económica. Os blogues são um exemplo espectacular neste caso. Julgo que a Internet já começou a mudar as nossas relações e os mecanismos de trocas e de produção.
"candidatar-se a autor ou executante por exemplo."
Ok. Fiquei esclarecido.
A questão que ficou ainda em aberto na minha cabeça é como fazer com que os detentores do meio de produção mudem de actitude e como colocá-los no mercado?
Cara Maria,
"Venho só chamar a atenção que vocês , na procura de um outro tipo de organização económica , nunca puseram em causa o estado nação."
Pessoalmente eu não coloco em causa, julgo que é uma forma espectacular de organização. No entanto não sou um nacionalista convicto e não me oporia a uma UE Federal. Ou num futuro longiquo que não vou ver a uma ONU Federal.
"...mas uma sociedade económica novinha em folha necessita de outra forma de organização política."
Alguma sugestão
"Gosrei muito de vos ler.Fico contente de saber que há quem pense para além do dado."
Não sei se se referia também a mim, no entanto muito obrigado!
Joe,
"Como diria o Oscar Wilde, um mapa do mundo que não tenha nela o país UTOPIA, não vale a pena sequer olhar para ele, pois exclui precisamente a terra aonde a humanidade está constantemente chegando."
Desconhecia esta frase mas não me vou esquecer dela. Simplesmente espectacular...
João,
"Já aqui aconselhei e volto a aconselhar a ver este vídeo, e daqui que retiro muitas das ilações."
Vou ver e depois comento esta parte (pode demorar um pouco a resposta).
"...esse critério é conceder casas de forma racional e cujo critério racional não seja o dinheiro."
Embora nem sempre seja injusto, em Portugal é dificil argumentar o contrário. No entanto este ponto traz, a meu ver, para a discussão dois outros temas: A justiça (tem de funcionar muito bem para reparar erros) e o poder (este sistema atribui muito poder a quem cria os critérios, o que pode ter um efeito perverso no sistema, ou seja pode empolar o sistema de cunhas).
"Há uma questão simples sobre este problema, se um gestor não for eleito, você pode dizer que ele é um crápula e atirar as responsabilidades todas para cima do desgraçado que pode, ou não, ter culpas no cartório, agora se ele é eleito é uma decisão partilhada e aí acaba-se o “regabofe” e quem elege tem de por a mão na consciência."
Por enquanto ainda não é assim e existe um perfeito exemplo de que mesmo em sistemas de decisão democráticos acontece o contrário:
Os politicos. Se for a ver nós votamos democraticamente e nunca pomos a "mão na consciência" e acabamos por "dizer que ele[s] [são uns] crápula[s] e atirar as responsabilidades todas para cima do desgraçado que pode, ou não, ter culpas no cartório".
A minha grande duvida era o que fazer para:
A) impedir que relações de poder enviesadas não fossem criadas?
B) como tornar os portugueses mais responsáveis democraticamente?
"Olhe porque não, embora eu ache que está aqui no Ladrões o melhor “Think Tank” para pensar numa economia alternativa. Eu por acaso tenho um defeito, escrevo mais em caixas de comentários do que no meu próprio blogue."
Vou então maturar a ideia. Quanto ao facto de escrever mais em caixas de comentários julgo que para o objectivo de um hipotetico blogue com este fim não tem problema nenhum, visto que os posts serão pouco e espaçados no tempo, sendo mais importante a discussão em si para construir uma organização economica "alternativa".
Quanto a este blogue, ainda não o tinha dito, mas julgo que é provavelmente o melhor blogue português da actualidade!
Caro João,
Já vi parte do documentário. No entanto tenho algumas duvidas:
- o racio não é relativo à reservas?
- O banco não tem de contrair um emprestimo para poder emprestar? (o famoso mercado interbancário)
- não existem bens ligados aos emprestimos?
Outra questão que o documentário levanta e que é um problema de um sitema de horas é o de alavancagem.
Afinal é esta alavancagem que permite que tenhamos a properidade que temos e que com outro sistema é dificil de atingir?
