sexta-feira, 23 de junho de 2023

Tal John, tal James


Em momentos de perturbação e de disrupção, o aumento das margens protege contra a incerteza nos custos, gerando-se um contexto em que as empresas procuram obter o que conseguem, enquanto conseguem. Daí resulta uma dinâmica de aumentos de preços e custos, e de novo aumento de preços, ficando os salários sempre para trás. 

James Kenneth Galbraith sobre inflação e controlos de preços. 

James Kenneth Galbraith é filho de John Kenneth Galbraith (1908-2006) e continua na grande tradição institucionalista-keynesiana do pai, com enfoque na análise das desigualdades e, mais recentemente, na teoria monetária moderna. Foi, com Stephanie Kelton, o primeiro a defender as propostas de controlo de preços, feitas por Isabella Weber, contra os ataques ignorantes e preconceituosos de que foi alvo. 

Em 2008, publicou o livro The Predator State sobre a economia política e a política económica norte-americanas. É, na minha opinião, o seu melhor trabalho. Aí argumenta que o projeto republicano desde Reagan sempre passou pelo uso do Estado para favorecer uma redistribuição de recursos de baixo para cima, usando essa “instituição vaporosa” chamada mercado, ditos livre, como alibi. É assim que se faz no neoliberalismo realmente existente.

Desta forma, e só para dar um exemplo, os significativos cortes nas taxas de imposto dos mais ricos, realizados por Reagan, combinados com aumentos brutais da despesa pública a favor do capitalismo de guerra e securitário, geraram défices orçamentais recorde nos EUA. Estes, por sua vez, geraram um estímulo, que contribuiu decisivamente para a expansão económica. A crise do início dos anos oitenta, de resto causada pelas subidas das taxas de juro decididas por Volcker (nomeado por Carter), foi assim superada – “foi uma forma de keynesianismo conservador, que dissolveu o obstáculo histórico ao keynesianismo: a oposição truculenta dos mais ricos”. 

Não há melhor do que isto na economia política e na política económica, sabiamente combinadas.

1 comentário:

Jose disse...

Vamos a contas:
Seguro e certo é que os aumentos nos rendimentos até um certo valor têm por destino seguro o consumo.
Todo o direcionamento em percentagem significativa de aumento de rendimento para investimento, vulgo acumulação de capital, ocorre nos mais elevados rendimentos, sejam de particulares seja do Estado, se este não for do tipo esmoler, comprador de votos ou puramente corrupto.

Porque nunca por aqui vejo tão rigorosos analistas avaliar o que o estado português faz com tão elevada percentagem do produto nacional?
Onde a definição dos objectivos que consomem o produto, onde a medida dos resultados alcançados?