segunda-feira, 5 de junho de 2023

Weber

Na esteira da economia política institucionalista de John Kenneth Galbraith, Isabella Weber teve a ousadia de defender, em artigo no The Guardian de dezembro 2021, o controlo estratégico de preços, como uma das medidas para atenuar a inflação sem causar desemprego. 

Esta economista sinóloga escreveu uma tese de doutoramento, publicada em livro, que se debruçou sobre os debates e precedentes históricos por detrás da sábia gestão de preços na transição chinesa da década de 1980, que permitiu evitar terapias de choque em modo Consenso de Washington. Toda uma tradição de economia para momentos turbulentos.

Defender o controlo de preços é a maior heresia para a sabedoria convencional. Weber desencadeou uma verdadeira “tempestade de trampa”, para traduzir as suas palavras. 

Foi insultada e ameaçada, num padrão típico da mais tóxica e ideologicamente enviesada ciência social. Paul Krugman, depois de a ter insultado, teve a rara honra de pedir desculpa, acabando a defender uma posição semelhante à dela, mas sem a referir, claro. Não foi caso único, longe disso. 

Esta economista tornou-se mais influente, entretanto. O liberal The Guardian acabou a defender a sua posição, em editorial na semana passada. A vantagem de Weber já tinha sido antecipada por Galbraith: os factos derrotam intelectualmente a sabedoria convencional, se bem que não necessariamente do ponto de vista político, acrescento.

Adenda. Na esteira de Weber, leiam os textos de Vicente Ferreira e de Pedro Pratas sobre o controlo de preços.

1 comentário:

TINA's Nemesis disse...

"Em 20 anos, salários de mil euros perderam 42% de poder de compra"

https://www.dn.pt/dinheiro/em-20-anos-salarios-de-mil-euros-perderam-42-de-poder-de-compra-16476824.html

Um artigo a referir a desgraça em que se tornou este país mas sem se referir à integração europeia e Euro...
A comunicação social tem que, de vez em quando, falar do mal mas está proibida de apontar o dedo a quem causou (causa) o mal.
A Troika aconteceu e pronto, esqueçam lá o facto de políticos, comentadores, capitalistas, FMI, Comissão Europeia e BCE a terem desejado!