Stran:
Vou só responder em relação ao vídeo.
"- o racio não é relativo à reservas?"
Se está a falar reservas parciais...não, se está a falar de reservas totais vs dinheiro concedido a crédito...sim. Ou seja, o banco, como terá visto, pode começar com um capital de 1.111 doláres e fazer um empréstimo de cerca de 10.000 doláres, ou seja, o Estado concedeu a esta entidade o inacreditável benefício de emprestar dinheiro que não tem. Ou porque que é que acha que nunca podemos levantar todos o nosso dinheiro? Mesmo quando era ouro, a garantia que lá estava era um décimo da totalidade que investimos.
"- O banco não tem de contrair um emprestimo para poder emprestar? (o famoso mercado interbancário)"
Pois, e os outros bancos o que têm para emprestar?
Pois claro, dinheiro de dívidas (money as debt). Repare que mal o banco faz um empréstimo de 10.000 dólares cria esse dinheiro virtualmente na sua conta, ou seja, como o empréstimo vale como se de dinheiro se tratasse, o banco ao ceder um empréstimo ganhou logo o dinheiro que vai emprestar e que nem precisa de ter. Os empréstimos inter-bancários acontecem porque os bancos querem investir forte e como podem não ter o rácio necessário recorrem ao mesmo.
"- não existem bens ligados aos emprestimos?"
Sim, mas esses bens vem da parte de quem contrai a dívida, é muito diferente o banco ter reservas e ser quem contrai o empréstimo a dar essa garantia. Esta crise é o exemplo acabado dessa diferença, é que os bens associados, normalmente casas, são reclamados quando as pessoas não pagam, normalmente quando começa a haver muita gente a não pagar é porque não conseguem mesmo. Se não conseguem a procura vai diminuir, se a procura diminui as casas desvalorizam. Se as casas não são vendidas a economia real ressente-se, os bancos perdem dinheiro porque não conseguem vender as casas (que eram a garantia do acordo de empréstimo), logo perdem margem de manobra para emprestar, as empresas não conseguem aceder ao crédito, logo não conseguem pagar os investimentos que precisam para produzir..."and so on".
"Outra questão que o documentário levanta e que é um problema de um sitema de horas é o de alavancagem.
Afinal é esta alavancagem que permite que tenhamos a properidade que temos e que com outro sistema é dificil de atingir?"
A questão é que alavancagem tem sérias contrapartidas, ela não resolve o problema, disfarça-o e exponencia-o. Em termos simplistas, assumamos a alavancagem como sendo a capacidade dos produtos financeiros em nos dar acesso a bens que de não conseguiríamos pagar a pronto. Na realidade, simplesmente não vamos pagar a pronto, porque vamos pagar o produto todo mais juros e comissões variadas. Acontece é que a alavancagem não resolve o problema da inflação e ainda o exponencia. Os produtos financeiros criam procura em produtos que, dada a sua inflação, não teriam a procura que têm, logo gera inflação sobre a inflação, por outro lado, cria a ilusão numa sociedade de consumo que pensa pode pagar durante a sua vida, acontece que vivemos num regime capitalista, e em capitalismo não se sabe se no dia de amanhã há emprego. E todos sabemos que os desempregados continuam a ter de pagar o que devem...
Caro Ricardo, a corrida aos bancos já começou.
Embora não saia nas notícias por pressões várias, as agências dos bancos estão diariamente a ficar com os cofres vazios. Os depositantes indignam-se perante as exigências dos bancos em cobrar uma "comissão de levantamento" e por se ter de preencher uma declaração justificativa para a operação.
Entretanto, o sistema de multibanco já alterou discretamente o limite de levantamento por máquina de multibanco para 200,00 €.
Caro João,
Desculpe por não começar o meu comentário com a resposta mas com um pequeno àparte:
Hoje quando acordei liguei a televisão, como faço habitualmente. E como sempre escolho a CNN para ficar ao corrente do que se passa no mundo.
Todos os dias a CNN traz-me mais uma noticia bombastica e hoje não foi excepção: O mundo financeiro estava em colapso. Não é uma grande noticia, já me habituei a estes colapsos. No entanto não foi isso que me fez escrever, foi antes o que um analista (um market trader) estava insistentemente a dizer (independentemente da pergunta):
- "se o estado e os politicos continuarem a intervir nós não vamos comprar"
Ora esta frase explica mais sobre a crise do que qualquer outra análise.
Actualmente já não vivemos em crise financeira (essa está já a ser combatida), vivemos sim numa guerra aberta e acho que é importante começar a dar essa imagem. Aquela frase é uma declaração de guerra pura e simples entre os que não querem ser contraldos pelo estado (os traders e bancos de investimentos) e a sociedade.
Ora também é importante que estes "meninos" comecem a entender que não têm tanto poder assim:
- Primeiro porque a quantidade de acções transaccionada não representa a maioria do capital de uma empresa. E sendo a acção um bem, embora esteja a ser cotado em bolsa ela representa um X dos activos, passivos e resultados. Logo o importante é olharmos para as empresas em si;
- O poder reside nos politicos (no povo) ao contrário do que imaginam e se quiserem guerra, então que estejam preparados para a bomba atómica - as nacionalizações. Conjugadas com captura de riqueza pelo estado, ou seja expropriações sem contrapartidas.
Se analisarmos bem esta crise verificamos uma coisa:
- Nada de anormal aconteceu que justifique a quebra em termos de produção. Não existiu nenhum cataclismo, não existe nenhuma guerra fisica, nem sequer existe uma epidemia que justifique a quebra de produção ou de procura.
Se forem a reparar a unica justificação para a quebra de procura é a falta de liquidez e de "dinheiro".
Ora é neste ponto que passo a linkar com a nossa discussão:
- é que se estivessemos num sistema de horas em vez de papel moeda verificariamos que actualmente não existe quase nada que justificasse esta crise, nem a procura diminuiria, mantemos a nossa capacidade de absorção da produção (talvez com ajustamentos no produto).
- o "quase" é porque existem dois problemas que temos que resolver, esses sim dificeis de ultrapassar - a energia e os alimentos.
Agora as respostas directas:
"Ou porque que é que acha que nunca podemos levantar todos o nosso dinheiro?"
Julgava que era porque ele andava em circulação.
"Esta crise é o exemplo acabado dessa diferença, é que os bens associados, normalmente casas, são reclamados quando as pessoas não pagam, normalmente quando começa a haver muita gente a não pagar é porque não conseguem mesmo."
Mas os bancos poderiam ter criado empresas que rentabilizassem esses bens em vez de os despesarem no mercado com a consequente quebra de valor e mais importante de liquidez.
Outra estupidez dos bancos (e foi muito pior nos USA que em Portugal), foi a penalização das taxas de juros quando as pessoas deixavam de ter capacidade de pagar. pegando no exemplo português, quando fui à procura de empréstimo muitas vezes ultrapassava a taxa de esforço e o que é que me propunha? Credito de habitação até à taxa de esforço e o resto em crédito pessoal. Ora isto era completamente estupido! Primeiro porque a taxa de esforço existe por algum motivo, depois porque se baixassem o spread eu já ficaria abaixo da taxa de esforço.
"A questão é que alavancagem tem sérias contrapartidas, ela não resolve o problema, disfarça-o e exponencia-o."
A visão da alavancagem também não é só negativa ela também permite que existam recursos para criar bens e serviços que de outra maneira não teriam recursos suficiente para sequer existir (na optica da sociedade capitalista).
Ou seja é um mecanismo que se não for abusado é muito benéfico para a sociedade. A minha duvida é como traduzir esse instrumento para um novo sistema (pode ser pelo estado, mas o melhor era arranjar mesmo mecanismos "naturais") de sociedade?
P.S. desculpa pelo àparte e pelo comentário longo...
"(na optica da sociedade capitalista)."
Mudemos a óptica.
:-)
"Mudemos a óptica."
Pois essa é a grande dificuldade.
Mesmo mudando de optica não se pode terminar o crédito. Como se resolve a questão do crédito numa optica não capitalista?
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